“Tecnologia é o nome que se dá a coisas que não funcionam”

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“Tecnologia é o nome que se dá a coisas que não funcionam”

Para Brian Eno, veterano produtor musical, artistas devem se apropriar dos erros cometidos pela inteligência artificial


19 de junho de 2016 - 14h34

brian eno

Brian Eno: “Não há oposição entre o artista e a tecnologia” (Crédito: Eduardo Lopes)

Faltando pouco mais de uma hora para o começo do painel do Brian Eno, apresentado pela Dentsu Lab Tóquio, a fila no Palais já estava consideravelmente grande. Em um auditório pequeno, porém lotado, o compositor, músico e produtor musical, famoso por suas parcerias com U2, Roxy Music e David Byrne, subiu ao palco do Festival de Cannes no final de tarde de domingo, 19, para falar sobre a união entre criatividade, música e tecnologia, assunto com o qual se envolveu há mais de três décadas.

Assim que pegou o microfone, disparou: “primeiramente quero falar sobre a palavra tecnologia. É o nome que se dá a coisas que não funcionam. O piano é uma peça tecnológica complexa, mas nos esquecemos disso porque ele funciona muito bem”, disse. Para ele, as únicas tecnologias notadas pelas pessoas são as novas – ou aquelas que não funcionam, enquanto as que passam despercebidas fazem parte do cotidiano de todos.

E, na visão do britânico, a tecnologia que não funciona bem pode servir à criatividade do artista. “Devemos capitalizar a inteligência estúpida do computador. Ele comete erros muito curiosos”. Como exemplo, citou os filmes em technicolor feitos no começo da década de 1950. “O resultado era maravilhoso, todos adoravam como aquilo saía errado”, divertiu-se.

Em 1968, Eno, hoje uma das maiores referências quando se fala em produção musical, tinha 20 anos de idade e não sabia tocar instrumento algum. O que o ajudou foram as tecnologias que estavam chegando aos estúdios de música. “De repente, percebi que a música e o estúdio de gravação eram uma nova forma de pintar: camada após camada. A gravação multitrack foi um grande passo à frente para pessoas que não tiveram formação musical”, contou. Nos anos seguintes, ele produziria álbuns que se tornariam notáveis pelo uso de sintetizadores, como o primeiro do Roxy Music e, mais ao final dos anos 1970, o disco de estreia do Devo.

Responsável pela popularização do termo “generative music”, usado para descrever a música em constante mutação e criada por um sistema, Eno fez diversas experimentações com um software chamado SSEYO Koan, que resultou em discos solo do artista, sendo o primeiro deles Generative Music 1. “Posso dar certos inputs ao sistema e, com isso, ouvir uma música que nunca imaginei. Gosto sempre de criar coisas que me levem a lugares onde nunca estive”.

“The Ship”, seu 25º álbum solo, lançado em abril, é um exemplo vivo dessas experimentações. Inspirado por dois eventos aparentemente distintos, o afundamento do Titanic – “foi o triunfo da era vitoriana, de que nada poderia impedir o homem” e pela 1ª Guerra Mundial – “havia aquela percepção de que todos os grandes problemas haviam sido resolvidos”, Eno resolveu trabalhar em um disco que pudesse propor a quebra de paradigmas em seu conteúdo e forma. “Esses dois acontecimentos têm tudo a ver. Mostram que quando o homem acha que está tudo certo, vem o amanhã e desmorona tudo. Quando achavam que já se tinha descoberto tudo sobre Física, veio Einstein com a Teoria da Relatividade”, explicou.

Com sistemas e algoritmos, ele extraiu sons, ritmos e até mesmo combinações de palavras que julgou serem interessantes para as músicas do disco. Embora pareça uma obra quase robótica, Eno reforçou que a presença humana em todo esse processo é essencial: “o que importa é o que se coloca no começo e a seleção do que se extrai no final. Noventa e cinco por cento daquilo eu descartei. Há muita inteligência humana na inteligência artificial”.

Para ilustrar a faixa-título do disco, a Dentsu Lab Tokyo desenvolveu um projeto com o intuito de descobrir se a inteligência da máquina seria capaz de adquirir a criatividade inata aos seres humanos. O software foi programado para associar imagens históricas, assim como fazem os seres humanos, que ao verem tais cenas, conectam o passado ao presente e sentem o dèja vu. O resultado desse trabalho é um videoclipe, que será lançado na próxima semana.

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