Fui ao futuro e voltei

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Opinião

Fui ao futuro e voltei

Mesmo após tantos avanços, o novo não está sendo criado por máquinas, e sim por pessoas como eu e você


1 de março de 2017 - 17h06

Tem uma frase em inglês que gosto muito: “the more you learn, the more you grow”. E, nos últimos anos, tenho procurado sempre que possível colocar isso em prática. Seja lendo, seja fazendo novos cursos. E, naturalmente, quanto mais aprendo, mais percebo o quanto ainda não sei, e a vontade de aprender se torna ainda maior.

Minha última experiência foi realmente diferenciada. Juntamente com 25 líderes de grandes empresas brasileiras dos mais diversos segmentos, participei de um programa de imersão no Vale do Silício. Fui ao futuro e voltei. Vou contar um pouco do que vi.

Imagine uma escola sem professores. Essa é a disputadíssima e gratuita 42. Não tem professores, mas tem alunos. E que alunos. Selecionados inicialmente através de um processo on-line de jogos. Isso mesmo, jogos. Depois, os pré-selecionados passam uma semana no que eles chamam de piscina, onde os bons voltam para casa e os diferenciados e principalmente os mais resilientes ficam. Resilientes porque passam nessa semana, 14, 16 horas por dia desenvolvendo tarefas.

Conhecemos um brasileiro, do interior de São Paulo, de 18 anos, que conseguiu vencer essa batalha inicial e está lá. Vivendo, segundo ele, à base de Miojo Gourmet e com R$ 200 por mês. Sabe o que eles ensinam lá? O que o Vale do Silício mais contrata nos últimos anos. A 42 forma desenvolvedores em um curso que vai de 3 a 5 anos. Bem antes de concluir, esses alunos já estão sendo disputados pela Google e cia.

No Vale do Silício, o incentivo começa pela cultura da valorização dos que empreendem, inclusive dos que algumas ou muitas vezes não deram certo. Errar não é apenas humano – é visto também como referência de experiência e coragem. Try again and you will succed.

Essa cultura tem um papel muito importante. No Brasil, vendedor é visto como aquele cara chato, muitas vezes inconveniente. Aqui, se aprende a vender desde cedo, na banquinha de limonada na frente de casa. Então, quem vende tem respeito, e a maioria das pessoas acaba desenvolvendo essa habilidade. O inventor sabe que não basta criar, tem que saber vender a sua ideia também.

Mas não é só isso. Tem gente pensando também no que hoje em dia, com a aceleração dos processos, multitasking e tudo pra ontem, já não se pensa mais: pensar a longo prazo. Lembra quando você tinha 20 poucos anos e imaginava como seriam as coisas no ano 2000? Hoje não estamos conseguindo pensar nem como elas serão daqui a 5, 10 anos. Pois a The Long Now Foundation resolveu fazer todo mundo parar para pensar. Como? Estão construindo um relógio gigante no meio do nada, projetado para durar mais de 10 mil anos. Ele vai fazer um tic a cada ano e um cuco a cada século. O sentido é fazer as pessoas refletirem um pouco sobre a necessidade de se pensar no longo e longuíssimo prazo, e não apenas no hoje. Sabe quem está ajudando a bancar isso? Um carinha chamado Jeff Bezos.

Mas, e aí, dá pra voltar do futuro e começar a fazer um Vale do Silício no Brasil e até quem sabe na Bahia antes desse relógio dar o primeiro cuco? Dá. Sabe por quê? Porque tudo que vimos nessa viagem, tudo que aprendemos, tinha uma pessoa por trás. E, em muitos dos lugares onde estivemos, tinha um brasileiro, lutando contra todas as adversidades e se destacando. Como a cientista Carolina Oliveira, da Startup OneSkin, que conhecemos na IndieBio, uma aceleradora de projetos de Biotecnologia, cuja proposta é transformar cientistas em empreendedores (lembra da história da limonada?). Carolina, cujo objetivo é desenvolver uma pele envelhecida que permita estudar mecanismos para prevenir o envelhecimento, está quase chegando lá.

Em um ambiente tão disruptivo, a velha e boa oficina, aquele lugar onde ideias saem do papel e viram produtos de sucesso, dentro do conceito de que muitos dos negócios como a Apple saíram de uma garagem, conhecemos também a TechShop e o Movimento Maker. Uma grande “garagem”, onde quem tem uma ideia e precisa fazer um protótipo encontra ferramentas e orientação para poder fazê-lo. Barack Obama esteve lá para prestigiar. Não como torneiro mecânico (apesar de lá ter um bom torno se necessário), mas como um líder que sabe a importância de valorizar quem está começando e precisa de estrutura para se desenvolver.

Empreender e criar, acreditar e trabalhar para que os sonhos aconteçam. E, se não acontecer de primeira, não ter vergonha. Aprender com os erros e avançar. Sempre em frente, porque depois de tudo que vimos, uma coisa ficou bem clara: mesmo após tantos avanços, o novo não está sendo criado por máquinas, e sim por pessoas. Pessoas, como eu e você.

 

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