A China tem fome, e não é de soja ou carne
A presença dos chineses na CES é maior, principalmente em eventos paralelos, e eles mostram que têm pressa no desenvolvimento de tecnologias e no lançamento de startups promissoras
A presença dos chineses na CES é maior, principalmente em eventos paralelos, e eles mostram que têm pressa no desenvolvimento de tecnologias e no lançamento de startups promissoras
Luiz Gustavo Pacete
8 de janeiro de 2020 - 15h04
Na corrida pela inovação, os chineses têm pressa. E não foi nenhum executivo que disse isso. A velocidade com que startups e entidades empresarias chinesas estão organizando eventos e desenvolvendo parcerias na CES mostra isso. De acordo com o Wall Street Journal, a guerra comercial entre o governo americano e o chinês na CES resultou em um espaço 5% menor destinado aos chineses em relação ao ano passado. No total, 1097 empresas chinesas estão presentes no evento. Uma forma de compensar essa redução foi a realização de eventos paralelos, como o China Tech First Look 2020.
Patinetes inteligentes e que funcionam via comando de voz, óculos de realidade mista, luvas sensoriais. Mais de vinte startups participaram da iniciativa que envolvia também a apresentação dos projetos para eventuais investidores. Outra iniciativa chinesa de destaque na CES foi a vitória da empresa de tecnologia Haier do CES Tech Awards, premiação da CES das melhores soluções tecnológicas do ano. A empresa chinesa apresentou o refrigerador Casarte IoT com tecnologia de preservação de alimentos.
No início da semana, um levantamento da consultoria Hurun mostrou que a China já é o país com mais unicórnios do mundo, ou seja, startups avaliadas em US$ 1 bilhão. São 206 o número de empresas com esse perfil no mercado chinês, ante 203 dos Estados Unidos. Gustavo Hansel, investidor-anjo baseado no Vale do Silício explica alguns dos elementos que compõem a corrida pela inovação envolvendo China e Estados unidos e como isso se reflete no maior polo de inovação do mundo até então.
Meio & Mensagem – Por que a China se tornou protagonista nessa guerra pela inovação e como esse tema repercute no Vale do Silício?
Gustavo Hansel – Duas coisas tornaram a China um protagonista nesta guerra pela inovação. A primeira é toda a preparação e planejamento que as entidades governamentais chinesas vem aplicando e executando ao longos dos últimos 30 anos. Quem já foi para lá consegue perceber que para chegar onde eles estão hoje, muito sacrifício, planejamento e execução foram necessárias. Desde o investimento maciço em infraestrutura até um longo financiamento dos sistemas educacionais levando massas críticas de população a uma renda média que garante o consumismo. Em segundo lugar, o próprio tamanho do mercado. É muita gente concentrada sob a mesma bandeira, a mesma cultura, os mesmos hábitos. Lançar empresas, produtos, marcas e num mercado de 1.5 bilhão de pessoas prepara qualquer empreendedor para o mercado global.
O Vale sente essa concorrência? Como isso chega até os investidores e ao ecossistema?
No Vale a China é protagonista a mais tempo. Sempre foi o local onde as grandes empresas de tecnologia terceirizavam sua mão de obra de produção. Nos últimos anos, a grande evolução foi grandes grupos de investidores chineses começaram a despejar dinheiro em startups sediadas no Vale. Além disso, programas de aceleração combinados (China – Vale) estão em todos os lugares. China passou sinônimo de terceirização para dinheiro em uma velocidade impressionante. Creio que ainda não sinta a concorrência. Definitivamente está atenta, mas não chega a sofrer um grande impacto (até porque grande parte do dinheiro do Vale provem de investidores chineses e fica no Vale). O ecossistema tem um impacto um pouco maior. Vejo no dia a dia maior quantidade de eventos e até o surgimento de aceleradoras focadas no mercado chinês. Outro ponto é o entendimento da cultura chinesa por empresas ocidentais. Nós, ocidentais, simplesmente não entendemos a cultura asiática a ponto conseguir interpretar tendências da China. Então, esses cursos, eventos, feiras e programas de aceleração tem o foco bem inicial ainda de ensinar ocidentais a cultura asiática, principalmente a chinesa.
Existe algum setor em que a China está se sobressaindo? E qual sua perspectiva dessa disputa no médio e longo prazo?
Educação e IOTs. Nos últimos anos o investimento em tecnologias para a educação na China só cresceu. E o mais interessante: eles testam os protótipos na própria educação do povo chinês. Ou seja, a China já tomou a frente do mundo neste quesito e prevejo que há muito ainda por vir nos próximos anos. Veremos ainda mais revoluções nesta área. Outro grande segmento são os IOTs.
São muitas startups e investidores chineses no Vale?
Comparativamente o número ainda não é grande, mas está crescendo rápido. Existe muito investimento disponível para empresas que tenham o foco em mercado asiáticos. É muita massa critica que precisa consumir produtos todos os dias. Está todo mundo de olho neste mercado.
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