Falta amor na sua liderança

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Opinião

Falta amor na sua liderança

Olhe ao seu redor e reflita sobre quantas pessoas conseguem se manter ilesas emocionalmente sob stress


5 de outubro de 2016 - 8h00

Jean-Pierre estava desesperado em virtude das mudanças que aconteceriam na empresa onde é responsável pela área de recursos humanos. Por determinação da matriz, 15% dos custos de pessoal deveriam ser cortados e o CEO estava fazendo muita pressão sobre ele e os demais diretores. Jean-Pierre só conseguia pensar que seus colegas passariam odiá-lo e que o veriam como traidor. Sob alto estresse, o medo o paralisou e ele não conseguiu lidar com a situação. Ele só precisava de amor.

Na minha temporada final na Berlin School of Creative Leadership aprendi um conteúdo muito valioso. Modelo comportamental R.I.S.V. do Prof. Dr. Robert Weisz baseado em décadas de estudo de inteligência emocional chegou a quatro perfis de comportamento identificados a partir de um longo questionário (eu respondi ao questionário, se você ler até o final o texto vai conhecer meu perfil). O nome de cada perfil está relacionado à palavra-chave que o define: R = relationships; I = ideas; S = structure; V = value.

Os perfis que o Prof. Weisz identificou se aplicam a todos nós e basicamente o modelo diz que o que muda o nosso comportamento para o bem e/ou para o mal é a nossa tolerância ao stress. Quanto maior a sua capacidade de manter suas qualidades sob stress, maior a sua inteligência emocional, traduzida na sua capacidade de evoluir e crescer. Quanto mais sensível você for ao stress, mais rápido seu corpo e mente entram no módulo de sobrevivência, apresentando comportamentos como o do Jean-Pierre no começo desse texto.

O caminho para resgatar pessoas modo sobrevivência, segundo a pesquisa do Dr. Weisz, é a energia positiva, ou, mais amor como eu acho mais legal colocar. Mas, antes de chegar à solução, vamos entender melhor o problema (e você me diga se por ventura se identifica com algum). Sabe aquelas situações de extrema pressão, um dia antes de uma entrega importante, falta de tempo combinada com alta responsabilidade?

Então, é aí que a grande maioria de nós entra em survival mode. Pessoas do tipo R (relationship) como o nosso amigo Jean-Pierre, se perdem entre o que as pessoas vão pensar e o que elas já pensam, ficando sensíveis à qualquer opinião, com muita dificuldade de tomar uma decisão. Já sem o efeito do stress, JP (vamos dar um apelido a ele) é um excelente colaborador, que facilita muitos processos por meio da sua ótima capacidade de se relacionar com as pessoas.

JP representa apenas um dos quatro perfis. Ainda temos os do tipo V (value) que se tornam extremamente autoritários sob pressão, podendo abrir mão da ética e de códigos morais; mas que sem o efeito do stress são empreendedores e visionários.

Os do tipo I (ideas) sob stress procrastinam todas as tarefas, se perdem no meio das suas pilhas de papel e se tornam exigentes além do limite com o time; já sem o stress são criativos, encantadores e inspiradores. E, por fim, os do tipo S (structure), que sob stress se tornam inflexíveis, presos a normas, tentam diminuir suas responsabilidades e não se arriscam; enquanto sem o efeito do stress são as melhores pessoas do mundo para manter tudo funcionando na mais perfeita ordem.

O resgate de todos os perfis em modo sobrevivência passa por tirá-lo do stress, enchendo seus corações de energia positiva e reforçando as palavras-chave do que é mais valioso para cada um deles. Uma tarefa bastante difícil porque as atitudes das pessoas sob stress costumam estimular o stress em todas as pessoas ao seu redor. Dar energia positiva significa ter controle emocional e maturidade de olhar que o benefício do resgate dessa pessoa é muito maior do que sua vontade de simplesmente ficar longe dela — ou agredi-la, se você for do tipo V.

A solução também passa por diminuir o culto ao stress e agressividade que o nosso mercado tem, em detrimento da calma e melhor convívio entre as pessoas no ambiente de trabalho. Não, o stress não é bom para a eficiência do trabalho e muito menos para a alta performance, porque ele tira as habilidades daqueles que têm baixa inteligência emocional imediatamente.

Olhe ao seu redor e reflita sobre quantas pessoas conseguem se manter ilesas emocionalmente sob stress. Poucas, né? Pessoas em modo sobrevivência não conseguem resgatar outras pessoas em modo sobrevivência. Por isso, cuidar do ambiente, somado à busca por ter na equipe pessoas com alto índice de inteligência emocional e aceitar que a energia boa é o único resgate possível configuram a melhor estratégia para o negócio rodar de forma mais eficiente, para diminuir o turnover e aumentar a atratividade de talentos.

Esse aprendizado e “prestenção” é principalmente para os líderes, que detêm a responsabilidade de cultivar um melhor ambiente e de resgatar as pessoas do modo sobrevivência, no lugar de simplesmente espalhar pressão e esperar que isso seja positivo para a produtividade da empresa.

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