Acho que foi um clique

Meio & Mensagem
18 de junho de 2013 - 4h26

– Tá aqui, ó. Você clica na imagem em seu computador, tablet, qualquer aparelho clicável, e ele solta gases.
– Gases… hmmm… Mas que tipo de gases?
– Bem parecidos com os intestinais. Nem um gastroenterologista saberia a diferença.
– Entendo. Com cheiro, barulho…
– Pacote completo. De repente, dá até pra fazer uns ringtones.
– Que coisa, rapaz!
– Tecnologia, brother. U-hu!
– E como esse feature se encaixa na comunicação do nosso shampoo?
– Como assim? Tô estranhando esse teu pensamentozinho dentro da caixa, old advertising. Tá vendo muito Mad Men, né não?
– Desculpe, é que bateu uma curiosidade…
– Esse é o ponto, manezão! Curiosidade, inovação. Nosso shampoo vai ser percebido como o mais updated, hi-tech, vanguardista do mercado. Vai atrair um monte de curiosos, render falação, prêmios…
– Demais, demais! Só queria saber se você continuava enxergando o quadro, ligado na estratégia, sacou? Rá!, precisava ver tua cara acreditando que a minha pergunta era pra valer.
– Pô, me pegou, moleque. Então, agora é partir pra produção rapidinho, bater pra imprensa, viralizar geral.
– E o cliente?
– A gente vai falando com ele enquanto pisa fundo. Cannes tá aí, queridão. Os caras vivem doidos pra encontrar alguma novidade. E a novidade este ano é nóis. Ninguém segura.
– Tá certo. Já pensou se essa tecnologia cai na mão de um Luftal da vida?
– Não quero nem pensar. Vamos de shampoo, pras cabeças, voando. Et vive la Croisette!
– Depois te falo do anúncio que faz cócegas. Tecnologia japonesa zerada.
– Pra que produto?
– Ihhhhh, lá vem você com essa pegadinha de novo?

Adilson Xavier é escritor e publicitário