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Design além das formas

O que o Fjord Trends e a Nonfiction Design revelaram sobre as necessidades atuais e futuras da humanidade

Roseani Rocha
13 de março de 2022 - 8h00

Duas empresas de design apresentaram visões distintas do impacto da disciplina sobre o mundo (e até espaços fora da Terra) neste começo de SXSW. O tradicional relatório Fjord Trends – em sua 15ª edição – foi apresentado por Nick De La Mare, líder da consultoria para a América do Norte e, na outra ponta, o casal Mardis Bagley e Phnam Bagley, fundadores da Nonfiction Design, de São Francisco (Califórnia), trouxeram uma visão futurista e arrojada de como o design pode ter impactos e aplicações em frentes bastante diversas.

Phnam e Mardis Bagley, fundadores da Nonfiction Design no painel “Desenhando o futuro de todas as coisas” (Crédito: Roseani Rocha)

De modo geral, a Fjord buscou enfatizar o quanto as escolhas a serem feitas podem impactar o mundo e sua estrutura mais do que imaginamos, mudando as relações entre colegas de trabalho, marcas e a sociedade. O fato de as pessoas estarem agora lidando com o impacto que também têm sobre o meio ambiente deixou claro que as pessoas não podem se enxergar como separadas do planeta.

Essas tomadas de consciência aumentaram durante o período de disrupção que foram os dois anos de pandemia. E para as empresas, de design e outros segmentos, surgem oportunidades para criar novos sistemas e formas de ser. E diante de tantas mudanças, foram cinco as tendências destacadas: 1. “Come as you are” (as pessoas têm pensado de modo diferente sobre a vida, apoiadas por novas oportunidades e uma economia paralela e isso tem implicações para empresas, relacionamento com funcionários e consumidores-criadores, fazendo com que precisem ter isso em mente ao definir suas propostas de valor para atrair e reter talentos); 2. O fim do pensamento abundante? (após gerações acostumadas à abundância as pessoas, agora, estão tendo de repensar isso, por conta de escassez, problemas na cadeia de fornecimento das empresas, atrasos nas entregas, leis de austeridade e fatores de sustentabilidade que levam a uma abordagem de consumo mais controlado); 3. A próxima fronteira (o metaverso trazendo promessas para além dos games a pessoas e marcas, criando novo espaço para interagir, criar, consumir e lucrar, mas será preciso entender os consumidores nesse novo mundo); 4. Isso é verdade (fazer perguntas e ter respostas rápidas se tornou parte do dia a dia, mas as pessoas têm cada vez mais duvidado das respostas, isso combinado à multiplicidade de canais e fontes torna-se um desafio de negócio); 5. Manuseie com cuidado (especialmente após a pandemia, o “cuidado”, consigo, com os outros, e no âmbito dos serviços, ganhou relevância jamais vista, o que significa que as empresas devem oferecer isso a funcionários, clientes e à sociedade como um todo).

Mardis Bagley da Nonfiction Design falou sobre como a empresa tem como objetivo tornar “ficção científica em realidade, por um futuro melhor”. Ela enfatizou que um job só é aceito se o cliente topar três premissas:  inovação como nunca antes; objetivos de desenvolvimento sustentável e um caminho para execução e sucesso da ideia. Para conseguir isso, a Nonfiction afirma mesclar cinco disciplinas: business (viabilidade financeira), ciência, tecnologia, arte e design.

O resultado da visão arrojada da empresa se traduz em cases muitos diversos, alguns dos quais ela e seu marido apresentaram no SXSW. Objetos de design como extensão do corpo humano foram exemplificados pelo Human Phone, um fone de ouvido sem fio que envolve toda a orelha, adaptando-se à anatomia da pessoa. Além do diferencial estético, tem a funcionalidade de traduzir diferentes idiomas em tempo real, para o inglês. Para chegar a um design orgânico, foram feitos 700 protótipos. Afinal, há uma multiplicidade de tamanhos e formatos de orelhas. Além dele, falou sobre o Halo Sport 2, modelo feito com a Halo Neuroscience, que funciona com um estimulador cerebral que alavanca a plasticidade do cérebro, ajudando a melhorar o desempenho de atletas (segundo Mardis está sendo usado pelo time olímpico americano).

Para quem tem a doença chamada “Essential tremors”, um distúrbio neurológico que faz suas mãos e outras partes do corpo tremerem, afetando sua vida no dia a dia, a NonFiction, fez um equipamento, parecido uma pulseira para mensurar atividade física (aprovado pelo Federal Drug Administration, ou a Anvisa americana) que atua com eletroestimulação direcionada e ajuda a controlar os tremores. E pensando em quem não tem um cuidador, houve atenção também às embalagens, para que a pessoa pudesse, por exemplo, coloca-lo com usando uma mão apenas.

Seguindo a lista de exemplos inovadores — que passaram por Smart cities, energia a países e comunidades carentes, uma termo-câmera que associada a inteligência artificial ajuda os bombeiros a enxergarem num ambiente totalmente escuro e um equipamento que ajuda as pessoas a dormir – Phnam destacou projetos de design sendo feitos por meio da chamada “arquitetura espacial”. Um deles é desenvolver casas e outras estruturas que fujam – no caso da Lua, por exemplo, do preto-branco-cinza – e levem mais cor ao mundo que será criado fora da Terra.

O projeto criado para a Moon Village Association, autodenominada uma ONG baseada em Viena, cujo objetivo é ser um fórum informal para governos, indústria e academia e o público interessado no desenvolvimento da Moon Village, busca “tornar o espaço mais humano”, nas palavras de Phnam. Além da estética mais alegre de estruturas, como casas para até seis pessoas, espaços para exercícios físicos e outras coisas pensadas para quem for passar longas temporadas fora do domínio terrestre, a Nonfiction também desenvolveu estruturas subterrâneas capazes de resistir a condições severas do espaço.

Para alguns, ainda pode soar “uma viagem” do SXSW, mas tudo isso se aproxima, afinal há previsão de os seres humanos pisarem na Lua novamente já em 2024 e a Nasa pretende, em 2030, enviar sua primeira missão tripulada a Marte.

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