Futebol americano made in Brazil

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Futebol americano made in Brazil

Confederação unifica campeonato brasileiro, recebe apoio de Red Bull e Traktor e lança plano para massificar a prática do esporte no País


31 de maio de 2016 - 11h50

Treino da seleção brasileira de FA

Estreia do Brasil em Copas do Mundo em 2015 uniu a modalidade (crédito: divulgação)

O Brasil tem a segunda maior base de fãs da National Football League (NFL) no mundo com 19,7 milhões de pessoas, atrás apenas do México, com 23,3 milhões, segundo levantamento da Global Web Index e Statista. No entanto, a imensa maioria desses torcedores ainda não consome o futebol americano praticado no País, mas a Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) pretende virar esse jogo.

Historicamente dividido em dois campeonatos concorrentes (Torneio Touchdown e Campeonato Brasileiro, organizado pela CBFA, criada em 2013), o futebol americano (FA) tupiniquim começou a esboçar uma união no ano passado. Na ocasião, os Onças, a seleção brasileira da modalidade, se classificaram pela primeira vez para a Copa do Mundo. Depois de fazer uma vaquinha online para custear a viagem, o Brasil terminou em sétimo e último lugar com apenas uma vitória sobre a Coreia do Sul.

O título ficou distante, mas o desafio internacional uniu os principais clubes e jogadores do País e, um ano depois, a CBFA anunciou a união das duas ligas concorrentes para a criação da Super Liga Nacional (veja o vídeo de lançamento aqui). O torneio terá a participação de 31 equipes de 17 estados, dentre elas tradicionais times de futebol como Botafogo, Corinthians, Flamengo, Juventude, São Paulo, Vasco e Vitória. A competição conta com o apoio de Red Bull e Traktor, e terá jogos exibidos pela internet no canal oficial da confederação no YouTube que entra no ar em junho. O torneio começa dia 9 na Arena Pantanal.

Na entrevista a seguir, Fernando Fleury, diretor de marketing da CBFA, detalha o projeto da entidade para massificar a prática do esporte no País, a estratégia para implantar nos jogos o conceito de entretenimento adotado pelas grandes ligas norte-americanas e os planos de sediar no Brasil a próxima edição da Copa do Mundo. “Nós estamos unidos em torno de um grande objetivo: fazer o esporte crescer”.

Fernando Fleury, diretor de marketing da CBFA

Fernando Fleury, diretor de marketing da CBFA (crédito: reprodução)

Meio & Mensagem – O futebol americano no País teve campeonatos paralelos nos últimos anos. Como foi feito esse trabalho de unificação?
Fernando Fleury – A Copa do Mundo do ano passado serviu para iniciar o processo de unificação. Quando conseguimos a classificação para o torneio, decidimos representar o País com o que tínhamos de melhor, indiferente de qual time ou campeonato o atleta estivesse jogando. O mesmo aconteceu com os treinadores. De lá para cá estivemos conversando constantemente com todos os times e identificamos uma vontade real de ter uma única competição. Todos tinham grande interesse em jogar contra todos e provar, de uma vez por todas, qual é o melhor time do Brasil. O problema era como realizar está disputa. Assim, nosso trabalho foi identificar como poderíamos produzir uma competição que atendesse aos anseios de toda a comunidade de futebol americano no Brasil. Veja, não eram apenas os times e jogadores que desejavam essa unificação, mas toda a comunidade de FA no Brasil. O trabalho de unificação das competições é mérito de nosso presidente (Guto Souza) e dos presidentes de todos os times que vão disputar a Super Liga Nacional. Vale ressaltar que nos também nos preocupamos em manter o passado das competições intacto. Ou seja, não queremos que no futuro exista uma discussão, como temos em algumas modalidades, a respeito de quem foi ou não o verdadeiro campeão quando os campeonatos eram separados. Assim, em respeito a todas as equipes, nós unificamos, não apenas as competições, mas os títulos. Ou seja, a CBFA reconhece o título de campeão brasileiro não apenas dos times que disputaram nosso campeonato, mas também do Torneio Touchdown. Isso é importante para fortalecer a união dos times e garantirmos a consolidação da liga.

