Bonfá: “Fazer do humor um negócio requer resiliência”

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Bonfá: “Fazer do humor um negócio requer resiliência”

Apresentador e humorista fala sobre a celebração de dez anos do projeto Risadaria e das particularidades do mercado de humor no Brasil


17 de junho de 2019 - 7h00

Foto: Divulgação

“Cléééééston”, era a expressão clássica bradada pelo apresentador e humorista Paulo Bonfá, durante o programa RockGol, da MTV, que foi ao ar entre a década de 90 e os anos 2000. O programa mesclava comédia com conteúdo esportivo e entretenimento e ajudou a pavimentar sua carreira como comediante e apresentador. Economista e administrador de empresas por formação, Bonfá navegou pelo mundo corporativo antes de adentrar o mercado de conteúdo, tendo uma predileção particular pela comédia. Como apresentador,  liderou programas como “Diários do Bonfá”,  do SporTV, e “TV Fama”, da Rede TV!. A veia humorística também se manifestou no rádio com um programa da 89 FM, o “Sobrinhos do Ataide”, trio que era integrado por Paulo Bonfá, Felipe Xavier e Maco Bianchi.

“Meu trabalho como humorista é um hobbie que deu certo”, relembra Bonfá. Em 2009, ele mergulhou novamente no empreendedorismo e criou o Risadaria, festival que nasceu com a proposta de fomentar o ecossistema de humor brasileiro. O Risadaria celebra este mês sua primeira década de existência, recebendo cerca de 1,5 milhões de pessoas anualmente durante a sua programação.

O festival terá uma mega-edição comemorativa no estádio Allianz Parque, em São Paulo, no dia 26 de junho, onde haverá uma maratona de apresentações com comediantes como Fábio Porchat, Marco Luque e Leandro Hassum. A organização também abrirá ao público a entrega de troféus do Grande Prêmio Risadaria do Humor Brasileiro, competição que premia humoristas em nove categorias. O patrocínio do Risadaria 2019 fica por conta das marcas Colgate-Palmolive, Itubaína,en Hershey’s, BIC® Flex 3, Outback Steakhouse e Arcor Gelatinas.

Para Bonfá, o papel das marcas no universo humorístico vai além de simplesmente financiar e patrocinar projetos. “É uma questão de saúde mental, de viabilizar o ato de rir junto a brasileiros que enfrentam o trânsito, o desemprego, a insegurança e o noticiário cinza”, avalia. Em entrevista ao Meio & Mensagem, o empreendedor falou sobre a evolução do Risadaria e sobre o mercado de humor nacional. “Nenhum país produz tanto conteúdo de humor em tantos formatos, gêneros e plataformas como o Brasil”, disse.  Também descreveu a cobrança por conteúdo politicamente correto como uma “praga cíclica” na história da comédia. Confira a entrevista completa abaixo.

M&M – Como avalia a evolução do Risadaria no últimos dez anos, em termos de programação e adesão de marcas?
Foi um processo orgânico. Nunca houve um passo maior do que a perna, como diriam os antigos. A nossa programação foi crescendo, se fortalecendo e evoluindo em quantidade e qualidade, temporada após temporada. Sobre a adesão das marcas, a gente sempre prezou pelo espaço de cada uma, ou seja, não temos um cemitério de marcas no Risadaria, e sim destaque para aquelas que nos apoiam. Elas compreendem que o resultado desse investimento é para ser colhido ao longo do tempo. Nunca tivemos relação com marcas oportunistas, todos os nossos parceiros estiveram ou estão conosco há vários anos, alguns desde a primeira edição.

O Risadaria ficou conhecido por fomentar o mercado de humor local. Quais são os desafios de transformar humor em negócios no Brasil?
Desde o início, pensei em colocar o Risadaria como uma grande vitrine para fomentar novos talentos de comédia. A ideia sempre foi que trocassem experiências com veteranos, comediantes consagrados e celebridades, e isso se traduziu em concursos de novos talentos como o Grande Prêmio Risadaria, debates e encontros de formação. Acho que o humor, para virar negócio, depende de muita tenacidade, resiliência e vontade. Além disso, um serviço ou produto de conteúdo humorístico precisa ter relevância para o público e para o mercado. Meu desafio, como empreendedor cultural na área do entretenimento de comédia, é mais ou menos o mesmo de alguém que quer montar um negócio e prosperar em outra área.

