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Ponto de vista

We three

Por que nascemos e interpretamos a vida toda alguém que não somos?


28 de maio de 2015 - 2h13

Sempre que eu dirigia um ser humano que não fosse ator ou atriz, usava o seguinte artifício: lembrava para a pessoa que não era ela que estava ali e sim alguém que ela imitaria. Como quando a gente tenta arremedar de forma caricata ou pejorativa um amigo. Nessas horas, nunca somos tímidos. O método do Actors Studio, do Lee Strasberg, pede que o ator use sua experiência de vida pessoal nos exercícios de dramatização. Sempre deu certo. E continua dando.

Mas hoje penso diferente. Na realidade, sabemos que todos somos atores no palco da vida. Somente você sabe quem ou o que você é. Mas, então, por que nascemos e interpretamos a vida toda alguém que não somos? Pura vaidade, claro, mas isso é só parte do problema.

Acho que na realidade somos três partes. A parte visível, com um comportamento vaidoso, bonito e ético, na maior parte do tempo. O mocinho ou a mocinha da história. E a parte do lado de dentro, o que somos realmente, com todos os pecados e taras que escondemos. O bandido ou a bandida.

E para complicar, mais uma parte: o subconsciente ou inconsciente. A sombra da consciência, provavelmente a responsável por muitos destes aspectos canalhas. Como canta Paul McCartney na música We three: My Echo, My Shadow and Me.
 

Não sou psicólogo ou psiquiatra, mesmo assim consegui fazer, com bastante sucesso, com que meus atores, cachorrinhos, crianças e pessoas comuns, agissem como se fossem seres especiais.

Na série Mad Men (de Matthew Weiner), que encerrou sua última temporada, Don Draper, o gênio ícone da publicidade americana da década de 60, nasceu na zona e surrupiou o nome de outro. Literalmente um son of a bitch. O ator Jon Hamm levou tão a sério o papel que acabou se tornando alcoólatra. Precisou fazer rehab.

E a série do advogado Saul Goodman, Better Call Saul, então? Também um grande impostor. Qual o mais falso dos dois? O publicitário Don ou o advogado Saul?

E na vida real, todos não vivemos fazendo merchandising de nós mesmos? (Como eu, por exemplo, escrevendo artigos como este para vocês, hehe.)

Fala a verdade, a gente aprendeu a fingir desde que éramos macacos, não é mesmo?

Vendo Game of Thrones, que se passa na Idade Média, se tem a medida exata do embate entre nosso lado interior, animal, e o lado externo, fingido, racional e aristocrático, divididos e isolados por um grande muro.

Mas, uma hora, quando menos se espera, o bicho pega e a verdade aparece.

Portanto, fiquem espertos. Fujam da ira de um ser humano paciente.

Julio Xavier é diretor de cena da Bossa Nova Films
 

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