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Edu Lyra: “Qual é o metaverso social?”

Fundador da organização social Gerando Falcões comenta o que espera da sua primeira vez no SXSW e qual é a importância de um evento como este abordar o tema ESG

Amanda Schnaider
11 de março de 2022 - 6h02

Acabar com a pobreza nas favelas brasileiras antes que Elon Musk aterrisse em Marte é a grande missão de Eduardo Lyra, mais conhecido como Edu Lyra, fundador e presidente-executivo da Gerando Falcões, organização sem fins lucrativos dedicada a equipar brasileiros social e financeiramente vulneráveis.

Ao lado de Eco Moliterno, Chief Creative Officer da Accenture Interactive para a América Latina, – empresa parceira da Gerando Falcões –, Lyra apresentará, no painel “Brazilian Favelas: The Community Innovators”, do SXSW, neste sábado, 12, seu novo projeto chamado Favela X, que está usando ciência e inovação para eliminar a pobreza no Brasil. “O Favela X, em essência, é a grande plataforma que sustenta a inovação do que a Gerando Falcões está produzindo”, explica Lyra.

Edu Lyra (Crédito: Arthur Nobre)

Debaixo do chapéu Favela X, há várias ações, como a Favela 3D, iniciativa que conecta políticas públicas e tecnologias, visando interromper o ciclo de pobreza. Fundada em 2011, a Gerando Falcões, atualmente, impacta cerca de 1.200 comunidades por meio de 20 projetos focados em educação por meio do esporte, cultura e formação profissional com liderança e empreendedorismo, e se coloca como uma franquia social que apoia ONGs de todo o país que também atuam em favelas.

Em 2021, Edu Lyra ficou entre os 10 profissionais de marketing de 2021, lista anual do Meio&Mensagem com os profissionais de anunciantes e empresas que se sobressaíram na indústria de publicidade ao longo do ano. Em entrevista ao Meio &Mensagem, Edu Lyra conta o que espera da sua primeira vez no SXSW, qual a importância de o festival abordar o assunto ESG em sua programação e como o modelo colaborativo é essencial para a sobrevivência neste planeta.

Meio & Mensagem – Em um painel no SXSW, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, abordará a importância do investimento do governo em startups que sejam baseadas em métricas ESG. O governo está fazendo isso, mas e quanto as iniciativas privadas? Como você vê as empresas empreendendo em ESG? E o mercado está fazendo isso de forma correta?

Eduardo Lyra Essa é a minha primeira vez no evento, em Austin, quem está me levando é o Eco [Moliterno], que viabilizou toda essa triangulação que me deixou bastante feliz. Estou bastante estimulado em ir para aprender, apesar de ir para o palco, acredito que é importante, mas também é fundamental para mim como brasileiro e empreendedor social que está na ponta, ir e entender o que estão falando, o que estão pensando para os próximos anos, quais tecnologias estão querendo emergir e o que disso tudo que posso trazer para as favelas. O meu tempo é dedicado inteiro para pensar em uma solução para as favelas. Então, estou indo muito aberto. Eu gosto muito de aprender, o Eco sabe como sou curioso e como estou o tempo todo como uma esponja tentando sugar o conhecimento para tornar as favelas melhores. Dito isso, certamente vou querer assistir à palestra do governador Eduardo, que é uma pessoa que tem feito a diferença na sociedade também. Acredito que o ESG é uma janela que está aberta e uma grande oportunidade para transformarmos boas ideias em tecnologias reais e que cheguem na ponta e que mudem a vida das pessoas. Sou muito convidado para falar com o CEOs, executivos e líderes de ESG dentro das companhias, e o que eu falo muito é que eu falo muito é que não podemos perder a oportunidade de fazer o ESG mudar o Brasil, acelerar tendências, mudanças. Falamos muito de metaverso agora, o mundo está falando isso, e qual é o metaverso social? Como usamos tendências como essa para, de fato, reduzir desigualdades? Para transformar na ponta? Para fazer com que isso chegue na última milha, que é onde está o Brasil real? O esforço precisa ser esse, fazer com que não seja uma peça publicitária, mas seja algo real e que chegue de fato na vida das pessoas.  

M&M Qual é a importância de um evento de inovação do tamanho do SXSW abordar assuntos ligados ao ESG? 

Lyra É fundamental até por ser uma plataforma global. Se eu aprendi bem com o Eco, o que se fala lá ecoa no mundo, influencia o mundo, startups, companhias globais, talentos que estão produzindo soluções que depois voltam para os seus países para transformar isso em algo efetivo. Acredito ser fundamental e o espaço que o Eco viabilizou junto com a organização do evento e a agenda que está estabelecida para nós é uma oportunidade de mostrar o que é o ESG acontecendo, de fato, na ponta. Porque estamos cuidando de todas as etapas do ESG, desde um novo modelo de governança, porque a Favela 3D é de dentro para fora, não é uma ideia de alguém num gabinete que impõe uma política pública, é a favela que constrói a solução e produz pactos sociais com o governo e a iniciativa privada. Falamos que o favelado dessa vez está sentando na mesa não para fazer a ata, mas para tomar a decisão. Isso é um novo modelo de governança. Dois é o tem ambiental. Vamos aplicar placas solares na Favela Marte, uma favela com 100% de capacidade de energia própria. Isso também para passar uma mensagem de que a favela não deve ser vista como um problema, mas como uma solução, também para o meio ambiente. E finalmente a questão social, onde queremos, por exemplo, na Favela Marte, neste ano, zerar a fila de desemprego. Estamos assinando um pacto pela inclusão econômica e produtiva da favela em Rio Preto, e vamos zerar, isso significa adicionar milhões de reais por ano na economia da favela e tirar todas as famílias da linha da extrema pobreza. Então, o ESG está aí, acontecendo em favelas, para inspirar o Brasil, para inspirar o mundo dos negócios, inspirar as companhias e dizer “Vamos fazer juntos? Porque não posso ocupar o lugar do Estado tão pouco das empresas, o meu lugar é de ser um catalisador, juntar todo mundo e dar ignição para essa mandala girar e interromper a pobreza”. 

