Grana X Amor
Tem gente que acha que o presente ideal seria aquele que compraríamos para nós mesmos
Tem gente que acha que o presente ideal seria aquele que compraríamos para nós mesmos
Meio & Mensagem
3 de dezembro de 2014 - 3h54
Li no excelente livro “O que o dinheiro não compra”, de Michael J. Sandel, que quando ganhamos um presente, atribuímos a ele, segundo uma pesquisa, 20% menos valor por cada real ou dólar gasto do que se nós o tivéssemos comprado. Isso sem levar em conta as diferenças de padrão estético de quem comprou e ganhou.
Se, segundo o livro, nos Estados Unidos são gastos 65 bilhões de dólares nas festas de fim de ano, chegamos a conclusão de que temos 13 bilhões a menos de satisfação do que se gastássemos esse dinheiro com presentes comprados por nós mesmos. Daí ter surgido, de uns tempos para cá, a brincadeira, durante as festas, de poder fazer o sorteio (amigo ladrão) e roubar o presente que está na mão do colega ao lado.
Mas e se déssemos dinheiro em vez de um presente, que na maior parte das vezes erramos ao escolher e que será trocado por quem o ganhou?
Gregory Mankiw, em seu manual de economia, observa que presentear é um estranho hábito, mas além do valor monetário, é uma forma de “sinalizar” um sentimento. Além do valor material, carrega o significado de amor, gratidão ou amizade.
Sim, não é fácil acertar. Vejam esse comercial da Mulberry:
Por isso, na cultura japonesa, ao receber um presente não se deve abri-lo imediatamente. É antiético, deselegante. O presente deve ser aceito com alegria e aberto só muito depois. Abri-lo no ato sinalizaria uma intenção interesseira material pelo valor do que está dentro, e não sentimental, de gratidão pelo gesto.
Por isso, “dar dinheiro em vez de um presente escolhido com cuidado a um amigo, amante ou cônjuge é transmitir uma certa indiferença e desconsideração”, diz o livro.
A mesma situação vale para o vale-presente: pronto, toma isso e compra o que você quiser e não me dê trabalho. “O economista em mim diz que o melhor presente é dinheiro”, diz Alex Tabarrok, economista e blogueiro. “Mas o resto de mim não aceita”, completa.
Tem gente que acha que o presente ideal seria aquele que compraríamos para nós mesmos. Por exemplo: suponha que você ganhe mil reais e compre 4 pneus para o seu carro. Será que sua namorada ficaria feliz em ganhar quatro pneus no aniversário dela? Na maioria dos casos, assinala Tabarrock, as pessoas gostariam que nós déssemos algo que não compraríamos para nós mesmos. Pelo menos, das pessoas mais íntimas, preferiríamos receber algo que fale “ao eu selvagem, ao eu romântico, ao eu apaixonado".
Isso me lembra a cena hilária de Mr. Bean presenteando sua namorada com uma caixinha. Ao abri-la, ela, emocionada, vê uma argola metálica que parecia ser uma aliança. Meio sem graça, ouve Bean explicar que é uma útil argolinha para pendurar quadros na parede.
Aqui vai a sugestão: se você tiver um (a) amigo (a), namorado (a) ou marido marqueteiro ou diretor de criação fazendo aniversário, presenteie com “O que o dinheiro não compra".
A propaganda brasileira agradece. (Eu ganhei da Joana – Arquiteta. Obrigado, filha.)
* Julio Xavier, diretor de cena da BossaNovaFilms.
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