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Como a crise de talentos impacta o digital

Diante da batalha por profissionais, companhias encontram na cultura empresarial vantagem competitiva para a aquisição e retenção de talentos

Taís Farias
1 de março de 2022 - 12h22

Tomek Stoma e Marc Sanz debatem talento na era digital, com mediação de María Barceló, no MWC 2022 (Crédito: Taís Farias)

Nos Estados Unidos, entre abril e outubro do ano passado, mais de 15 milhões de trabalhadores deixaram seus empregos. O movimento configura o que já é chamado de uma fuga de talentos e vem intrigando os gestores ao redor do mundo. A pesquisa “Grande Evasão”, desenvolvida pela McKinsey, em cinco países (Austrália, Canadá, Singapura, Reino Unido e Estados Unidos), analisou o cenário. Nela, 40% dos profissionais entrevistados afirmaram haver uma probabilidade no mínimo moderada de deixarem seus empregos nos próximos três a seis meses. Para 18%, a intenção de deixar o trabalho atual varia entre provável e quase certa.

As empresas confirmam o cenário. 53% das companhias ouvidas pela consultoria disseram estar enfrentando uma rotatividade voluntária dos funcionários maior do que nos anos anteriores e 64% acreditam que o problema vai continuar – ou até se agravar nos próximos seis meses. O relatório ainda indica que 36% dos profissionais que pediram desligamento o fizeram sem ter um novo emprego em vista.

Com esse cenário, a crise de talentos e o futuro do trabalho na era digital viraram tema de debate no Mobile World Congress.  Tomek Stoma, diretor de pessoas e tecnologia na Glovo, startup espanhola de q-commerce, não nega que há hoje uma batalha por profissionais. “Sempre vai haver empresas com mais benefícios, um ambiente melhor. Mas nós somos muito claros sobre nossa cultura e valores”, afirmou o executivo. Ele conta que, com a pandemia e o avanço do trabalho híbrido, qualquer profissional, independente de em que lugar do mundo, está disponível. Além disso, ele defende que o momento de crise estimula as pessoas a pensarem sobre seus valores. “E nós tentamos ser muito específicos sobre isso”, aponta o executivo da Glovo.

Nesse sentido, o investimento das empresas em estabelecer uma cultura forte tende a se tornar uma vantagem estratégica na aquisição de talentos. “A vantagem competitiva do Google não é tecnologia, como todo mundo pensa, mas recursos humanos”, defende Marc Sanz, head do Google Education para países emergentes. Ele conta que a big tech trabalha com uma avaliação constante de como seus funcionários são avaliados e estimulados. Mais do que responder sobre o que fizeram, os colaboradores são estimulados a pensar sobre como fizeram. Nesse sentido, uma entrega realizada de maneira colaborativa vale mais que uma conquista individual para o Google.

“Como somos pequenos, precisamos que todos sejam multidisciplinares”, explica o diretor de pessoas da Glovo, sobre as habilidades profissionais mais relevantes na era digital. No entanto, essa valorização da cultura traz alguns desafios. “Como mensurar se alguém tem o mindset necessário ou não?”, instiga Tomek Stoma. Pensando nisso, a companhia trabalha em um esquema de feedbacks diários. A ideia é que todos os colaboradores se sintam livres para dialogar sobre o seu desempenho.

Os benefícios ofertados também entram nessa lógica de transparência e flexibilidade. “Qual é o valor do seu trabalho?”, questiona o head do Google Education. “É preciso que seja justo”, acrescenta. Ele cita, por exemplo, o fato de que mulheres pedem menos aumentos que homens por fatores estruturais – Dado confirmado por pesquisa da Glassdoor no ano passado.

Disputa híbrida

Com o avanço da vacinação, a conversa sobre o futuro do trabalho, naturalmente, leva ao retorno aos escritórios e a adesão ao trabalho híbrido. Marc Sanz analisa que, hoje, há dois comportamentos extremos. Um de empresas pouco flexíveis que estipulam a volta compulsória dos profissionais ao ambiente de trabalho e a de companhias altamente liberais que aderiram totalmente ao digital, sem espaços para o encontro presencial. “Eu acredito que os dois estão genuinamente errados”, opina o executivo.

O diretor de pessoas da startup espanhola concorda dizendo que existem profissionais que se adaptam melhor a cada um dos formatos e que a verdadeira vantagem desse novo modelo será entender como eles podem interagir, além de garantir a existência de espaços de colaboração e inovação, seja no físico ou digital.

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