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Opinião

A todos os Marcios, Davids, Marcelos, Luizes, Paulos, Pedros, Josés e Sérgios

Busquem inspiração em iniciativas que transformam a vida da sociedade pela vida das mulheres


8 de março de 2017 - 9h00

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(Crédito: reprodução)

Fui assistir a Hidden Figures. Depois do filme, voltei caminhando para casa e pensando que vivo em um mundo em que muitas mulheres lutaram para existir. Mulheres que pagaram um preço alto para realizar coisas que não tinham a ver só com elas, que ajudaram a construir o que tem de bom na história que estamos vivendo agora. Mas elas não fizeram isso sozinhas, muitas vezes tiveram a ajuda e o apoio de homens e corporações que acreditaram, apostaram, foram os primeiros. Os primeiros a abrir as portas, mudar as cadeiras de lugar, reinventar os conceitos, mudar as regras.

Babiker Bedri (1856-1954) foi um desses homens. Guerreiro Mahdist que se tornou ativista e trabalhou para criar os meios para a educação das mulheres no Sudão, fundou a primeira escola para meninas no país em 1907. Suas ideias foram fortemente combatidas por sudaneses mais velhos que não achavam que meninas tinham de estudar. Bedri lutou pelo que acreditava e a Babiker Badri Scientific Association for Women’s Studies há muito tem feito diferença como uma ong dedicada a alcançar a igualdade e o desenvolvimento necessários para a plena realização da mulher.

Muhammad Yunus, economista e banqueiro bengali, é um desses homens. Laureado com o Nobel da Paz em 2006, fundou em 1983, em Bangladesh, um banco para emprestar dinheiro barato para pessoas de baixa renda e, assim, fomentar o empreendedorismo e acabar com a pobreza. O Grameen Bank oferece microcrédito para milhões de famílias sem garantias nem papéis. Noventa e sete por cento de seus beneficiários são mulheres (6,6 milhões) e a taxa de recuperação dos empréstimos é de 98,85% (www.grameen.com). Yunus descobriu o potencial empreendedor das mulheres de sua região e também descobriu que o desejo delas por independência e autonomia é tão grande que com pouco dinheiro e encorajamento elas iniciam jornadas que geram resultados que são investidos no desenvolvimento de longo prazo de suas famílias. Yunus afirma que a participação das mulheres é necessária para o sucesso de qualquer sociedade.

Yunus e Bedri são exemplos de homens que ajudaram a transformar a vida da sociedade transformando a vida de mulheres. Líderes nos quais os CEOs das empresas de comunicação, agências de publicidade, indústrias de bens de consumo, indústrias de serviço podem encontrar inspiração.

Todos temos sido impactados pelas discussões envolvendo o feminino que, com ainda mais força nos últimos anos, têm se proliferado nos fóruns digitais, no TED, nas conferências da ONU, no Fórum Econômico Mundial

Todos temos sido impactados pelas discussões envolvendo o feminino que, com ainda mais força nos últimos anos, têm se proliferado nos fóruns digitais, no TED, nas conferências da ONU, no Fórum Econômico Mundial. Por um lado, discussões que são parte de um movimento que, de várias formas, vem acumulando conquistas. Algumas bem visíveis na publicidade. Eu estava aqui nos últimos 30 anos e não me lembro de nenhum momento em que discutimos e produzimos tal variedade de conteúdo sobre e a partir da realidade feminina. Não me lembro de ter participado tantas vezes de discussões sobre igualdade, padrões, estereótipos, representação. Nem de tantas vezes ver mulheres de tantas raças, idades, pesos, tipos de cabelo e tons de pele em campanhas publicitárias. Também não me recordo de já ter visto tantas fotos de mulheres nas notas sobre contratação e nas listas de jurados de tantos prêmios.

Entre as 50 maiores agências do País, 48 são lideradas por um homem

Por outro lado, discussões que ainda não parecem ter alcançado o necessário status de prioridade na agenda institucional da grande maioria de homens que comanda a publicidade brasileira. Entre as 50 maiores agências do País, 48 são lideradas por um homem. Uma das bandeiras da exceção está nas mãos de Gal Barradas, que tem como inspiração os passos de Mercedes Erra, fundadora da rede de agências BETC, membro ativo do Comitê Francês de Direitos Humanos e membro permanente da comissão francesa sobre a imagem das mulheres pelos meios de comunicação. Na BETC no Brasil, Gal tem implementado políticas positivas e tem estimulado discussões tanto sobre práticas internas quanto sobre a produção de mensagens para o mercado, mas ela concorda que podemos ir mais longe se muitas dessas discussões forem feitas coletivamente e promovidas pela alta gestão como ferramentas de transformação de resultados.

Ganhar status de prioridade na agenda institucional dos CEOs significa, entre outras coisas, transformar em discussões da categoria assuntos como tolerância zero ao assédio, proteção à mulher em caso de denúncia de assedio, proporcionalidade, diferenças salariais, licença maternidade e paternidade, mas não apenas essas. Significa criar fóruns onde problemas e soluções, hoje isoladas, sejam compartilhadas.

Recentemente, o CEO de uma grande agência foi surpreendido com a consulta de uma de suas diretoras sobre licença maternidade. Ela e a esposa estão grávidas. Óvulo de uma, barriga da outra. O bebê não vai nascer da barriga dela. Uma perspectiva sobre maternidade para a qual nem todos já estão preparados. Como nem todos estão preparados para discutir questões envolvendo executivas transexuais ou trabalhadoras que saem de fé- rias para cirurgias de mudança de sexo. A pauta de discussão sobre o feminino é longa e precisa envolver as corporações em fóruns que incluem, mas vão além da quantidade de mulheres nas em- presas, na criação ou nas campanhas.

Enquanto assistia Hidden Figures, pensei em quantas pessoas, em outras empresas, poderiam ter se beneficiado com a história vivida entre as paredes da Nasa. O mundo está claramente se reinventando agora. Com certeza, vamos chegar a um resultado melhor e mais rápido se fizermos isso juntos.

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