A função do conteúdo humorístico em tempos de crise

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A função do conteúdo humorístico em tempos de crise

Canais de humor criam programas digitais para suprir demanda da audiência em casa; humoristas criam novas rotinas e processos para fomentar criatividade


16 de abril de 2020 - 6h00

O conteúdo, de forma geral, tem sido um aliado da população em isolamento social por conta do novo coronavírus. Uma das categorias de entretenimento, o humor, pode servir de fuga à realidade ou, então, como uma forma mais leve de interpretar os fatos. Nesse sentido, canais humorísticos estão investindo em estratégias para oferecer uma maior variedade de programas e entretenimento multiplataforma para divertir quem está em casa.

 

Vai Passar, primeiro programa produzido remotamente pelo Multishow, trata das situações comuns da nova realidade na pandemia; A atriz Monique Alfradique é uma das envolvidas no projeto (Crédito: Reprodução/Multishow)

Nesse momento em que enfrentamos a pandemia de Covid-19 e tantos problemas sociais, econômicos e políticos, o humor serve como descompressor da realidade; é nossa válvula de escape. Uma pesquisa que realizamos em parceria com o Coletivo Tsuru mostrou que 92% dos brasileiros dão alta importância à diversão. Ela é uma necessidade comum a todas as pessoas. Nossa missão sempre foi a diversão e entendemos que agora esse papel é ainda mais importante. Reorganizamos toda a nossa programação para continuar levando essa leveza tão necessária no contexto atual”, conta Tatiana Costa, diretora do Multishow.

O canal teve que adiar estreias já programadas e está investindo na ampliação de sua programação no digital com lives diárias. Uma delas é o Festival de Humor, que acontece às quinta-feiras no Instagram do Multishow, com apresentação de humoristas como Gkay, Rafael Cunha, Willou e Watson e Paulinho Serra. No YouTube, os quadros seguem em versão “quarentena”, como o Difícil de Focar, da Blogueirinha, personagem do criador de conteúdo Bruno Costa. O YouTube também está sendo alimentado por vídeos de programas da grade como o Lady Night, Vai que Cola e Tô de Graça.

Com estreia feita no sábado, 11, na TV, o programa Vai Passar, estrelado por Monique Alfradique, foi a primeira produção do canal feita 100% remotamente. Ele retrata situações comuns do isolamento social, como a adaptação ao home-office. “O jornalismo tem feito o papel de informar e o humor tem levado um pouco de leveza para esse momento tão incerto que estamos vivendo.Não dá para fazer humor com a causa, mas dá para fazer com o que reflete no comportamento das pessoas, na nova forma de se relacionar. É possível e necessário neste caso. O humor faz você elevar os sentimentos a outro nível, te permite rir de situações difíceis e te dá uma sensação de bem-estar e leveza. Eu li uma vez que Freud definiu o humor como o mais elevado grau de sofisticação do ser humano, a manifestação mais sofisticada do espírito humano”, argumenta Alfradique.

No estudo Comedy Hack, a ViacomCBS, dona do canal Comedy Central, mapeou que tipo de humor foi importante para o brasileiro neste período de pandemia. No começo, ainda em março, o maior volume de piadas eram sobre o novo cotidiano, sobre os desafios da vida neste momento. Mais recentemente, houve uma mudança para um apreço pelo humor mais crítico e preocupado que, ao mesmo tempo que é engraçado, traz um efeito de esclarecimento sobre o cenário atual.

Humor é vital, é uma paixão e uma espécie de Rivotril natural”, coloca Ari Martire, diretor sênior de ad sales e brand solutions da ViacomCBS Brasil. “Estamos muito focados no engajamento com a nossa audiência através das redes sociais que, neste momento, são um dos drivers mais importantes para direcionar os próximos passos”, diz o executivo.

No canal, a primeira medida foi abraçar o movimento #JuntosADistância e reunir os melhores conteúdos do Comedy Central em um especial que foi denominado #RirEmCasaÉOMelhorRemédio. As produções originais, assim como no Multishow, enfrentaram desafios de produção, mas a ViacomCBS investiu na finalização de programas já gravados. Um deles é foi a segunda temporada da série Homens?, criada e estrelada por Fabio Porchat, que estreou na terça-feira, 14.

 

Segunda temporada de Homens? mostra como os protagonistas lidam com a gravidez de Natasha, que se relacionou com todos na primeira temporada (Crédito: Rachel Tanugi/Divulgação/ViacomCBS)

“É uma coisa curiosa, porque no meio dessa pandemia, onde todas as emissoras estão passando reprises, a gente tem um programa inédito na mão. É um ótimo momento para distribuir conteúdo para as pessoas e, nada melhor do que elas rirem para esquecer um pouco dos problemas. É tanta preocupação na nossa cabeça, que uma série que faz a gente pensar em outra coisa, nem que seja por 30 minutos, dá um alívio na alma das pessoas”, conta o humorista.

O Comedy Central também está exibindo os melhores momentos de A Culpa é do Cabral, com comentários de Fabiano Cambota em sua casa, e prepara um especial do programa no dia 22 de abril, data do descobrimento do Brasil, com os humoristas reunidos virtualmente.

Eu acho que dá para fazer humor com tudo, com qualquer coisa, inclusive com essa situação. No fim das contas, a gente pode rir da nova situação em que estamos, da ignorância das pessoas para com o vírus, do vírus, só não podemos rir de quem morreu, mas podemos rir desse momento. Eu acho que é até saudável que a gente ria, para poder justamente com o humor, jogar uma luz sobre determinadas situações e, com o corona, poderia ser isso: o humor alertar a população, a gente aprende e ri”, defende Porchat.

Rindo pela casa

Para criar, ambos os humoristas e a equipe de produção dos canais estão tendo que se reinventar na metodologia de produção. Na ViacomCBS, os criativos já estão acostumados a trabalhar à distância pois há profissionais em diversos países trabalhando nas produções, mas a frequência das reuniões por conferência aumentaram — hoje, são diárias — para discutir novas ideias, evitar desencontros de informações, manter a socialização “e colocar as risadas em dia”, diz Martire. No Multishow, o foco é desenvolver novos projetos de humor enquanto isolados.

No lado dos humoristas, Monique conta que buscou criar uma rotina para pensar em projetos, pesquisar, escrever e ler. “Parece clichê, mas funciona. Neste período de isolamento social consegui colocar de pé projetos em um prazo curto de tempo que normalmente não conseguiria, como o De Quinta com Monique Alfradique, no meu Instagram, onde faço entrevistas com artistas e especialistas, que acabam dando dicas para enfrentarmos esse período de quarentena. E também o Vai Passar! no Multishow”, conta.

Nesse período de quarentena e home office, eu tenho escrito bastante, mas está difícil concentrar. Nas duas primeiras semanas eu fiquei bastante aéreo, meio zumbi pela casa. Mas agora estou conseguindo focar mais e já consegui escrever algumas coisas”, diz Fabio. Porchat também tem realizado transmissões ao vivo com diferentes convidados para conversas variadas, inclusive sobre o novo coronavírus, diariamente. 

**Crédito da imagem no topo: Irina Devaeva/iStock

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