As mulheres que estão puxando a fila
Líderes de agências de publicidade falam sobre o desafio de liderar operações e revelam os desejos por um futuro com mais mulheres em cargos de comando
Líderes de agências de publicidade falam sobre o desafio de liderar operações e revelam os desejos por um futuro com mais mulheres em cargos de comando
Bárbara Sacchitiello
8 de março de 2016 - 8h00
No início deste ano, o Meio & Mensagem colocou a questão da busca pela igualdade entre os gêneros na lista de temas que deverão pautar as ações e ganhar a atenção da indústria da comunicação neste e nos próximos anos. Na ocasião, entre diversos exemplos e dados que mostravam o quão desigual ainda é a posição de homens e mulheres no mercado de trabalho, a reportagem abordou a dificuldade da ala feminina em alcançar cargos de liderança.
Por ocasião da celebração do Dia Internacional da Mulher, Meio & Mensagem decidiu voltar ao tema – desta vez, dando voz à líderes que conseguiram transpor barreiras culturais, pessoais e sociais até alcançar a primeira cadeira das agências de publicidade.
Essas líderes se veem como prova de que o mundo dos negócios caminha para uma transformação. E junto com a esperança de um futuro menos desigual, elas também compartilham a responsabilidade de quem chegou ao topo e, agora, tem obrigação de ajudar a puxar a fila.
Confira alguns depoimentos de algumas das principais líderes do mercado de comunicação que, de certa forma, representam grande parte da força de trabalho feminina que tenta tornar a balança dos negócios mais equilibrada:
Claudia Colaferro, CEO da Dentsu Aegis Network na América Latina
“Sabemos que a diversidade gera riqueza e, atualmente, aumentar o número de mulheres se tornou obrigação de qualquer gestão. Venho de uma família de mulheres fortes, então sempre foi natural para mim trabalhar muito para conquistar as coisas. Mas quando comecei a ver muitas pessoas perguntando como cheguei à minha posição, noto que realmente sou exceção. “Somos de um País mais jovem, de uma civilização que ainda espera e cobra muito das mulheres”.
Gal Barradas, copresidente da BETC
“ Por muitas vezes, ouvi de colegas com quem trabalhei comentários do tipo: ‘A Gal é praticamente um homem’. Dava risada e nunca me senti desconfortável em trabalhar em meio a tantos homens, provavelmente pela cultura das empresas em que trabalhei. Mas essa análise é minha, que tenho uma condição privilegiada. Quando passei a pesquisar sobre o assunto e frequentar grupos de discussão sobre mulheres, foi como descortinar um universo. A realidade das mulheres, sobretudo as de classe mais baixa, ainda é de muita desigualdade e opressão.”
Ana Couto, presidente da Ana Couto Branding
“É frequente que, em muitas reuniões, eu seja a única mulher presente no grupo. No início, não reparava nessa questão. Mas agora, 22 anos depois, vejo que era inocente. Apesar de ter muita experiência e conhecimento de mercado, já me senti desrespeitada. Uma vez, estava fazendo uma apresentação para 20 homens e o CEO da empresa começou a me chamar de ‘tia’. Parei e, calmamente, disse a ele que apenas quando ele parasse de me chamar de tia, ele estaria me respeitando como profissional.”
Marcia Esteves, chief operating officer (COO) da Grey
“Internamente, acho o máximo dividir a liderança da empresa com dois homens, pois essa diferença de ideias é ótimo. Mas o mercado ainda conserva estereótipos. Além de mulher, ainda tem a questão da idade, que faz com que, em algumas situações, minha palavra e ação tenham de ser testadas infinitamente. Evoluímos ao mesmo passo em que as famílias estão se transformando. Cabe agora a nós, mulheres e mães, criarmos nossos filhos para um mundo mais igualitário, onde a parceria de gênero exista e não mais a subordinação, que dominou até agora.”
