O fim do Uber

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Opinião

O fim do Uber

Lado "Darth Vader" do serviço pode colocar fim a seu futuro lucrativo


18 de abril de 2016 - 8h00

O Uber mudou a vida dos transportes urbanos e obrigou cooperativas de táxis mundo afora a melhorar a qualidade de seus serviços do dia para a noite. A empresa, que é uma das queridinhas do Vale do Silício, tem valor estimado de R$ 250 bilhões quando seu tão antecipado IPO (a oferta pública de ações) acontecer nos próximos meses.

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Depois que atinge base ideal de motoristas, tratamento muda.

Para os mais entendidos, o potencial do Uber é gigantesco. Apesar de já estar presente em 402 cidades ao redor do mundo, ainda existe uma infinidade de mercados a explorar. E mesmo quando todos os principais centros urbanos estiverem “uberizados”, ainda existem os outros serviços que começam a aparecer.

Uma das vantagens de viver na região de São Francisco é ver em primeira mão os testes do Uber. O mais recente é a entrega de refeições. Mas isto é apenas o começo. Imagine tudo o que pode vir quando eles tiverem as cidades repletas de motoristas… Será que precisaremos dos correios, motoboys, qualquer delivery?

Mas há também o lado Darth Vader do Uber. E ele pode acabar com seu aparente lucrativo futuro.

A empresa tem uma fama de bully (aquele que usa violência para amedrontar e conquistar seus objetivos). Sua entrada em novos mercados e as brigas com prefeituras em diversos países são uma demonstração do desrespeito que tem pelas regras locais.

Isto não acontece somente em países em desenvolvimento, como o Brasil. Vancouver, no Canadá, não aceita Uber. Cidades na Itália, Alemanha, Holanda e Espanha também não.

Outra forma de violência praticada refere-se às taxas cobradas dos motoristas.

Quando chegam a um novo mercado e começam a recrutar motoristas, são amáveis e parceiros. Fazem de tudo para criar uma frota de carros bons e estabelecer a eficiência de seu serviço. O tempo de espera por um Uber é um indicador-chave para o consumidor escolher seus serviços. Se um carro demora meia hora, melhor escolher mesmo um táxi, certo?

Mas à medida que o mercado começa a ser povoado, o Uber adota uma estratégia bem diferente. Após o ponto de saturação, quando não precisam mais de novos motoristas, aumentam suas taxas de forma extorsiva. Os motoristas se veem entre tarifas constantemente reduzidas e taxas pagas ao Uber que crescem sem parar. O que começou com 20% pode chegar até perto de 40%.

O resultado é a desilusão destes motoristas e o consecutivo abandono. Eles, que deveriam ser seu principal parceiro, são tratados da pior forma possível. Se não estão contentes que desistam de dirigir. Sempre haverá um novo motorista se inscrevendo e aceitando pagar o que lhe é cobrado.

Aqui na Califórnia, onde existem alternativas ao Uber, como a Lyft, os motoristas começam a debandar para a concorrência. Muitos ainda dirigem para ambas, mas se puderem escolher, vão de Lyft, que tem uma cobertura de serviço muito menor, oferece bônus por produtividade e taxas mais amigas.

Eu uso ambos os serviços. Já usei Uber nos Estados Unidos, Brasil, Coréia, Inglaterra e Itália. Sempre que pego um de seus carros, pergunto aos motoristas o que eles acham de trabalhar para a empresa. Quanto mais novo o serviço, mais satisfeitos. Aqui em São Francisco parei de perguntar, porque a conversa é sempre a pior possível.

O oposto acontece quando vou de Lyft. Não sei quanto tempo isto vai durar, mas se eles foram espertos, certamente tratarão seus motoristas como parceiros. Afinal, até o carro sem motorista do Google chegar ao mercado, sem eles não há transporte.

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