Nova sede da Apple: sem creche, mas com congelamento de óvulos

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Nova sede da Apple: sem creche, mas com congelamento de óvulos

Ex-funcionárias e executivos falam sobre os problemas do Apple Park e de como a companhia prioriza o sexo masculino


7 de julho de 2017 - 14h11

(*) Por Barbara Lippert, do Advertising Age

 

(crédito: Courtesy City of Cupertino)

A Apple está aproveitando o verão. A gigante de tecnologia anunciou o Apple Park, sua nova sede de US$ 5 bilhões, localizada em Cupertino, na Califórnia. Enquanto mira o futuro, a companhia não deixa de olhar para o passado: vai comemorar o décimo aniversário do iPhone.

O iPhone entregou, em cada uma de suas versões, um pouco de inovação e inspiração, palavras escritas na missão de Apple. Olhando para o futuro, Tim Cook, CEO da Apple, vê o Apple Park como resultado de uma “decisão de cem anos”, que servirá como base para construir os próximos anos da empresa.

É interessante vincular o Apple Park ao iPhone. Quando pensaríamos que imaginar novamente um ambiente de trabalho, de cima para baixo, poderia trazer o tipo de mudança, para a humanidade, que o produto mais visionário de Apple trouxe.

A nova sede não tem um local para os filhos das funcionárias. Mas, se alguma quiser, no entanto, tem a opção de congelar seus óvulos.

O escritor Steven Levy, da Wired Magazine, é o único jornalista que, até agora, pode dar uma espiada no que ele apelidou de “A nave mãe”. O cenário apresentado pela Wired, com as nove mil árvores resistentes à seca e a academia de quase 10 mil metros quadrados de área, imediatamente iluminaram a internet. Em um trecho, Levy questionou Tim Cook retoricamente: “Poderiam ter cortado um canto aqui ou ali?”. Cook respondeu: “Não teria sido a Apple”. “E não teria enviado uma mensagem a todos, que trabalham aqui todos os dias, que este detalhe importa, que o cuidado importa”, acrescentou.

Engraçado que Cook escolheu o termo “cuidado importa”, embora a nave mãe não promova nenhum cuidado por si só. A Apple não respondeu a vários questionamentos sobre o assunto do artigo de Levy. Mas a falta de uma instalação para crianças envia uma mensagem de retrocesso para as pessoas.

 “Se você conversar com empresas que têm creches, 90% acham que é fundamental isto para recrutar e mantes seus melhores funcionários”

Clube para meninos
“É uma jogada incrivelmente sexista”, diz J.G. Sandom, um investidor e CEO do aplicativo Memorybox, que é também um pai solteiro com guarda da filha. “Se você conversar com empresas que têm creche, 90% acham que é fundamental isto para recrutar e manter seus melhores funcionários”, afirma. “Não apenas mulheres”.

Na realidade, apesar da preocupação sobre diversidade e inclusão, os números de integrantes de todo o setor de tecnologia permanecem com aproximadamente 70% de formação branca e masculina.

Uma mulher que conheço, uma mãe solteira, que foi contrata para trabalhar na Apple em um nível de diretora, não está surpresa. “A Apple é um clube para meninos e sempre foi”, fala. “Pessoas solteiras ou famílias, que precisam de dois salários em casa, apenas não estão em seu radar. Todos os meus colegas tiveram cônjuges que estavam em casa, em tempo integral”, relata.

Com certeza, nem todos os pais que trabalham precisariam de atendimento no local. “Eu nunca iria querer deixar meu filho no trabalho”, afirmou uma mãe solteira e executiva baseada em Connecticut. “A maioria dos pais podem pagar ou preferem ter seus filhos em casa”. Perguntei-a se isto era elitista. Ela disse: “É a Apple! Eles são elitistas! E, se você precisa buscar o seu filho e ir direto para casa, isto te separa ainda mais de pagar uma bebida, depois de trabalhar com os caras”.

“Os gerentes querem abelhas operárias que ressoam com eles”, contou-me outra ex-funcionária da Apple. “Pelo menos comigo, eles não reagiram bem as opiniões femininas. Isto é uma coisa de mãe? Eu nunca pude entender minhas próprias opiniões. Eu me sentia manipulada. Eu acho que isto é sexismo clássico”.

De acordo com os últimos números, no site da Apple, as mulheres representam 37% das novas contratações e 32% dos funcionários atuais. Isto representa um ganho de 1% em relação ao ano passado, e é um ponto percentual maior do que a média da indústria. Os números das minorias menos representadas também são, ligeiramente, melhores do que os da média – 22% dos empregados atuais e 27% das novas contratações.

Porém, se alguém pudesse pensar em alguma companhia capaz de transformar radicalmente os preconceitos sexuais e raciais, no local de trabalho, para tornar o quadro de funcionários o mais parecido com a população no geral, esta teria que ser a visionária Apple. Mas, a ausência de cuidados infantis, na nova casa dos sonhos, mostra a falta de pensar sobre a diferença, ainda mais em pleno século 21, quando se precisa de mais igualdade e flexibilidade.

O Sol deu as caras
Ainda assim, os pais do iPhone desenvolveram uma solução tecnológica e sexy para a reprodução feminina – a Apple paga o congelamento e o armazenamento de óvulos das funcionárias. Os ovários são uma ótima metáfora para os problemas da Apple: vamos criar uma maneira de manter os humanos causadores de perigo e exigentes em suspensão, para que todos possam trabalhar o tempo todo.

Para este assunto, os engenheiros tendem a ver suas situações de trabalho como uma meritocracia – em que as melhores soluções ganham. Porém, isto cai em uma tendência inconsciente, um tipo de preconceito que requer um compromisso corporativo sério.

“Umas das razões pelas quais a inclusão continua a desafiar organizações é porque nossos pontos cegos individuais nos impedem de reconhecer quando o viés é sequestro aos nossos resultados comerciais”

“Umas das razões pelas quais a inclusão continua a desafiar organizações é porque nossos pontos cegos individuais nos impedem de reconhecer quando o viés é sequestro aos nossos resultados comerciais”, disse Allison Manswell, autor de “Listen in: crucial conversations on race in the workplace”. “Em algum momento, o valor do dólar desta supervisão e os erros que ela cria irão ofuscar a confiança no status quo”.

A renúncia forçada do co-fundador da Uber, Travis Kalanick, expôs o maltrato de mulheres na área de tecnologia, particularmente nas empresas em fase de crescimento. Cada vez mais, culturas corporativas hostis às mulheres, incluindo a Fox News, estão em desordem.

Hoje em dia, a Apple tem apenas uma mulher, chefe de varejo, Angela Ahrendts, entre os 11 maiores executivos que se encontram com Cook, a cada semana, para determinar o futuro da empresa. Isso dificilmente representa uma estratégia digna de cem anos.

Em vez disso, é um quadro em âmbar, atrás de um vidro curvado muito bem arquitetado, que forma uma bolha de US$ 5 bilhões. É autossuficiente, autossustentável e até a prova de terremotos. Mas, a maior questão para a nave mãe é: o Apple Park é construído para suportar uma nova vida?

Tradução: Victória Navarro

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