Camila Costa, sócia e CEO da ID
“Muitas pessoas me dizem: ‘nossa, você é tão jovem e tão delicada para estar em uma posição dessas.’ Não verbalizam a questão do gênero, mas ela está implícita alí. Mas sinto orgulho de ser uma exceção, de ver que é possível estar em meio a tantos líderes homens. Mas é óbvio que queria ver mais mulheres em altas posições. Quem está contratando precisa entender que é importante reconhecer as diferenças e dar condições para que homens e mulheres tenham condições iguais de competir no ambiente de trabalho.”
Fabiana Schaeffer, sócia-diretora da Netza
“A questão da desigualdade passa pelo problema da educação. Entre as mulheres mais escolarizadas, essa diferença no mercado de trabalho é menor. Mas quando temos investimentos restritos em educação, as mulheres acabam forçadas a seguir profissões e ocupações que não fazem pleno uso de suas capacidades. O Brasil ainda caminha a passos lentos na promoção da mulher no mercado de trabalho. A igualdade de gênero representa uma economia inteligente em qualquer indústria, podendo aumentar a eficiência e melhorar os resultados de desenvolvimento”
Karina Ribeiro, diretora-geral da David
“É inegável que os homens saíram na frente no mercado publicitário global. Mas, considerando isso, é possível afirmar que a ascensão da mulher a postos mais importantes é uma crescente realidade. Por muito tempo as mulheres acabaram mimetizando os homens, tentando se igualar a eles no comportamento, quando o mais interessante da construção dessa nova liderança é perguntar: o que eu agrego à empresa e ao mercado por ser mulher? Tenho certeza que minha filha, no futuro, encontrará um caminho bem melhor, assim como nós encontramos por conta das muitas mulheres que vieram antes.”
Alice Coutinho, copresidente da NewStyle
“As mulheres que estão em posição de destaque estão bem ativas para fazer essas mudanças acontecerem. Não podemos desanimar diante do cenário e temos que continuar firmes nessa evolução. Dediquei 60% do meu tempo no ano passado nas propostas do grupo Mulheres do Brasil. Criamos um projeto de lei, que pretendemos apresentar ao Congresso, que prevê uma cota mínima de 20% de presença de mulheres nos Conselhos das empresas. Com isso, queremos estimular a contratação e a promoção de executivas, porque, para chegar ao conselho, a mulher precisa ser, no mínimo, diretora.”
Cintia Gonçalves, sócia e diretora de planejamento e operações da AlmapBBDO
“Na agência, somos três sócios e quanto mais somarmos nossas diferenças, mais interessante será o resultado final. Nosso mercado é nervoso e exige disponibilidade, tempo e energia. Pessoalmente, ter como parceiro alguém que está um passo à frente nisso faz toda a diferença. Em casa, nossas tarefas não são fixas e nem pré-determinadas. Não conheço outro jeito de ter uma carreira bem sucedida se não amar aquilo que faz. São muitas horas dedicadas, então precisam ser horas que se transformem em momentos compensadores. Como digo todos os dias à minha filha: ‘a mamãe vai trabalhar não só porque precisa, mas porque gosta’.”
Maria Laura Nicotero, presidente da Momentum
“A mulher tende a ter um olhar mais colaborativo, a estimular a participação de todos e querer que outras pessoas brilhem com ele. Quando trouxe ao Brasil a plataforma Women to Watch, há quatro anos a ideia era destacar as executivas que estão contribuindo para essa evolução. Ao mostrar mulheres que estão abrindo fronteiras e quebrando paradigmas, estamos motivando várias companhias a reverem a questão do gênero e darem novos passos. Mas ainda é preciso uma grande evolução e muito respeito às mulheres. Inclusive com aquelas que não tem pretensões de conquistarem grandes cargos e posições.”
Vivian Ferraz, CEO da Havas Rio de Janeiro
“Acredito que se a indústria da comunicação desse o exemplo, colocando mais mulheres para liderar as empresas, os resultados positivos da gestão feminina incentivariam outros setores. Mas o mercado ainda é muito desigual. Você olha ao redor e ainda não vê quase nenhuma mulher no comando. Isso já deveria ter evoluído pois as condições de administrar bem uma empresa e uma equipe independem do fato do líder ser um homem ou uma mulher.”
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