M&M – Quais as principais novidades na fórmula de disputa do campeonato brasileiro?
Fleury – A principal novidade é a integração dos melhores times da modalidade num único campeonato. Serão 31 times, de 17 diferentes Estados da federação. Se pegarmos os principais esportes e seus campeonatos nacionais, podemos garantir que somos o campeonato brasileiro de maior abrangência nacional. Além disso, estamos preparando um grande evento para a abertura do campeonato, dia 9 de julho, na Arena Pantanal. O jogo entre Arsenal e Corinthians, dois dos grandes times que temos, e dos mais tradicionais, será um marco histórico. As duas equipes estão muito envolvidas em realizar, não só um grande jogo, mas um grande evento. Os fãs de futebol americano podem se preparar para uma grande festa que começará às 16h, duas horas antes da partida, e irá acabar bem depois do apito final. O Arsenal, time mandante, está preparando grandes surpresas para este jogo do ponto de vista da produção do evento. Eu não tenho dúvidas de que o pessoal de Cuiabá irá vivenciar algo único. Aliás, nossa meta, é batermos o recorde de público, que é do próprio Arsenal, de 15 mil pessoas no estádio. Esperamos mais de 30 mil para este evento. E também teremos o Brasil Bowl no fim do ano. Estamos planejando uma grande final, dentro do modelo tradicional do Super Bowl. Mas aqui vou ter que pedir desculpas e guardar as surpresas para mais tarde. A final está marcada para dia 17 de dezembro, mas ainda estamos vendo o local. Além disso, estamos preparando um aplicativo para mobile que irá permitir acesso rápido a informações diárias do futebol americano praticado no Brasil. Queremos trazer os fãs da NFL e do soccer para dentro da nossa comunidade. Nós iremos dar a possibilidade deles vivenciarem o verdadeiro futebol americano sem ter que sair do Brasil. Nossa ideia é fazer o jogo de abertura ser um evento tradicional de nossa competição e vamos iniciar isso com um clássico da modalidade e um grande evento com show antes, no intervalo e depois da partida.

Logo da Super Liga de Futebol Americano

Logo da Super Liga de Futebol Americano (crédito: reprodução)

M&M – Os jogos oferecerão atividades de entretenimento no pré e pós jogo?
Fleury – Sim. Praticamente todos os times estão preparando grandes eventos pré e pós jogos. Nós sabemos que os fãs de FA esperam dos jogos mais do que boas partidas, mas sim grandes eventos. E vamos dar para nossos consumidores aquilo que eles querem. Importante lembrar que nossa estratégia de relacionamento com o consumidor passa pelas equipes. Assim, o mérito do crescimento do futebol americano não pode ser dado apenas para a confederação. Tudo é feito com a participação de todas as equipes. Nós estamos unidos em torno de um grande objetivo: fazer o esporte crescer! Somos uma verdadeira liga e diria que podemos ser considerados a primeira liga de verdade do Brasil. Ou seja, temos um pensamento único em torno de todos os ideais traçados.

M&M – O torneio terá patrocinadores?
Fleury – Hoje temos o apoio, e não patrocínio, da Red Bull. A empresa nos apoiou no evento de lançamento, dia 14 de maio, na sede deles na cidade de São Paulo, e também estará apoiando alguns eventos que as equipes irão realizar pré-jogos. Temos ainda a Traktor, que é fornecedora oficial da Seleção Brasileira de Futebol Americano, e vem nos apoiando bastante. Além destas duas grandes empresas estamos conversando com várias companhias e apresentando um conceito diferente de patrocínio. Hoje, tradicionalmente, a maioria dos esportes ao vender patrocínio acaba, na verdade, vendendo exposição na mídia. Nós não queremos isso. Nós queremos vender relacionamento. Queremos ser uma plataforma diferenciada para nossos patrocinadores. Queremos ajudá-los a estar próximo dos nossos consumidores e fãs e transformar estes consumidores de FA em consumidores das marcas patrocinadoras do nosso esporte. Sabemos que isso não é simples. Exige uma mudança até mesmo cultural. Mas nós não estamos trazendo apenas uma modalidade americana para o Brasil. Nós estamos trazendo um modelo de gestão diferenciada para o esporte brasileiro. E isso passa, inclusive, pela forma que nos relacionamos com todos os nossos parceiros.

