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Os desafios do patrocínio além do futebol

Equipes de vôlei e basquete enfrentam, a cada temporada, o risco de extinção pela dificuldade de conquistar e manter investimentos de marcas


9 de dezembro de 2021 - 6h02

Após o jogo da semifinal do Campeonato Paulista de Voleibol Feminino, em 12 de outubro, no qual o Barueri, projeto de Zé Roberto Guimarães, derrotou o Sesi Bauru, Zé fez um desabafo ao vivo na transmissão do canal SporTV. “Precisamos de ajuda e apoio para esse projeto tão bonito não morrer”. O desabafo do treinador tricampeão olímpico comoveu os fãs do esporte nas redes sociais e gerou pedido de apoio ao projeto com a hashtag #PatrocineOBarueriVolei.

Depois da grande repercussão, duas marcas do grupo Alelo, a Veloe, empresa especializada em soluções para mobilidade urbana, e o aplicativo de delivery Pede Pronto, anunciaram patrocínio ao time durante uma temporada. “A campanha que a torcida fez nas redes sociais após o desabafo do José Roberto Guimarães nos impactou na escolha por apoiar o Barueri. Afinal, quem não se mobiliza com um movimento tão genuíno?”, afirma André Turquetto, diretor geral da Veloe.

 

Veloe e Pede Pronto, marcas da Alelo, passaram a patrocinar o vôlei Barueri após desabafo do Zé Roberto por apoio viralizar nas redes sociais (crédito: Victor Martins/Secretaria de Esportes de Barueri)

Pela primeira vez desde seu surgimento, há cinco anos, o Barueri Volleyball Club entrou em uma temporada sem um patrocinador. No começo da competição, a equipe tinha somente contratos de fornecimento de uniformes com a Hummel, e de planos de saúde com a Prevent Senior. Em suas três primeiras temporadas, o time apelidado pela torcida de “Chiquititas”, tinha como principal patrocinador a empresa Hinode e, nas duas seguintes, o São Paulo Futebol Clube.

De acordo com o diretor geral da Veloe, a empresa quer viabilizar o máximo de ações para reforçar a importância desse projeto para inclusão social, cidadania e desenvolvimento de outros esportes. Zé e sua família são os responsáveis pelo centro de treinamento do time, que se compromete com moradia, educação escolar, psicólogos e fisioterapeutas para as atletas. “A parceria ainda está no começo, mas estamos muito animados e empenhados com o que vem por aí”, completa.

Zé Roberto é o responsável pelo projeto Barueri (crédito: Carolina Oliveira)

O desabafo de Zé Roberto e a dificuldade do Barueri em conseguir apoio das marcas abriu uma discussão a respeito da falta de apoio, não só das marcas, como das próprias entidades esportivas, às outras modalidades além do futebol. Essa não é a primeira vez que times de vôlei sofrem com a falta de patrocínio. Em 2013, o Vôlei Futuro acabou com suas equipes adultas após falta de patrocínio. Após cancelar o projeto do time masculino, o Sesc, do Bernardinho, maior campeão da história da Superliga, fechou uma parceria com o Flamengo para conseguir manter o time feminino.

O drama das equipes de vôlei não acaba somente na falta de patrocínio, mas no curto período de tempo de cada patrocinador. A maioria dos contratos são de uma temporada ou duas, o que faz com que não haja tempo de desenvolver os atletas da base, culminando na decadência do time tanto dentro quanto fora de quadra.

Essa relação, muitas vezes conturbada com os patrocinadores, entidades e governos, acaba afetando os times, que podem até procurar outras cidades para se manter. Isso aconteceu com o Vôlei Taubaté, atual bicampeão da Superliga. Após a prefeitura da cidade do interior de São Paulo romper com a Fundação Universitária Vida Cristã (Funvic), gestora do projeto, o time se mudou para Natal, no Rio Grande do Norte.

Cenário geral
Não é só no vôlei que isso acontece. Em entrevista ao ge, em 2019, técnico e nome importante do basquete brasileiro, Jorge Guerra, conhecido como Guerrinha, afirmou que a falta de investimento público nos primeiros anos da educação infantil e fundamental gerou uma monocultura esportiva no País. “Ao não ter nas escolas um incentivo maior à prática de outras modalidades, vemos uma monocultura. Só futebol, futebol, futebol. Isso é produto também de uma massificação da mídia. Na TV só se fala em futebol. Somos um país continental, multirracial, que tem que ter espaço para os outros esportes também. Falta política nas escolas e investimentos municipal, estadual e federal”, disse ao ge.

De acordo com Fernando Trein, professor de marketing esportivo da ESPM, o futebol chama mais a atenção dos patrocinadores justamente pela questão histórica. “O futebol se adaptou muito aqui no País, começou de forma elitista, mas depois caiu no gosto popular, porque conseguimos, por exemplo, com dois pares de chinelo montar um campo de futebol, diferentemente de outras modalidades que precisamos ter uma quadra, um outro tipo de equipamento. Por isso, deixou de ser mais elitista e se tornou mais popular, consequentemente isso gerou maior interesse das pessoas e, em determinado momento, começou a ter um pouco mais de interesse por parte das empresas”, analisa.

Para Zé Roberto, o que diferencia a receita do futebol das outras modalidades é que ele trabalha com a compra e venda de jogadores. “Acho que essa é uma das coisas que deveríamos tentar mudar no País, ter uma política esportiva mais adequada para que os clubes tivessem uma possibilidade maior de autossustentação”, enfatiza. O técnico reforça, ainda, que os outros esportes deveriam ter uma política como a do futebol (mecanismo de solidariedade da Fifa que destina parte das negociações de atletas aos clubes formadores), para que os formadores também tivessem a oportunidade de conseguir um retorno financeiro em qualquer transação na qual esse atleta estivesse envolvido. “Assim, conseguiríamos ter uma solução melhor para todo mundo. Temos que mudar a política esportiva. Conseguir viabilizar essa mudança com o apoio das marcas e desenvolvimento dos atletas da base é o que fará a diferença para as outras modalidades esportivas”, completa.

Apelo esportivo
Segundo Trein, atrair mais marcas para outros esportes é um desafio, mas é preciso que as empresas que não conseguem entrar no futebol, busquem outras modalidades, considerando a segmentação esportiva, ou seja, ter um match entra aquela marca e aquele esporte. O professor de marketing esportivo enfatiza que é preciso pensar no perfil daqueles que acompanham as demais modalidades esportivas na hora de pensar em um patrocínio. “É fundamental que as entidades esportivas como um todo também conheçam o perfil do praticante do esporte, aquele que acompanha , para dar o match”, comenta, reforçando que o Brasil ainda precisa desenvolver um pouco mais essa questão de estudo de perfis.

Além disso, o professor ressalta que as marcas precisam ir além da exposição, rumo à ativação de patrocínio, ou seja, promover experiências para aqueles que acompanham os esportes, tanto experiências físicas quanto virtuais. “Temos um desafio bastante grande nesse sentido para outras modalidades e também para o futebol. Esse tipo de relacionamento deveria ser  fortalecido”, defende. Por fim, Trein também destaca que é preciso pensar em diferentes categorias de produtos e serviços quando se pensa em patrocínios esportivos.

*Crédito da imagem no topo: Victor Martins/Secretaria de Esportes de Barueri

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