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Metas e investimento: a nova conversa sobre diversidade

Raquel Virgínia, CEO e fundadora da agência de gestão de cultura Nhaí, e Helena Bertho, diretora global de diversidade e inclusão do Nubank, debatem a importância da diversidade na potencialização de ideias inovadoras

Thaís Monteiro
26 de abril de 2022 - 22h31

Intencionalidade, planejamento, estratégias de retenção, metas e propósito que beneficiem o ecossistema. Esses aspectos poderiam ser facilmente atrelados a lançamentos de produtos ou novo posicionamento de marca, mas, na verdade, se tratam de um tema mais sério, inerente à humanidade e há muito negligenciado pelas empresas detentoras de poder: diversidade e inclusão.

Em painel no Summit Rio2C, oferecido pelo Meio & Mensagem, Raquel Virgínia, CEO e fundadora da agência de gestão de cultura Nhaí, e Helena Bertho, diretora global de diversidade e inclusão do Nubank, debateram a importância da diversidade na formação de equipes, como um fator de crescimento para as empresas e para a potencialização de ideias inovadoras que possam transformar os negócios ao responder questões feitas pela repórter do Meio & Mensagem, Taís Farias.

Raquel Virgínia, CEO e fundadora da agência de gestão de cultura Nhaí, e Helena Bertho, diretora global de diversidade e inclusão do Nubank (Crédito: André Valentim)

O recrutamento de pessoas de grupos de minoria política pelo próprio recrutamento é inútil sem intencionalidade. Helena defendeu que um primeiro passo é assumir que se existe um diverso, existe uma referência de padrão e compreender os desafios estruturais e de médio a longo prazo de fazer uma mudança organizacional para abraçar a equidade e inclusão. No nível mais prático, é necessário colocar pessoas diversas nos cargos de tomada de decisão e questionar pensamentos enviesados.

“Ou você comunica e traz para o centro da tomada de decisão ou as marcas vão naufragar. Não é sobre o diverso, é sobre o humano. Tecnologia caduca. Mas a genialidade humana não. É bom para o negócio e a sustentabilidade, porque a porta é a inovação e o disruptivo é o humano”, pontuou.

Uma vez dentro das empresas, esses talentos devem ser nutridos e compreendidos para não transformar o processo de inclusão falho quando há grande evasão desses profissionais por falta de investimento da empresa nos mesmos. No Nubank, Helena coordena uma equipe de 18 pessoas voltadas para processos de diversidade e inclusão. Lá, existem público-alvo, metas e métricas, inclusive para retenção e turn over, pois há uma atribuição de importância à permanência dos talentos. Segundo a executiva, o colaborador deve se sentir bem vindo e que suas singularidades são respeitadas. “Temos mecanismos de controle. Precisamos deles porque as organizações são estratos sociais”, justificou.

A formalização e estruturação do processo dialoga diretamente com a mentalidade de projeto defendida por Raquel Virgínia. Segundo seu argumento, se o racismo nasceu de um projeto da branquitude para ser colocada em um lugar de privilégio, então é necessário um projeto para reverter esse efeito ou equalizar as equipes dentro das empresas. “Esses dias eu estava em uma empresa que apresentava metas até 2050 e eu concordei.  Não vamos resolver isso do dia para a noite. Para que você precisa de uma pessoa trans no seu quadro de funcionários? Isso não é um projeto. Projeto é quando você senta, constrói uma estratégia, estudo, análise, comparação. Tem hora que vai dar certo e hora que não vai dar”, colocou.

A Nhaí é uma empresa que trabalha comercializando e auxiliando marcas em projetos de diversidade. Para a fundadora e CEO, é um desafio empreender em um mercado com pouco fomento a iniciativas de mulheres negras, ainda por cima trans, mas que uma vez contratada uma empresa fundada por minorias políticas, a empresa contratante pode começar a movimentar um ecossistema todo, pois ao ser envolvida em um projeto de diversidade, ele começa a entrar no espírito.

Porém, ela ainda enfrenta o desafio de ter seu negócio lido como uma iniciativa do terceiro setor e falta de investimento. “As pessoas ainda acham que são projetos do terceiro setor. Nós estamos atrás do dinheiro. Não sou inocente, não. Dinheiro significa estrutura. Temos que estruturar nossas demandas. Tudo isso faz parte de tornar a estrutura sustentável para que essas pautas não sejam hype. Precisamos colocar dinheiro na mão das pessoas que querem salvar essa bomba. Vai dar certo? Não sabemos. Mas é melhor tirar o dinheiro das pessoas que não contribuem na expansão de repertório, criação”, defendeu.

O resultado desse investimento é uma empresa com produtos de origem multidisciplinar, que são mais competitivos no mercado e inovadores em todos os sentidos. “É o início de uma conversa”, disse Helena. “Se vamos pensar em geração de valor, impacto positivo e legado, é sobre quem está na sala quando pensamos no futuro. Pensar em futuro é entender seu papel, entender quem está do lado. Estamos discutindo metaverso, NFTs, personalização quando temos quatro bilhões de pessoas que não têm banheiro em casa. Pensar em inovação é pensar em algo possível para todos se não vamos reproduzir a lógica do digital”, complementou.

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