M&M – Qual será o custo total de organização do campeonato? Quem arcará?
Fleury – Como em qualquer modalidade esportiva, os custos do campeonato são compartilhados entre clubes e confederação. Hoje os clubes são os principais responsáveis por custear as despesas. Nós, como confederação, buscamos organizar um campeonato que reduza ao máximo estes custos. Por exemplo, ao desenvolvermos a forma de disputa, nos tivemos algumas preocupações como a logística. Isso devido ao fato de sermos um campeonato que possuí times de todas as regiões do Brasil. Ou seja, os custos de viagem são extremamente caros e impactam pesadamente no planejamento das equipes. Então buscamos equalizar estes custos em conjunto com um equilíbrio técnico da competição. Em conjunto com todas as equipes estamos fazendo um planejamento de longo prazo (10 anos) para desenvolvimento da modalidade. Neste planejamento estão incluídas ações que irão, ao longo do tempo, equilibrar as receitas de todos os times. Uma preocupação que todos nós temos (times e confederação) é que todos os times tenham acesso as mesmas coisas. Não queremos ter um ou dois times fortes. Queremos ter todos os times disputando um campeonato altamente equilibrado. Essa é a essência do nosso modelo de gestão.

M&M – O torneio será transmitido pela TV ou pela internet?
Fleury – Estamos negociando com alguns parceiros para termos jogos tanto na TV quanto na internet. Iremos lançar, em junho, nosso canal no YouTube, e todos os jogos serão disponibilizados para nossos fãs por lá. Se não ao vivo, pelo menos logo depois do jogo.

Grupos da Super Liga Nacional

Grupos da Super Liga Nacional (crédito: reprodução)

M&M – Qual o plano da CBFA para massificar o esporte no Brasil?
Fleury – Nós temos três frentes distintas para massificação do esporte. Uma delas é o fortalecimento dos times brasileiros de futebol americano e, por consequência, da Super Liga Brasileira de FA (Campeonato Brasileiro). Temos convicção de que um esporte no Brasil só cresce quando os times conseguem se aproximar dos torcedores. Então, estamos trabalhando pesado para isso. Auxiliando as equipes a se aproximarem dos torcedores e desenvolverem ídolos. Outro caminho, tão importante quanto é desenvolver o esporte de base. Nós queremos levar o futebol americano para as escolas públicas e, se possível, para as particulares. Para isso iremos desenvolver clínicas para os professores de forma a ensiná-los como a modalidade pode ser praticada dentro das aulas de Educação Física. Também incentivamos nossos times a terem escolas de base e, hoje, eu diria que 80% das equipes da Super Liga e boa parte das equipes da Liga Nacional possuem escolinhas. Trabalhar com essas crianças desde cedo nos possibilita duas coisas: trabalhar na construção do atleta, desenvolvendo desde cedo as habilidades necessárias para que ele possa vir a ser um atleta de futebol americano de alto nível, e trabalhar no desenvolvimento do cidadão. Nós acreditamos que, como entidade máxima do esporte, nossa responsabilidade vai além do desenvolvimento de atletas. Nós temos responsabilidade com a sociedade e trabalhamos para desenvolver um cidadão melhor. Nós sabemos que o esporte pode ser a diferença entre o certo e o errado em decisões futuras destas crianças. E também sabemos que boa parte das pessoas não irão se tornar atletas profissionais. Por isso nosso trabalho é, primeiramente, formar um cidadão que carregue com si os valores e os princípios do futebol americano brasileiro. Se parte destes cidadãos virarem atleta, mesmo que seja uma pequena parte (1%, por exemplo), mas a maioria se tornar um cidadão melhor, entenderemos que o trabalho está dando frutos. A terceira frente é o Flag. Essa modalidade permite um fácil acesso das pessoas à prática do esporte. Crianças e jovens de todos os gêneros podem praticar em pequenos espaços. Bastam duas fitas e uma bola. Inclusive, o Brasil tem um time feminino se preparando para disputar a Copa do Mundo de Flag, em julho, no Caribe. Nós entendemos que esta modalidade pode ser a porta de entrada para muitas pessoas no esporte, principalmente se ligarmos esta modalidade ao projeto de introdução a base, e também que está modalidade é fundamental para quebrarmos a ideia de que o futebol americano é um esporte violento. Nosso esporte é um esporte de contato. Mas longe de ser violento. É um esporte que necessita de desenvolvimento tático, técnico e estratégico muito pesado. Neste sentido, a parceria que estamos vendo com o Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo pode ser o primeiro grande passo para por o projeto em prática. Nossa ideia é desenvolver campeonatos e clínicas de Flag nos parques públicos da cidade de forma a expor o esporte para as pessoas e, ao mesmo tempo, introduzir a prática. O secretario tem nos dado bastante apoio e acreditamos que no segundo semestre a cidade de São Paulo será a primeira do Brasil a contar com clínicas gratuitas de futebol americano nos parques públicos.

