O que o sorvete anti-influenciador sinaliza ao mercado?

Renato Rogenski
5 de julho de 2019 - 17h48

Joe Nicchi, dono do food truck de sorvetes CVT Soft Serve (Crédito: Reprodução/ Instagram)

“Somos os influenciadores anti-influenciadores”. Apesar de parecer uma frase complexa, foi exatamente o que disse o empresário californiano Joe Nicchi, dono do food truck de sorvetes CVT Soft Serve, em entrevista ao The Guardian, nesta semana. Uma imagem sua viralizou nos últimos dias. Cansado de receber propostas de permutas e sorvetes em troca de “exposição”, ele fez uma foto segurando um cartaz com a mensagem “influenciadores pagam o dobro”.

No texto da postagem, Nicchi afirmou o seguinte: “Nós realmente não nos importamos se você é um Influenciador, ou quantos seguidores você tem. Nós nunca lhe daremos um sorvete grátis em troca de um post em sua página de mídia social. É literalmente um item de US$ 4 … Bem, agora é US$ 8 para você”. O estopim de sua indignação foi um e-mail recente, que recebeu de uma pessoa que lhe propôs que trabalhasse servindo sorvetes em um evento com 300 pessoas, sem receber dinheiro por isso, apenas exposição nas redes sociais.

Antes disso, Nicchi relatou ao jornal britânico diversas outras situações embaraçosas. Em uma delas, a assistente de uma personalidade da TV americana (que ele não quis mencionar) perguntou se ele doaria sorvete para todo o elenco e a equipe do programa em troca de uma foto. Sua resposta? “Por mais que eu quisesse fazer isso, não acho que a escola de meu filho aceite fotos”.

Sobre o seu post, o mais curioso é que o seu posicionamento está gerando buzz para a marca nas redes sociais e movimento para o seu negócio, como o próprio proprietário revelou. Nicchi já conta com mais de 15 mil seguidores em seu Instagram e acumula clientes como Bill Murray, Mike Tyson e Adam Levine.  “O dono do truck se apropriou de um fenômeno midiático para criar o seu próprio. Um cartaz altamente instagramável, que viralizou seu posicionamento de marca ‘anti-influencer’ e vai atrair o público que se identifica com isso. Curioso como é tudo parte da mesma engrenagem, das mesmas conversas e das mesmas ferramentas”, observa Larissa Magrisso, sócia e VP de criação e conteúdo da W3haus.

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We’ve decided to make this thing official with signage. We truly don’t care if you’re an Influencer, or how many followers you have. We will never give you a free ice cream in exchange for a post on your social media page. It’s literally a $4 item…well now it’s $8 for you. #InfluencersAreGross

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Vale observar que, embora grande parte dos influenciadores já esteja em um estágio mais avançado de maturidade, ainda há muito criador de conteúdo digital remunerado com produtos e “recebidos”. “É uma atividade muito plural, com pessoas de todos os níveis de compreensão, incluindo gente que não entende o que é criação de conteúdo. Há quem acredite que ser influenciador é ganhar as coisas grátis e não é. Nós, que trabalhamos neste mercado, precisamos ser muito evangelizadores neste sentido, para ajudar todo mundo a entender que não é dando brindes e produtos que você atua com uma estratégia de marketing de influência. Do outro lado, também precisamos corrigir essa postura de influenciadores que acham que isso que é criar conteúdo para marcas”, explica Ana Paula Passarelli, COO da Brunch.

Na visão da profissional, se você é um influenciador e ainda considera os brindes e recebidos como principal remuneração, certamente não compreende o que de fato pode ser uma estratégia efetiva de marketing de influência. Consequentemente, marcas que se sujeitam a tal nível de permuta também não.