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Diversidade temática atrai leitores de quadrinhos

Apesar de produções da Marvel e DC impulsionarem a venda de HQs sobre super-heróis, diferentes gêneros e plataformas estão fomentando o mercado mundialmente


6 de dezembro de 2019 - 6h00

A CCXP, evento de cultura pop e geek inspirado na Comic Con San Diego, nos Estados Unidos, teve início nesta terça-feira, 5, e irá até domingo, 8. O evento, que estreou com foco em quadrinhos, atualmente conta com várias outras atrações como concursos de cosplay, arena de jogos, painéis com grandes nomes do entretenimento e ativações de marcas de diversos segmentos.

Não é possível, no entanto, falar em CCXP sem mencionar o papel dos HQs neste universo. “Os quadrinhos são a origem da cultura geek, é a fonte de tudo”, comenta o quadrinista Mário César. Tal formato, possui grande relevância no evento que conta com uma área exclusiva, na qual quadrinistas nacionais e internacionais se reúnem para conversar com fãs e vender suas produções: a Artists’ Alley. “Na CCXP, entendemos os quadrinhos como uma força dentro do mercado pop, por isso sua área fica bem no meio do pavilhão”, comenta Ivan Costa, cofundador da CCXP e responsável pela Artists’ Alley.

 

Área exclusiva para quadrinistas na CCXP reúne mais de 500 artistas nacionais e internacionais que buscam vender suas produções autoriais (Crédito: divulgação/CCXP)

Essa força de mercado se confirma por meio do estudo da ICv2 e Comichron que revelou que, em 2018, a venda total de HQs girou em torno de US$ 1,095 bilhão nos EUA e Canadá, US$ 80 milhões a mais do que em 2017. Segundo Marcelo Adriano da Silva, gerente de marketing da Panini Brasil, a companhia está satisfeita com o cenário de venda atual, pois muitos de seus produtos são colecionáveis e contam com um público fiel à licenças e títulos.

Em relação ao mercado Brasileiro, Waldomiro Vergueiro, coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA, avalia que há uma efervescência em torno da produção dos quadrinhos muito maior do que existia antes. “Vejo essa efervescência na produção de quadrinhos por autores nacionais, que aumentou substancialmente nos últimos anos, com uma maior variedade de títulos sendo lançados e uma clara melhoria da qualidade de tramas, desenhos e material produzido”, completa Waldomiro. Marcelo concorda com o coordenador: “temos, no Brasil, um crescimento em relação à Marvel e à DC, mas também temos outros destaques como os produtos nacionais. O selo Graphic MSP é um exemplo, pois permite que autores brasileiros convidados “recriem” os clássicos personagens de Mauricio de Sousa em seus próprios estilos”.

A influência de grandes produções da Marvel e DC, não envolve só os quadrinhos sobre super-heróis, como produções com outras temáticas, de acordo com Ivan, cofundador da CCXP. “Os méritos dos filmes contribuem para os quadrinhos como mídia não só sobre heróis, mas também sobre outros gêneros como mangá, autoral e LGBT”, reforça. O quadrinista Mário César pontua que é essa diversidade temática que atrai novos públicos para o mercado de HQs. “As editoras estão apostando em diversidade, novos públicos, o que faz o mercado crescer. Quadrinhos não é mais coisa de menino”, complementa o cocriador e organizador da POC CON Feira LGBTQ+ de Quadrinhos e Artes Gráficas.

Proliferação de eventos

Além da diversidade temática, existem outros fatores que estão impulsionando o crescimento do mercado de HQs, um deles é a proliferação de eventos do gênero. “Os eventos que são realizados em torno dos quadrinhos também se multiplicaram, com crescente participação de autores locais e não apenas a venda de quadrinhos originalmente produzidos pelas grandes editoras internacionais”, comenta Waldomiro. Da mesma forma, Mário pondera que antes da CCXP já existiam algumas feiras de HQs como o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte e a Bienal de Quadrinhos de Curitiba, mas foi a partir da Comic Con ao Brasil que esses eventos começaram a se multiplicar pelo país. “A migração dos quadrinhos para essas outras plataformas, ajuda a atrair atenção para os próprios quadrinhos”, reforça Ivan, cofundador da feira.

Das bancas ao mainstream

Por falar em outras plataformas, de uns anos pra cá o universo dos quadrinhos está migrando dos papéis paras as telas dos cinemas e streamings, como é o caso de Turma da Mônica Laços, filme derivado do ecossistema de Maurício de Sousa. De acordo com o coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA, a transposição de personagens de quadrinhos para outras mídias como a televisão e os jogos eletrônicos também está interferindo no aumento de suas vendas. “A característica cada vez mais transmidiática dos quadrinhos mainstream, especialmente aqueles produzidos por grandes editoras, como Marvel e DC, faz com que exista uma ligação bem próxima entre os diversos tipos de narrativas desenvolvidas em diferentes plataformas como televisão, cinema, jogos eletrônicos e smartphones”, complementa.

E não é só na indústria do cinema ou do streaming que os quadrinhos estão conquistando espaço, é em todo o mercado de comunicação e marketing. “Não era comum encontrar camiseta de super-heróis tamanho adulto até alguns anos atrás. Houve uma mudança de cenário muito grande, que é uma mudança de consciência. Hoje isso é mainstream e é um mercado que consome, que se dedica, que tem uma relação próxima as marcas, isso gera a produção de conteúdo, mais filmes, mais séries, mais dinheiro”, afirma Ivan, da CCXP.