M&M – A CBFA tem quantos clubes e jogadores federados?
Fleury – Nós estamos atualizando nosso banco de dados, mas hoje temos 120 times registrados na confederação com uma média de 50 jogadores por equipe. Porém, nós acreditamos que existam mais de 200 times praticando o esporte regularmente no Brasil. Alguns times estão registrados apenas nas federações locais. Fora os times que praticam o esporte com regularidade, temos diversas equipes que praticam de forma esporádica ou sem intenção de disputar um campeonato, apenas por diversão. No total nos calculamos que a modalidade tenha cerca de 100 mil praticantes nos Brasil. Nossa equipe de marketing está fazendo um levantamento profundo no Brasil, com o apoio dos times e das federações, para reforçarmos estes dados e construirmos um verdadeiro painel a respeito do futebol americano praticado por aqui. Como falamos antes: nosso modelo de gestão segue rigorosamente a cartilha das grandes ligas americanas e temos convicção que é isso que nos diferencia de outras modalidades no Brasil.

M&M – Existe uma estimativa da base de fãs de futebol americano no Brasil e se eles têm interesse de acompanhar o esporte aqui?
Fleury – Hoje temos cerca de 20 milhões de brasileiros que se declaram fãs de Futebol Americano no Brasil. Claro que sabemos que a grande maioria ao se declarar fã de futebol americano está dizendo ser fã da NFL. Diversos números comprovam o crescimento massivo da modalidade no País. Hoje temos duas grandes emissoras (Esporte Interativo e ESPN) transmitindo a NFL no Brasil. O fã brasileiro tem acesso a todos os jogos da temporada sem exceção. Já existem diversos sites especializados em futebol americano e programas nas redes de TV específicos para nosso esporte. Em suma, interesse não falta. A base de fãs é enorme, e nós estamos trabalhando para aproximar o futebol americano praticado por aqui destes consumidores. Para isso, dentre vários projetos, um dos principais envolvem o uso de redes sociais. Estamos organizando nossas redes sociais para nos aproximarmos dos fãs de futebol americano e trazê-los para dentro da modalidade aqui no Brasil.

M&M – A seleção brasileira fez uma vaquinha online para participar da Copa do Mundo de 2015. Quais os planos para o mundial de 2019?
Fleury – Os planos para o mundial passam, necessariamente, pelo crescimento dos times e do campeonato no Brasil. A IFAF(International Federation of American Football) ainda não decidiu como será a forma de disputa para classificação no mundial e nem onde será. Nós pretendemos oferecer o Brasil como País sede. Se a IFAF aceitar será uma grande oportunidade para o futebol americano cravar sua base no País. Mas ainda não temos resposta da IFAF quanto a isso. Sabemos que outros países também tem interesse, mas estamos confiantes de, onde quer que seja disputada a Copa, nós estaremos presentes e, mais que isso, estaremos bem representados. Nosso objetivo é estar entre os TOP 5 da modalidade até 2020. Então a Copa será fundamental para isso.

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