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Falamos um novo idioma e quem quiser entrar na indústria da comunicação precisa, pelo menos, conjugar alguns verbos


17 de novembro de 2016 - 16h30

Foto: Reprodução

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Educação está na pauta do dia. Revisões constantes da grade curricular, vergonha de ver o Brasil nas últimas posições do mundo e alunos tratados como linha de produção em um formato antigo de ensino são algumas das manchetes constantes da imprensa. Não tenho a menor dúvida de que a próxima revolução da nossa sociedade se dará nesse campo. Bem verdade que muita coisa boa já acontece: Fundação Lemann capitaneando uma série de atividades para transformar o acesso à educação no País, iniciativas como Hackademia, que organiza fóruns de discussão sobre EduTech, e empreendedores como Claudio Sassaki, que consegue colocar em pé a Geekie.

Sou otimista e acredito que nos próximos dez anos avançaremos mais do que nos últimos cinquenta nas linhas do que argumenta Marcelo Lacerda, um dos maiores empreendedores da indústria digital no Brasil. Estamos vendo isso na indústria do cinema, da música, da telefonia, do transporte… Por que não na educação? Mas o otimismo não pode cegar. O que fazer hoje?

Há dois anos, escrevi sobre minha (má) impressão em entrevistas com estagiários que buscam colocação aqui na Fbiz. Salvo algumas exceções, normalmente sabem tudo de memes, youtubers e o que está pegando nas redes sociais, mas muito pouco sobre conceitos básicos de como a indústria da comunicação atual opera. ROI, CPA e GA não querem dizer nada para essa turma.

Passado um tempo e refletindo mais sobre o assunto, concluo que também falta noção do uso de ferramentas. Pelo menos um cheiro de como funciona o Google Analytics e o Facebook for Business, a lógica por trás das Ad Networks, uma leve compreensão sobre melhores práticas para a produção de conteúdo, uma boa referência de bom uso de mobile marketing. Claro, é no estágio que todos poderão se aprofundar, mas por que as faculdades não complementam os estudos do Kotler e Porter com uma visão mais prática da coisa?

Passado um tempo e refletindo mais sobre o assunto, concluo que também falta noção do uso de ferramentas… Claro, é no estágio que todos poderão se aprofundar, mas por que as faculdades não complementam os estudos do Kotler e Porter com uma visão mais prática da coisa?

No meu último ano de faculdade, eu estava mais preocupado com o TCC e com o estágio do que qualquer outra coisa. Não vejo muita diferença quase 20 anos depois de formado. Imagine que produtivo seriam os módulos técnicos? Meter a mão na graxa usando ferramentas de pesquisas do Ibope, TGI, alguma DMP, disparo de e-mails, Google, Facebook, e por aí vai. Certamente, o aluno já teria uma visão mais concreta do trabalho, poderia fazer escolhas mais conscientes sobre que profissão seguir e seria mais rapidamente aproveitado pelas empresas.

O mesmo vale para a referência de trabalho e literatura do trade. Poucos são os alunos que conhecem a Wired, FastCompany, Endeavor, Draft e até esta publicação. Ou ainda os que já pesquisaram os melhores cases do Cannes Lions, Effie, Wave, CCSP, Clio, entre outros.

Parece óbvio, mas não é. Estou convencido de que falamos um novo idioma e quem quiser entrar na indústria da comunicação precisa, pelo menos, conjugar alguns verbos. Não só quem está iniciando na carreira deve levar isso em consideração, mas principalmente quem já ocupa cargos elevados, como aponta a pesquisa comentada pelo Pyr Marcondes.

Não é tão complicado quanto parece, e grande parte do aprendizado pode, inclusive, ser feito gratuitamente ou a preços bem acessíveis. Estão aí IAB e ABRADI que não me deixam mentir. E também o Grupo de Planejamento, o Grupo de Midia e o Grupo de Atendimento.

Sou a favor de uma aptidão ferramental, uma educação que honestamente não tive. Acredito que isso é análogo a aprender a tocar um instrumento ou outro idioma. Sem esses pilares relativamente bem estabelecidos, criaremos profissionais mancos para ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e complexo.

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