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Quanta falta de respeito, seu moço

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Ponto de vista

Quanta falta de respeito, seu moço


23 de janeiro de 2014 - 12h28

Não sei em qual momento que ALGUNS – e "alguns" é uma palavra importante para evitar generalismos desnecessários – caras de negócio, que por desventura do acaso também são feitos de carne e valores, começaram a "se importar" cada vez menos com motores importantes para suas metas de final de ano.

Na dianteira, foi com gente, gente que, inelutavelmente são como eles, na sequência, aproveitaram a oportunidade para colocar a gentileza, a transparência, a cordialidade e a ética que regiam o mundo dos negócios à base de pontapés pra fora das salas de reunião, sem direito, sequer, a recurso no Supremo Tribunal Federal.

O reflexo – e esse é o ponto – é que alguns deles estão transformando as relações comerciais entre, ditos, anteriormente, parceiros de negócios, ou aspirantes a, em algo totalmente antagônico ao significado da palavra parceria, partnership, seja ela proferida no idioma que for.

O clima anda próximo ao de um filme barra-pesada de gângsteres, temperado com adornos de suspense e reviravoltas maiores do que Khaled Hussein, de Caçador de Pipas e Lágrimas do Sol, é capaz de escrever ou descrever.

Só que isso tudo não é uma obra de ficção, e pessoas reais fazem parte dela.

Não há absolutamente nada de errado em tentar alcançar números dignos de capa da Forbes, talvez, na forma de tratar as pessoas e parceiros que estão por trás deles, os produzindo no dia a dia, doando o seu tempo para alcançar resultados de negócios, críveis ou não.

Yep! O mundo dos negócios requer que, a cada segundo, nos tornemos mais produtivos, mais competitivos, mais efetivos, que transformemos o dia que desde sempre teve 24 horas em um de 48, seja lá como for. Mas esse não é o grande problema; ao menos, não o maior deles.

Quem está no jogo, conhece, ou deveria, minimamente, saber suas regras e o senso de urgência necessário. E, se não compactua, poderia encontrar algo novo para jogar, e, se não souber, tentar encontrar a sua forma de ser sustentável dentro desse mais por menos.

Sei lá quem foi que disse que "ninguém faz nada sozinho". Isso, nos dias de hoje, cada vez mais é verdade: a complexidade anda tamanha de fazer com que pessoas se importem com produtos e mensagens relevantes, que quanto mais gente de perfis diferentes pensando e fazendo, melhor.

Mas elas precisam estar bem para isso.

E, se entrarmos nessa avalanche de tratar pessoas e parceiros que tanto fazem a diferença, meramente, como números, a recíproca pode ser a cortesia da casa. O funcionário pode olhar a empresa como alguém que somente lhe propõe uma cifra no final do mês, o parceiro, como alguém não confiável. Isso tende a funcionar no curto prazo; no longo, existe um artigo da Harvard Business School que aponta que não… talentos, inteligência e conhecimento vão para o ralo… tempo e dinheiro, também. É otimizar hoje e perder em dobro amanhã.

Mas, até ai, cada empresa tem a sua forma de fazer as coisas funcionarem ou não. Mas agora a porra toda começa a ficar absurdamente séria e sem sentido, quando a falta de respeito começa a reger e ser a única moeda corrente nessas relações.

Um bistrô na Riviera Francesa chamado Petite Syrah decidiu dar um basta na falta de respeito de sua clientela criando preços diferenciados, que decresciam de acordo com o nível de gentileza de cada um:

Um café: 7 €
Um café, por favor: 4,25 €
Bom dia, um café, por favor: 1,40 € 

No nosso mercado, concorrências e licitações são um prato cheio para a falta de respeito. Não há nada de errado na prática de processos legais e justos para escolher um parceiro, e sim, com a falta de respeito que anda conduzindo alguns deles. Sem transparência, clareza nos critérios de avaliação, sem “por favor”, “muito obrigado”.

É aquela falta de respeito marota, de abrir concorrência com prazos que nem o calendário Maia explica e demorar mais tempo para responder do que Camões levou para escrever Os Lusíadas, isso quando o Memorex não falta.

É aquela cancelada de concorrência supimpa, após diversas pessoas terem trabalhado em regime boliviano, investindo massa cefálica, sola de sapatos e saliva para colocar tudo em ponto de bala, e depois assistirem perplexas ao seu trabalho ser executado por outro alguém sem nem sequer ser avisado, quiçá remunerado.

É aquele sumiço mágico premeditado do budget que atraiu participantes para o processo seletivo e que, por sua vez, dimensionaram investimentos e esforços com base naquilo que era ofertado. Sim, imprevistos acontecem, mas existe diferença entre imprevisto e premeditado.

É aquele processo de seleção com mais participantes do que o Enem, ou aquele que diz que o único critério é a técnica, mas no final só quer discutir preço, ou, ainda, a licitação que ninguém conhece quem venceu, porque até ontem a vencedora nem existia. E por aí vai.

A falta de transparência é a musa inspiradora da falta de respeito.

Mas quase tudo hoje tende a ser justificado com "estamos buscando otimizar recursos, maximizar lucros". Porém, um estudo da Mckinsey, com mais de 2.400 empresas, mostra que a redução nos custos fixos melhora a lucratividade em 2,3%, e que um aumento de 1% no volume das vendas resulta em uma elevação de 3,3% nos lucros. Mas em nenhum momento ela atesta que a falta de respeito na escolha dos que colaboram com isso faça a diferença.

Me parece um contrassenso descartar o valor do respeito, transparência e clareza nas relações dos dias de hoje, onde tudo pode ser descoberto, conectado, relacionado, comentado e compartilhado.

O bistrô francês deu indícios de que com falta de respeito sempre vai custar mais caro. E, até onde sei, ninguém anda podendo esbanjar. 

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Thiago Nascimento é diretor de planejamento da NewStyle 

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