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O descrédito na mídia avança

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Blog do Pyr

O descrédito na mídia avança

Em um mundo hoje dividido no meio ideologicamente, os próprios órgãos de imprensa, a mídia, precisaram deixar claras suas posições e isso quebrou, de vez, a aura de isenção que, durante décadas, ainda acreditávamos existir


8 de setembro de 2021 - 6h00

(Crédito: Microgen/istock)

Por um momento, quando vimos a aceleração das fake news, o avanço do caos nas redes sociais, e descobrimos que o País estava dividido, nossos olhos se voltaram para os principais veículos de informação e de mídia do País em busca de um porto mais seguro para saber o que, de fato, estava acontecendo. Pois esse momento está passando, infelizmente. E a sensação de porto seguro se esvanece.

Dá para escrever um livro sobre isso. Aliás, tem um excelente, que toca no tema e que se chama Tempestade Perfeita, cuja coautoria fica por conta de vários jornalistas excepcionais, entre eles o Caio Túlio Costa, o Merval Pereira e o Pedro Bial. Cada coautor aborda um tema de porque o jornalismo está em crise e aquele que fala do meu ponto aqui é o Bial.

Para ele, como cheguei a defender em minha tese de universidade quando me formei em jornalismo há quase 45 anos, é que não existe jornalismo objetivo. Simples: a objetividade é uma quimera, porque todos temos nosso viés. Como pessoas, como profissionais de imprensa e, inevitavelmente, também os órgãos de informação nos quais trabalhamos. É uma armadilha da qual ninguém consegue escapar. Os empresários do setor, os profissionais e, claro, os leitores idem.

Isso foi piorando porque, em um mundo hoje dividido no meio ideologicamente, os próprios órgãos de imprensa, a mídia, precisaram deixar claras suas posições e isso quebrou, de vez, a aura de isenção que, durante décadas, ainda acreditávamos existir. Não existe mais.

Há institutos nos EUA que hoje analisam o desempenho de audiência e preferência do público leitor dos principais órgãos de mídia do País, dividindo-os claramente em direita, centro e esquerda. Sem medo e sem tapar sol com peneira. Aqui no Brasil daria perfeitamente para fazer o mesmo.

O reflexo disso é que agora, quando lemos um determinado veículo de informação, já sabemos que ele, de alguma forma, está alinhado com esta ou aquela vertente político-ideológica, e aí a ideia de que alguém, cuidadosamente e de forma isenta, buscou a informação para nós passa a ficar em cheque: será que aquilo que estamos lendo ali é aquilo mesmo?

Em excelente e profundo artigo sobre o tema, o site Intelligent Speculation, cujo nome deixa já claro de que se trata, mostra exatamente o que comento aqui, indo mais fundo em vários pontos de análise, além dos que já citei.

O título é “Media Distrust: Why it’s Increasing and What To Do” e aborda mais a mídia nos EUA, mas aqui acontece exatamente a mesma coisa.

 

(Crédito: Gallup/ Reprodução)

O gráfico mostra a queda na confiança. E ela vem aumentando.

Uma das soluções apontadas pelo site é … “o público precisa começar a exigir que as fontes de mídia existentes tomem medidas para remover o viés (bias no original)”. O que, num conto de fadas poderia até, de de fato, ser uma saída, mas que não real, não vai rolar.

O fato (… fato? O que é fato?) é que, agora, nós mesmos vamos ter que criar nossos critérios para julgar os critérios daqueles que, em algum momento, julgamos poder ser o aval de todos critérios. 

Não rola mais. Estamos sós, cada um de nós. E reféns de nós mesmos e de nossa consciência.

É duro ter que dizer isso. Mas é a mais pura verdade (já que estamos falando nela).

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