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Análise: Design a favor do impacto positivo

Renato Winnig, global creative and brand manager da Natura, aponta as tendências e insights da área que desenha soluções para pessoas e marcas


18 de junho de 2019 - 12h44

Renato Winnig, global creative and brand manager da Natura

Renato Winnig (crédito: Arthur Nobre)

Que honra comentar esse ano os cases da categoria de Design de Cannes. Assim como o próprio festival que tem buscado evoluções importantes no repensar do seu próprio formato para promover com mais legitimidade a criatividade a serviço da experiência de marca e do negócio, a categoria de Design também foi alçada para outro patamar nesta edição. Sempre acreditei que o design é uma poderosa ferramenta para dar vida aos sentidos e significados sejam eles das marcas, pessoas ou das coisas. A humanidade vem buscando através do design unir a estética dos objetos às suas funcionalidades, mas foi mesmo com a revolução industrial e toda escola Bauhaus, que o design se tornou um pensamento mais estruturado e profundo para o benefício de toda a nossa vida moderna (que bom).

Lembrei da música “As coisas” de Arnaldo Antunes com Gil: “As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, du-ração, densidade, cheiro, valor, consistência, pro-fundi-dade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, des-tino, idade, sentido. As coisas não têm paz”. Se pararmos para pensar, a discussão colocada na letra pode ser totalmente ligada ao design, e uma das últimas palavras da música é o que mais vi nos cases de Design de Cannes em 2019: sentido.

Partilho da visão de que o propósito do design é desenhar soluções a partir das necessidades e desejos das pessoas mobilizando um esforço coletivo para construção de um mundo melhor. Já me falaram que esse pensamento é um pouco excessivo, mas genuinamente acredito nisso, ainda mais hoje em dia, que vivemos num mundo cheio de incertezas, tensões sociais, políticas e intolerância. Por isso que, para mim, as palavras “sentido” e “propósito” são mais do que necessárias. E se o design é algo que dá vida às ideias de um jeito ou de outro, ele precisa ter um reason why que ajudará a construir impacto positivo no mundo.

Voltando pra comentar os cases de Design de Cannes… Analisando os premiados, do Grand Prix, aos Leões de Ouro, Prata e Bronze, a quantidade de cases que traz o design como construtor de uma visão de impacto positivo é enorme. Acho que foi isso que me deixou mais entusiasmado. Para mim, não se trata tanto da posição dentro do ranking, mas como o pensamento de mudança e transformação vem ganhando força e reverberando mais e mais ao redor do mundo.

Reorganizei os cases que me chamaram atenção em três grandes blocos:

O primeiro que considero uma onda positiva para o mundo trata de temas como inclusão social, diversidade, empatia e generosidade. Uma resposta direta à tensão social da intolerância e preconceitos. Vale destacar dentro deste bloco o Grand Prix do Google, “Creatability”, que explora e disponibiliza ferramentas criativas como desenho, música e muito mais, para incluir a comunidade com diversos graus de deficiência através da tecnologia de inteligência artificial de forma open source, aberta.

Além do Grand Prix destinado ao Google, destaco o “Changing the Game” da Microsoft pela McCann New York, que também trata do tema de inclusão e diversidade por meio do design e o simples e fantástico “Highlight the Remarkable” da Stabilo pela DDB Düsseldorf, que insere o seu produto principal (a caneta marca texto amarela) no arco narrativo para fazer a discussão de equidade de gênero. Quando o produto da marca consegue contextualizar uma causa consigo próprio, é muito legal. Ambos ganharam Leão de Ouro na categoria.

Para representar a empatia e generosidade, “The restaurant of mistaken orders” da TBWA\HAKUHODO, que promove a ampliação de consciência sobre pacientes com deficiência intelectual de forma muito humana.

O segundo bloco, também relevante, tratou a temática ativista principalmente com cases que partiram de tensões como a violência como o “The Gun Violence History Book” e o “The most dangerous street” para o Illinois Council Against Handgun Violence, da FCB de Chicago, que é um alerta à violência de mão armada trazendo impacto e força.

 O case the Unbreakable Rainbow da Ben & Jerry’s pela 180heartbeats+jun também traz com força o ativismo da diversidade e LGBTQI.

O terceiro e último bloco que destaco é a pureza do design propriamente dito e toda a construção de valor atrelada a ele. Vale destacar dois cases que são de encher os olhos de qualquer um. “Insta Novels” para a The New York Public Library, da Mother de New York, que reinventa os stories do Instagram para potencializar e contar as mais incríveis histórias. E a Alice no País das Maravilhas, ilustrada pelo designer Magoz (@magoz) e a Metamorfose de Kafka ilustrada pelo César Pelizer (@cesarpelizer). Venceu Leão de Ouro também.

E para fechar, o case de rebranding da BBC Two feito pela SuperStudio e Creative de Londres, que traz uma interpretação visual a partir da curva do número “2” e propõe uma plataforma de identidade artística com uma estética diferenciada e consistente que vai permeando a sua programação.

Depois de tudo isso e de outros cases que nem tratei aqui, não tem como negar o papel do design na construção de um mundo melhor.  Não dá mais para ser só bonito, precisa deixar o mundo mais bonito trazendo sentido, humanidade e propósito para as coisas que não tem paz como diz a música do Arnaldo e Gil.

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