Algo (fora do) ritmo

Meio & Mensagem
29 de abril de 2014 - 4h51

Por Adilson Xavier (*)

De uns tempos pra cá, só se fala nele. Culpa do Google que o cercou de mistério, dando-lhe poderes especiais pra decidir o que vem primeiro nas buscas que fazemos. E também do Facebook, do Twitter, do Instagram, dessa turma toda que de alguma forma confia no danado pra adivinhar quem somos, o que buscamos ou sobre o quê conversamos.

Trapizongas matematecnológicas estão montadas pra deduzir que produtos queremos, que livros leremos, que músicas gostamos de ouvir, onde estamos dispostos a gastar nosso dinheiro. Aí a publicitária que procura informação sobre absorventes femininos pra fazer uma campanha, começa a receber ofertas imperdíveis de Sempre Livre e ser assediada por mensagens de O.B. O escritor que pesquisa marcas de automóveis pra desenvolver sua trama, transforma-se num potencial comprador de carros a ser perseguido. O estudante que busca cidades litorâneas para ilustrar seu trabalho de geografia começa a ser bombardeado por convites de hotéis, companhias aéreas e pacotes turísticos em geral.

Dono de insensibilidade crônica, o algoritmo não tem a menor vocação pra executar a tarefa que lhe deram. Mantém um certo ritmo, mas falta-lhe algo (desculpe o tracadilho), de sensibilidade, alma, jogo de cintura. A culpa não é dele. É um pouco nossa, e um muito de quem decidiu programá-lo com expectativas além da sua capacidade de entrega.

O mundo do big data se overmatematizou. Passou a acreditar que tudo é quantificável, previsível, mensurável, controlável. Deslumbrou-se tanto com as possibilidades da tecnologia que está perdendo o rumo. Enfiou-se com tanta euforia em pequenas fórmulas que está ficando chato.
 

* Adilson Xavier, escritor e publicitário