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Porto Digital: empreendedorismo movido a Maracatu

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Ponto de vista

Porto Digital: empreendedorismo movido a Maracatu

Polo abre suas asas e alça voo impulsionado por uma cultura inclusiva, que fomenta e dá oportunidade a todos que tenham aquele brilho nos olhos de quem sonha em prosperar e tornar real sua ideia de negócios, e a competência e a coragem para empreender


19 de agosto de 2015 - 3h23

Semana passada, tive a oportunidade, juntamente com meu sócio Marcelo Reis, de conhecer de perto o maravilhoso trabalho que está sendo feito no Porto Digital de Recife.

Para quem não conhece sua história, o Porto Digital existe há mais de 15 anos, e hoje abriga e fomenta o desenvolvimento de mais de 250 empresas em diferentes níveis de desenvolvimento, em um distrito de uma área de recuperação urbana na cidade de Recife.

Desde o convite feito pelo amigo e parceiro de longa data Teco (Fernando) Sodré, sócio da consultoria de inovação Sodet, entre outros empreendimentos, eu já sabia que essa visita não poderia resultar em algo muito diferente do que virar nossa cabeça do avesso. Especialidade do Teco de outros tempos distantes.
 

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Durante o voo rumo a Recife, uma primeira feliz coincidência: selecionei para leitura a edição da semana passada da The Economist, que trazia como reportagem de capa “Empire of the geeks” (foto), um balanço da condição atual do polo empreendedor similar – o Vale do Silício na Califórnia –, a meca das empresas nascidas na “nova economia”. Gigantes consolidados como Apple, Intel, Google, Facebook e mais recentemente outras chamadas de “unicórnios”, empresas com menos de 7 anos de vida, como a Uber ou Airbnb, avaliadas em cifras inimagináveis como US$ 41 bilhões e US$ 26 bilhões respectivamente.

A reportagem alertava sobre os riscos que o atual ponto de maturidade dessa região traz às empresas que ali estão, em função dos vultosos valores atribuídos a elas, e os consequentes aumentos significativos nos custos operacionais, como os salários dos talentos contratados, e até mesmo de um boom imobiliário pelo qual a região está passando nos dias de hoje.

Voltando ao Porto Digital, aqui em Recife, confesso que tive um dos dias mais inspiradores e otimistas neste duríssimo ano que estamos passando. Ali não ouvimos sequer uma vez a palavra “crise”. Entre uma visita e outra e a cada apresentação de empreendimentos em diversos níveis de desenvolvimento, a energia e o otimismo eram contagiantes. E as comparações com os dados da reportagem da The Economist, inevitáveis.

Enquanto o Vale do Silício passou a correr o risco de rejeição e crítica de opinião pública por certo elitismo e arrogância criados pelo isolamento e pela restrição de acesso a poucos e grandes investidores que fazem parte desse “seleto grupo de insiders”, o Porto Digital abre suas asas e alça voo impulsionado por uma cultura inclusiva e empreendedora, que fomenta e dá oportunidade a todos que tenham aquele brilho nos olhos de quem sonha em prosperar e tornar real sua ideia de negócios, e a competência e a coragem para empreender.

Foi o que vimos na rodada de apresentações de mais de 19 jovens empreendedores e seus negócios em ponto de aceleração graças a incubadoras que não ficam restritas à simpática ilha do Porto Digital, mas alcançam até os recônditos do interior de Pernambuco, em cidades como Caruaru e Petrolina, onde muita coisa bacana também está fervendo nesse setor, muito além das deliciosas festas juninas típicas da região.

Foram 19 apresentações de jovens empreendedores, que tinham apenas 1 minuto para apresentar sua ideia de negócios, num exercício muito bacana de síntese e paixão.

A energia é contagiante, ao escutar os desafios, tombos e vitórias de personagens como Matheus e sua Muma, uma plataforma de curadoria e e-commerce para designers de decoração e móveis em plena operação.

Ou do brilho nos olhos do João Henrique e do Felipe Almeida, sócios e criadores do Mundo Bita quando falam dos planos para o personagem Bita, e sua turma, sucesso já estourado em múltiplas plataformas de distribuição de conteúdo de entretenimento, de DVDs a uma linha de produtos licenciados direcionado à educação e ao entretenimento infantil.

Ou ainda das ambições do Rodrigo Cunha e sua Neurotech, um negócio de tracking de comportamento de consumo e crédito digital que já multiplicou seu faturamento em 10 vezes nos últimos 5 anos, e o tornou sócio de um grande player no setor de bureau de crédito no Brasil. A cada evolução bem-sucedida do modelo de seu negócio, Rodrigo depara-se com o mesmo paradigma: E agora? O que mais posso oferecer? Para onde caminhará o offering de meu negócio.

Além de uma enorme energia e vontade de “fazer-acontecer” seu negócio, todos esses empreendedores com quem tivemos a oportunidade de bater um papo buscam parceiros estratégicos e clientes que se interessem por suas ideias e o que eles têm a oferecer.

Aliás, é esse o tom das conversas, um ambiente profundamente colaborativo, onde uma start-up pode “acoplar-se” a outras, criando assim uma cadeia de valor e colaboração que apenas dá mais competitividade e dinamismo às dezenas de empreendimentos que estão brotando e proliferando no coração e no interior de Recife.

Ali, bem longe da pompa e circunstância do Vale do Silício, pulsa um belo exemplo de nova economia, em que o que há de mais moderno e interessante nessa nova economia não está calcado apenas na inteligência e nas sofisticadas tecnologias digitais que se desenvolvem ali na ilha, entre o Rio Capibaribe e o Oceano Atlântico, mas nas fluidas relações de empresários, investidores, empreendedores, tutores e educadores que criam e desenvolvem seus negócios à revelia de conceitos já meio batidos como hierarquia, escala e poder.

Obrigado, Teco, por abrir meus olhos e me inspirar sobre o que vem por aí! Aos novos amigos, empreendedores do Porto Digital, parabéns pelo belo exemplo, pela vontade de construir algo genuinamente novo e em linha com os novos tempos!

Marcello Magalhães é sócio e vice-presidente de planejamento da Leo Burnett Tailor Made
 

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