Meio & Mensagem
8 de maio de 2013 - 2h17
Nelson Rodrigues e Nizan Guanaes têm algumas coisas em comum.
Os dois grandes fãs do Brasil, entendedores da alma humana no que diz respeito ao que as pessoas gostam de ver, ler, assistir. Nelson identificava o "Complexo de Vira-latas", aquele que leva o brasileiro a se desvalorizar. Nizan, entrega o oposto disso na plenitude conquistadora de seu grupo e a vontade de colocar o país no palco global cada vez mais.
Em sua Coluna na Folha, Nizan Guanaes colocou "Precisa-se de Roteiristas" como título, citando a nova lei da TV, que abrirá oportunidades para termos um volume maior de conteúdos (séries etc) e dizendo que a falta de roteiristas é uma boa notícia. Ele ressalta que essa é a oportunidade para colocar os valores brasileiros no mundo. E nos pede para imaginar James Bond tomando caipirinha ao invés do Martini (apesar da Heineken ter sido mais rápida).
Isso é verdade. Mas o buraco é bem mais embaixo. E aí, que Nelson Rodrigues pode servir de inspiração.
"O brasileiro não está preparado para ser ‘o maior do mundo’ em coisa nenhuma. Ser ‘o maior do mundo’ em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade." Disse Nelson Rodrigues
A falta de roteiristas (de TV e Cinema) precisa mais do que as oportunidades que a nova lei coloca. Precisa existir investimento privado e público na formação da nova leva de contadores de histórias. Precisamos entender que oferta e demanda, sem investimento e educação, viram palavras soltas.
Por que?
Do ponto de vista do mercado como está agora, a nossa "indústria cultural de escala" é focada em novelas. Longas, peças, musicais e livros pegam uma pequena porcentagem disso.
Se pegarmos todos os canais que produzem/exibem novelas, chegamos a 1500 capítulos ao ano.
Hoje, quem gostaria de ser roteirista tem um árduo caminho pela frente: faz cinema ou comunicação, vira publicitário, diretor ou roteirista de de cinema, escritor de peça e se passar no duro funil das oficinas dos canais de TV, vira escritor de novela. Escrever novela é diferente de série, é diferente de escrever para a TV a cabo.
Os americanos foram espertos. Criaram métodos e processos de como construir roteiros, formar roteiristas, criaram formatos e modelos que funcionam localmente ou globalmente. Assim como os ingleses com sua fábrica de desenvolver formatos que viajam.
Hoje os países liderando em desenvolvimento de séries e formatos? Israel e Islândia. Sim, Islândia. E ambos não têm a pujança do Brasil e nem o volume de canais para comprar conteúdo. Mas eles têm roteiristas em peso, métodos e processos.
Nizan fala do "jeitinho brasileiro" se tornando "Brazilian way" e viajando o mundo com nossos valores. Mas, por enquanto, sem métodos e processos de criação em audiovisual, nós continuaremos sendo a cultura do atalho. Nosso jeitinho de pular do passo 3 para o 10; comer a sobremesa antes dos legumes, brincar na rua antes de fazer o dever de casa.
Ícone da geração "faça você mesmo", o Porta dos Fundos tem um vídeo emblemático sobre isso. Trata-se do video "Corte de Gastos", em que produtores discutem o que é importante ou não para fazer conteúdo. Vá lá ver o que acontece quando você tira o roteirista…
Trabalhando com Hollywood há cinco anos, vejo que os americanos não tem 1/3 da nossa criatividade malemolente, mas compensam isso fazendo framework para tudo: de roteiro, a game, a app de Iphone a estratégia de lançamento de série.
Pois sabem que para seduzir (ou dominar) o mundo, não basta ter curvas e ginga, você precisa contar bem a sua história, passo-a-passo.
Para termos uma nova geração de contadores de histórias não podemos contar apenas como os talentos que sobrevivem às dificuldades que se enfrenta no mercado brasileiro.
Precisamos localizar potenciais novos contadores de histórias entre os milhões de brasileiros jovens que têm insuficiente acesso ao acervo cultural que forma roteiristas. Esses jovens que estão num sistema escolar com graves problemas são os que estão mais próximos da Vida como ela é. Eles vivem, observam histórias de conteúdo rico, mas as desigualdades sociais brasileiras fazem com que a profissão roteirista nem seja cogitada por esse pessoal.
Não dá para tapar o sol com o peneira.
Precisamos de engenheiros? Temos que formar.
Precisamos de roteiristas? Precisamos ir além da via crucis que o talento enfrenta no Brasil.
Precisamos de investimento na localização de talentos para contar histórias e, depois, precisamos formar esses talentos.
Maurício Mota é chief storytelling officer e co-fundador da The Alchemists
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