Marcelo, da Panini, comenta que os quadrinhos é um grande ativo da companhia, pois oferece conteúdo para todos os segmentos. Waldomiro, do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA avalia que essa conquista de novos públicos, “diz respeito ao processo de legitimação cultural dos quadrinhos, que passaram a ser vistos de forma mais positiva pela sociedade, parcialmente após o aparecimento das graphic novels, que fez com que outros segmentos da população se interessassem pelos produtos derivados de quadrinhos.”, finaliza.

Waldomiro Vergueiro (Crédito: Cecília Bastos/USP Imagem)

Em entrevista ao Meio & Mensagem, Waldomiro Vergueiro, coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA, analisa qual é o atual momento dos quadrinhos no Brasil e no mundo.

Meio & Mensagem – O crescimento da vendas de quadrinhos pode ter sido impulsionado por conta dos filmes de grandes produtoras como Marvel e DC?
Waldomiro Vergueiro – Existe, sim, uma relação próxima entre os sucessos dos filmes das grandes produtoras e a venda de quadrinhos, especialmente em mercados como os Estado Unidos, mas este é apenas um dos fatores a impulsionar a venda de quadrinhos. Creio que a transposição de personagens de quadrinhos para outras mídias como a televisão e os jogos eletrônicos, também interfere nesse aumento. Além disso, a característica cada vez mais transmidiática dos quadrinhos mainstream, especialmente aqueles produzidos por grandes editoras, como Marvel e DC, faz com que exista uma ligação bem próxima entre os diversos tipos de narrativas desenvolvidas em diferentes plataformas como televisão, cinema, jogos eletrônicos e smartphones. Outro aspecto é o fato os quadrinhos hoje estarem disponíveis em diversos outros pontos de vendas, como livrarias e comic shops, ao invés de apenas nas bancas de jornais. E um terceiro fator diz respeito ao processo de legitimação cultural dos quadrinhos, que passaram a ser vistos de forma mais positiva pela sociedade, especialmente após o aparecimento das graphic novels, que fez com que outros segmentos da população se interessassem pelos produtos derivados dos quadrinhos.

Esse aumento também se reflete no Brasil? Por quê?
Os dados disponíveis a respeito são poucos e não muito confiáveis. Mas, o que eu posso afirmar é que há no país uma efervescência em torno da produção de quadrinhos, muito maior do que existia antes. Vejo essa efervescência na produção de quadrinhos por autores nacionais, que aumentou substancialmente nos últimos anos, com uma maior variedade de títulos sendo lançados e uma clara melhoria da qualidade de tramas, desenhos e material produzido. Os eventos que são realizados em torno dos quadrinhos também se multiplicaram, com crescente participação de autores locais e não apenas a venda de quadrinhos produzidos pelas grandes editoras internacionais. Também ocorreu um incremento no apoio governamental à produção de quadrinhos, com programas nacionais e estaduais voltados para eles, como é o caso, em São Paulo, do ProAC, que tem possibilitado o lançamento de obras importantes e de qualidade, além do reconhecimento da publicação de histórias em quadrinhos como uma categoria legítima da indústria editorial.

Qual é a importância desse crescimento para o mercado?
Pensando globalmente, esse aumento da produção fortalece a linguagem dos quadrinhos, que se aprimora e atinge vários suportes, conquistando novos públicos e se firmando tanto como uma alternativa de entretenimento para o grande público como uma linguagem propícia para o aprofundamento e discussão de temáticas mais sérias e profundas.

Além dessas grandes marcas, existe algum outro fator que impulsiona o crescimento do interesse dos quadrinhos?
A legitimação da linguagem quadrinística e seu reconhecimento por camadas influentes da sociedade, como a Academia e o meio ambiente educacional em geral. Isso garantiu a entrada dos quadrinhos em espaços aos quais antes encontravam muitas dificuldades para penetrar, como as escolas, as bibliotecas e os museus. Isso possibilitou o aparecimento e ampliação de narrativas quadrinísticas enfocando temas sociais mais candentes. A velha máxima de que “quadrinho é coisa de criança” foi perdendo sua força na sociedade e hoje eles são vistos como podendo ser objeto de interesse e trazendo narrativas adequadas para todos os segmentos sociais, independentemente de faixas etárias ou nível educacional.


Qual é a importância dos quadrinhos para fomentar a produção de conteúdo sobre o universo geek?

As histórias em quadrinhos estão imersas e umbilicalmente ligadas ao universo geek. Assim, o crescimento delas influi diretamente na produção de conteúdo desse universo. É em grande parte nos quadrinhos que ele vai buscar inspiração para suas tramas, temáticas e desenvolvimentos narrativos. Eu costumo dizer que é impossível alguém passar um dia que seja, em qualquer cidade média ou grande do mundo, sem se deparar com um elemento das histórias em quadrinhos, seja um outdoor, um grafite na parede de algum estabelecimento ou residência, um poster em uma loja, uma camiseta vestida por algum entusiasta do meio. Isso, para mim, é um testemunho de quanto as histórias em quadrinhos estão imersas na sociedade atual.

Podemos dizer que a geração Z está mostrando interesse pelos quadrinhos por conta dos filmes de heróis atuais?
As últimas pesquisas de leitores têm apontado que a média de idade dos leitores de histórias em quadrinhos está pouco acima dos vinte anos. Assim, parece-me que poderíamos, sim, afirmar que a geração Z está mostrando maior interesse pelos quadrinhos. Existe grande probabilidade desse interesse ter relação com o aparecimento dos filmes de heróis atuais. Mas eu diria que, mais do que o simples aparecimento dos filmes de heróis, esse interesse está ligado à forma como essas produções cinematográficas dialogam com a indústria de quadrinhos e o esquema narrativo que esta última desenvolveu nos últimos cinquenta anos.

**Crédito da imagem no topo: Divulgação/CCXP

 

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