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Comunicação

O mercado publicitário e a imigração nos EUA

PJ Pereira defende engajamento no debate sobre a política de imigração dos Estados Unidos


4 de junho de 2013 - 2h28

por PJ Pereira, para o Advertising Age

Como seria o mercado publicitário norte-americano sem pessoas como Linus Karlsson, Nick Law, David Droga, Rei Inamoto ou Jose Molla? No momento em que os Estados Unidos discutem suas políticas de imigração, sua indústria da propaganda deveria se orgulhar do fato de que vem, durante décadas, trazendo o mundo para o seu quintal.

E se grande parte da discussão em torno desse tema acaba em proteção das fronteiras, baixos salários para imigrantes e anistia para ilegais, o problema também influencia o quão abertos estamos para trazer acadêmicos altamente qualificados e profissionais que não podem ser encontrados por aqui. O Vale do Silício, em particular, tem lutado durante anos por melhores caminhos para atrair grandes mentes, mas elas são sempre deixadas para trás.

Bom, nós podemos ajudar. Mas não com uma campanha. Podemos ser o exemplo.

Com suas habilidades para atrair talentos globais, as realizações do mercado publicitário estão na frente da maioria das indústrias. Embora seja importante notar que isso aconteceu parcialmente devido a uma vantagem bastante peculiar que temos. Quando imigrei do Brasil para trabalhar nos Estados Unidos, meu primeiro visto era do tipo “O1”. Com isso, todo oficial da imigração que conheci me perguntava por que eu era tão especial. O1 era um tipo de visto originalmente criado para ganhadores do Prêmio Nobel, atletas olímpicos e outros super-humanos, como um oficial uma vez me explicou. Acontece que por nossa indústria ter premiações internacionais, é mais fácil para nós do que para outras áreas oferecer as provas necessárias para receber este prestigioso código; um visto cujo valor é difícil de provar, mas que se torna rápido e indolor uma vez que você o faz.

O mundo publicitário se aproveitou dessa oportunidade, como deveríamos. Com o O1, ficou mais fácil seguir quem estava fazendo um bom trabalho no exterior e os atrair para o maior e mais poderoso mercado do mundo. E essa é a razão por estarmos na frente dos outros segmentos. Nossa vantagem não é baseada em qualquer tipo de superioridade moral, gosto mundial ou visão, mas sim em uma embaçada abertura do sistema que nos permite usar um mecanismo criado para cientistas brilhantes e grandes atletas.

Em outras áreas que não têm o mesmo tipo de evidências que premiações fornecem à nossa indústria, a restrição para receber estrangeiros se tornou tão assustadora que na maioria das vezes requer muito trabalho, e risco. Mas pelo fato das coisas serem mais fáceis para nós, temos assegurado que a América do Norte continue consistentemente entre os líderes do nosso setor. E esta é uma postura muito oportuna e valiosa! A indústria publicitária norte-americana é a prova de que facilitar o acesso a grandes talentos nos fará mais competitivos. É esta facilidade, e este impacto, que devemos realçar e demonstrar. Nossa história é a prova de como deixar os processos imigratórios mais fáceis é melhor para a nação como um todo. Ponto.

O mercado publicitário pode dizer confidentemente que é bom em trazer estrangeiros para as empresas. Entretanto, deveria fazer um barulho maior a respeito disso para ressaltar a importância em deixar as coisas mais fáceis.

Ao mesmo tempo, não devemos parar nossas conquistas e somente trabalhar com o que já foi tentado e testado. E não devemos importar somente as melhores e mais brilhantes mentes. É imperativo para nós treinar novos talentos também. E é francamente assustador o quão pouco isso tem acontecido.

Alguns anos atrás, contei a alguns colegas que estava planejando contratar três jovens recém-formados para trabalhar com um grande cliente. Um deles gritou para mim: “Você quer contratar esses novatos para trabalhar em uma conta milionária? De jeito nenhum! Deixa aprenderem sua profissão em outro lugar, e depois podem vir para cá, depois de estarem 3, 5 anos no mercado”. Outro se junto a ele: “Eu vi o portfólio deles. Não são profissionais o suficiente para trabalhar aqui. Deixa aprenderem primeiro para depois os usarmos em alguma coisa”. Por sorte, meu chefe tinha a mente mais aberta e me deu todo o apoio, pois ele também acreditava que alguém tinha que ajudar essas pessoas a começar. Seis meses depois, esses “garotos” de 26 anos estavam arrebentando, fazendo um trabalho incrível, crescendo aquela conta e ganhando prêmios. E os dois caras vieram se desculpar.

Quando nos acostumamos a olhar para o exterior por talento comprovado, criamos um padrão de ir pelas apostas garantidas, ao invés de investir nas novas e ligeiramente arriscadas. Então, enquanto apreciamos nossa própria modernidade como recrutadores globais, também devemos nos envergonhar de abastecer exatamente o lado oposto do problema.

Ao invés de cegamente tomar partidos, nosso mercado tem um trabalho a fazer em ambos os lados da batalha entre “vamos-trazer-os-gênios-que-criarão-mais-campanhas” e “vamos-empregar-os-americanos-que-realmente-precisam-destes-empregos”. Estamos nos esquivando da responsabilidade se não posicionarmos nossa indústria como um exemplo de como um processo mais fácil de trazer talentos globais nos torna mais competitivos como nação. Mas negar como temos sido preguiçosos com os recém-formados pode ser pior – pode ser imoral.

PJ Pereira é co-fundador e chief creative officer da agência Pereira & O’Dell em São Francisco, nos Estados Unidos 

Tradução: Aline Rocha

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