M&M Seu projeto quer transformar a pobreza da favela em uma peça de museu antes de Elon Musk chegar a Marte com a Space-X. O que falta para você conseguir conquistar o seu objetivo?

Lyra São etapas. Primeiro tenho três anos para provar a tecnologia, por isso que temos um apoio sistemático de longo prazo com a Accenture, por exemplo, o projeto de PMO [Project Management Office] das favelas 3D a Accenture que está me apoiando, a integração de tecnologias, a Accenture que está apoiando, o modelo econômico disso, a Accenture que fez todo o processo de estudo e validação. Então, a Accenture está conosco de ponta a ponta em todas as etapas além de ter pessoas como o próprio Leonardo Framil, que é o presidente da companhia para a América Latina, como um mentor pessoal meu, assim como o Eco. Tem um aporte de estratégia e tecnologia gigante. Somos auditados pela KPMG, temos um apoio gigante em gestão e eficiência da Ambev. Tudo isso porque preciso comprovar essa tese. Contratamos uma agência israelense chamada Kayma, do Dan Ariely, que é especialista em economia comportamental, para avaliar o impacto do projeto e ter evidências de que realmente funciona, de que realmente interrompe o ciclo de pobreza, de que entrega uma primeira infância saudável para as crianças, de que entrega o empoderamento feminino, de que consegue fazer essa mandala girar no território e destravar valor. Nos próximos quatro anos, a cada ano vamos entregar uma solução de transformação sistêmica em favela em territórios diferentes para o Brasil, e a partir disso influenciar tanto políticas públicas como a própria iniciativa privada e a sociedade civil para fazermos isso em escala no Brasil. O meu sonho é que desses quatro territórios possa emergir um grande master plan de favelas no Brasil e iniciarmos um processo de mudança nas favelas do nosso País e servir de exemplo para todas as favelas da América Latina, Africa e os países que ainda são subdesenvolvidos.   

M&M Estar no SXSW é uma grande oportunidade para fazer networking e conseguir parcerias. Vocês estão buscando conquistar verba para o projeto “FavelaX” durante o evento? Já tem algum encontro/negociação agendada?

Lyra Meu olhar está aberto o tempo inteiro. Adoro  isso na vida. Então vou lá para sugar o que está acontecendo. Certamente vou, junto com o Eco, me relacionar muito. Meu inglês não é muito bom, mas tem um tempo que estou estudando e consigo me comunicar, bater um papo. Mas o Eco vai estar lá e ele é craque nisso. Formamos uma boa dupla, então, querendo ou não certamente vamos voltar de uma boa pescaria.  

M&M Em uma entrevista para o Meio&Mensagem em julho do no passado, você disse que “colaboração é a única forma de vivência neste planeta”. O modelo colaborativo já está em voga ou as empresas ainda são centralizadoras? Qual é a importância de ter empresas apoiando iniciativas como a Gerando Falcões? 

Lyra Temos feito coisas em colaboração com muitas companhias, por exemplo, acabamos de lançar uma barrinha, em parceria com a Nestlé, cujo 100% do lucro vai para a Gerando Falcões. Foi um grande exemplo para todo o mercado brasileiro do que é o ESG. Estamos em uma grande encruzilhada, tanto do ponto de vista ambiental como do ponto de vista social. Ou colaboramos ou não saímos do outro lado. Não importa quando dinheiro alguém tem ou se vive na periferia ou num condomínio, a única forma de sobrevivência nesse planeta é através da colaboração. O que estamos fazendo na Gerando Falcões e Accenture é colaborar o tempo inteiro. É uma colaboração com muita diversidade, de gente que estudou no Brasil, que estudou fora, da favela, do centro, branco, preto, homem, mulher, gay, todo o tipo de gente, ao redor da mesa criando. Imagina se conseguirmos ter um ecossistema ainda maior de criadores ao entorno da mesa pensando em soluções para as favelas do Brasil. É isso que estamos propondo e acredito que o mundo, o espírito do século XXI provou na pandemia que seu principal valor é a colaboração. Ele exige de nós isso, colaboração. Ou colaboramos ou talvez podemos inviabilizar o futuro da raça humana. Essa é a última geração que tem a chance de fazer alguma coisa que pode mudar o futuro, sobretudo o futuro das crianças. Então, saber que nós fazemos parte dessa última geração que tem uma oportunidade única de fazer o que é a coisa certa, isso é muito poderoso. Essa estrada vai para um caminho de inovação, precisamos inovar. O que foi criado até aqui não é suficiente para salvar as próximas gerações, então temos que inovar, tomar riscos e ter coragem de encontrar um caminho alternativo.  

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