Opinião: Um convite às entranhas

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Opinião: Um convite às entranhas

Quantas ideias nasceram no chuveiro e morreram de medo ao se olhar no espelho?


18 de fevereiro de 2016 - 8h09

(*) Por Nicholas Bergantin

É como o dia da marmota. As manchetes são as mesmas. Só os números são diferentes. A TV cobra zilhões pelos 30 segundos do Super Bowl. O evento movimenta gazilhões. Investimento recorde de supermegazilhões. E aí vem a análise: Vale a pena? Não vale a pena?

Os KPIs vão garantir ROI? Ou temos que repensar as métricas para certificar que o mind share (ou seria heart share?) seja superado e o brand equity assegurado protegendo assim o dinheiro investido e os empregos daqueles que assinaram o cheque?

Só esquecem de analisar uma coisa: o jogo não foi criado para render cifrões. Os cifrões são consequência da criação de um jogo espetacular. E o prêmio deste espetáculo não é o troféu, mas as duas palavras que estão gravadas e dão nome a ele: Vince Lombardi.

Quem recebe o Troféu Vince Lombardi recebe também a aura do treinador que levou os Green Bay Packers a vencer o primeiro Super Bowl da história. Em sua biografia ele nos dá uma aula de liderança: “não tenho necessariamente de gostar de meus jogadores e sócios. Mas, como líder, devo amá-los. O amor é lealdade. O amor é trabalho em equipe. O amor respeita a dignidade e a individualidade. Esta é a força de qualquer organização”

Apaixonado pelo jogo, Lombardi estudava com entusiasmo, era excelente estrategista e um planejador incansável. Essa era a sua preparação. Mas dentro de campo sempre deixava claro: o que mandava era a sua intuição, “make decisions from the gut”, gostava de afirmar. Depois de se cercar de todas as informações possíveis, as entranhas davam o caminho. Maior exemplo disso é o “Ice Bowl”, considerado um dos maiores jogos da NFL de todos os tempos.

Era a semifinal e o Green Bay estava em busca do seu bicampeonato. A temperatura: -29ºC. O tempo: 13 segundos para o final. O placar: Dallas Cowboys 17, Green Bay Packers 14.

A poucas jardas da End Zone, o mais prudente era chutar, o esperado era chutar, o seguro era chutar e assim levar o jogo para a prorrogação. Enquanto a razão falava “chuta!”, suas entranhas tinham uma outra ideia.

Ele conversou com seus jogadores e decidiu: “Run it, and let’s get the hell out of here!” Resultado: touchdown. Green Bay foi para a final e tornou-se bicampeão do Super Bowl.

Enquanto a razão é cheia de teorias, as entranhas são instintivas. A razão é ego. A intuição é musa inspiradora. A razão é estatística. A intuição é divina. A razão é medo. A intuição é amor. A razão castra. A intuição inspira.

Isso serve tanto nos campos quanto na vida. Neymar não toma a decisão de driblar pela direita porque, segundo a estatística, aquele zagueiro, dá o bote à esquerda 75% das vezes. George Harrison não escreveu Something porque love songs eram trendy. Tarantino não fez Pulp Fiction porque as pesquisas apontaram que a maioria da audiência gostaria de ver mais sangue. Você não se apaixona por outra pessoa porque ela tica todos os itens do seu checklist de parceiro ideal.

Atletas, músicos, cineastas, redatores, diretores de arte, seres humanos são movidos pelas entranhas. Pelo instinto. Só que o medo faz com que o ego entre em ação para garantir o “play safe”. Só que “play safe” não inspira ninguém.

Não existe nada melhor que uma crise para mudar o comportamento e tocar as pessoas de alguma maneira. Por isso, esse texto é um convite. Um convite às entranhas de dentro de você. Nunca existiu no mundo alguém como você. Depois de morrer, nunca mais vai existir outro como você. O ego racionaliza o medo, a crise, o desemprego. As entranhas inspiram a ter ideias que realmente transformam a vida das pessoas, as empresas e a sociedade como um todo.

Quantas ideias nasceram no chuveiro e morreram de medo ao se olhar no espelho? Quantos Just do its, Subservient Chickens e Beauty Sketches estão enterrados em gavetas da cria- ção sem nunca ver a luz do dia? Quantas ideias de negócios, de startups, de algo que mudaria o País morreram no primeiro olhar castrador?

O ego diz: crie com medo para gerar resultado. A entranha diz: zilhões serão a consequência de uma ideia criada com amor

Não é o Super Bowl que gera negócio. É a alma do Super Bowl que inspira as pessoas e, portanto, gera negócio.

O Brasil e o mundo precisam de mais alma e menos ego. Vamos dar voz às entranhas e inspirar as pessoas. Ou se Vince Lombardi estivesse aqui: “Run it, and let’s get the hell out of this crisis!”

(*) Nicholas Bergantin é redator da Crispin Porter + Bogusky 

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