O politicamente correto é uma praga cíclica. É algo que, ao longo dos anos, vai e volta com níveis diferentes de arrefecimento, com variações no quanto se pode dizer ou não, segundo a opinião de alguns – ou de muitos

Qual é o papel das marcas na viabilização de projetos de humor atualmente, na sua avaliação?
Eu poderia dizer de forma simplista que o apoio ou o patrocínio de marcas à projetos de humor é determinante para a sua viabilização, mas queria deixar de lado só a dimensão econômica e considerar também a dimensão conceitual. Marcas que viabilizam projetos de humor se apropriam deste espírito da comédia, na luta por criar um ambiente mais saudável. É uma questão de saúde mental, de criar a habilidade de rir junto a brasileiros que enfrentam o trânsito, o desemprego, a insegurança e o noticiário cinza. Marcas que endossam atitudes e momentos positivos têm um papel muito importante, e desta maneira se associam de forma sustentável à produção de conteúdo nacional, através do humor e da comédia.

Vê alguma particularidade no mercado de humor brasileiro, se comparado a outros países?
Nenhum país produz tanto conteúdo de humor em tantos formatos, gêneros e plataformas como o Brasil. Viajei o planeta para pesquisas e estive em todos os continentes, nos maiores eventos, e posso afirmar com certeza absoluta que não se produz humor de forma tão prolífica, e com tanta qualidade, como aqui. O humor está no DNA do brasileiro: os conteúdos mais compartilhados aqui são piadinhas, gozações e memes. Os perfis e canais com maior número de seguidores têm sempre comediantes ou conteúdos de humor bem posicionados. Temos uma multiplicidade de oferta no rádio, na mídia impressa, na televisão, na internet e por aí em diante.

Marcas que viabilizam projetos de humor ajudam a criar um ambiente mais saudável. É uma questão de saúde mental, de criar a habilidade de rir junto a brasileiros que enfrentam o trânsito, o desemprego, a insegurança e o noticiário cinza

Em tempos de cobrança pelo politicamente correto, acredita que marcas correm riscos ao se associar a projetos de humor?
O politicamente correto é uma praga cíclica. É algo que, ao longo dos anos, vai e volta com níveis diferentes de arrefecimento, com variações no quanto se pode dizer ou não, segundo a opinião de alguns – ou de muitos. É esta variação que dosa o movimento que se intitula “politicamente correto”. Acho que já passou a fase de marcas se preocuparem em se associar a projetos de humor, por uma ou outra razão. Hoje você tem condições plenas de analisar qual é o perfil de um produtor de conteúdo – seja ele um comediante solo, um grupo, uma companhia teatral, um canal no Youtube ou uma produtora multimídia. Você pode inclusive acompanhar a evolução do trabalho e a repercussão das opiniões expressadas dentro do conteúdo editorial. É muito simples e fácil, para não dizer imediato, saber se há ou não um risco envolvido em algum projeto.

O Risadaria vem sendo executado com recursos captados com apoio da Lei Rouanet. Como vê o impacto da mudança no teto de gastos da Lei sobre a continuidade do evento?
Nós sempre acompanhamos muito de perto as mudanças e as evoluções na Lei Federal de Incentivo à Cultura. De fato, desde a primeira edição, o Risadaria tem como uma das fontes de financiamento o recurso através da Lei. As movimentações têm sido muitas, com muitos ministros nos últimos anos e muitas instruções normativas, mas estamos sempre nos adaptando e nos adequando para cumprir com aquilo que é o regulamento. Para nós, a mudança de teto de gastos talvez não seja algo tão diferente do que já vivemos anteriormente, porque somos um festival consolidado e temos uma característica específica, que está prevista e enquadrada dentro das mudanças da Lei. A continuidade do evento está garantida e já estamos inclusive captando patrocínio para 2020. Esperamos ter a adesão de novas marcas, além daquelas que já vêm nos apoiando ao longo do tempo.

Em quais formatos vê potencial para conteúdo inovador de humor atualmente?
Acredito que o formato é o menos importante, diante do paradigma da tecnologia e da competição por atenção. Tanto faz se o conteúdo é cômico, se é algo de humor ou se depende de um comediante. Os jornalistas, cantores e produtores de conteúdo comercial encontram a mesma dificuldade. Você compete com uma multiplicidade de mensagens e precisa cativar a atenção daquele que é o seu público alvo, seja ele uma pessoa, um grupo ou um país. O maior desafio que criadores de conteúdo têm, preponderante também no humor, é o de se adaptarem ao hábito de consumo das pessoas, seja ele na palma da mão, no banco de um teatro ou lendo um livro no ônibus. O desafio é pela atenção, e não pelo formato.

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