Sacode a poeira

Buscar
Publicidade

Opinião

Sacode a poeira

Fica difícil não sucumbir ao desânimo, após acumulados dias de tensão e a promessa de outros tantos, mas oportunidades não respeitam o mantra de terra arrasada das crises


4 de junho de 2018 - 11h11

Crédito: Fotoarena/Folhapress

A greve dos caminhoneiros e a crise de abastecimento jogaram para o acostamento o que restava de esperanças de uma recuperação mais acentuada da economia para este ano. Barbas já vinham sendo colocadas de molho desde o final do primeiro trimestre, quando os indicadores macroeconômicos prévios mostraram uma desaceleração na retomada. A tendência foi confirmada pela divulgação dos números oficiais pelo IBGE na quarta-feira, 30 de maio. O Produto Interno Bruto (PIB) do País cresceu 0,4% entre janeiro e março e 1,3% nos últimos 12 meses.

No mais recente boletim Focus, produzido pelo Banco Central a partir de consulta a cem instituições financeiras, a projeção de crescimento para o ano foi reduzida pela quarta vez consecutiva, agora de forma acentuada para um indicador semanal: de 2,5% para 2,37%. No ano passado, analistas de mercado chegaram a prever crescimento do PIB na casa dos 3% para 2018.

Além da patinada de agentes motores do desenvolvimento e do consumo, como desempenho da indústria e nível de emprego, a interrupção na trajetória de queda dos juros e a alta consistente do dólar em maio foram vitaminadas pelo atual cenário da corrida presidencial — que, ainda imprevisível, serve de pretexto para muita especulação nos mercados financeiros — e as dúvidas cada vez maiores, amplificadas pela atuação durante a negociação com os manifestantes, de que o atual governo nem sequer conseguirá conduzir o País com dignidade até o fim do mandato.

Fica difícil não sucumbir ao desânimo, após acumulados dias de tensão e a promessa de outros tantos, mas oportunidades não respeitam o mantra de terra arrasada das crises

Um aumento na volatilidade no ambiente de negócios já era esperado para o período, cheio de peculiaridades, em que a eleição começa a se aproximar, enquanto ainda há muita espuma para se determinar as reais chances de cada candidato.

Mas a expectativa era de que a economia já estivesse girando com maior robustez a essa altura, para seguir, ainda que aos trancos e barrancos, sua trajetória de retomada: no ano passado, a maior parte das cestas e categorias de produtos conseguiu se recuperar, ainda que moderadamente, como mostra o levantamento Brand Footprint, da Kantar Worldpanel, sobre as marcas mais escolhidas pelos consumidores brasileiros no ponto de venda, publicado anualmente em primeira mão por Meio & Mensagem. Investimentos em publicidade, para aumentar a base de consumidores e conquistar novos targets, e o atendimento da expectativa do consumidor em termos de conveniência e relevância, por meio de uma estratégia multicanal e o desenvolvimento de produtos e formatos que satisfaçam seus anseios, estão entre os principais pontos em comum entre as marcas que mais ganharam espaço na preferência popular — como mostra a reportagem do editor Fernando Murad, publicada na edição impressa desta semana.

Outro movimento registrado pelo estudo é o de marcas que se posicionaram como opções de custo mais baixo durante o período mais grave da crise, conquistaram a confiança do consumidor e, com suas propostas fortalecidas, passaram a ser consideradas também por sua equação de valor.

Ou seja: fica difícil não sucumbir ao desânimo, após acumulados dias de tensão e a promessa de outros tantos, mas oportunidades não respeitam o mantra de terra arrasada das crises. Para aproveitá-las, é preciso estar sempre atento ao espírito do tempo e ao clima do momento, como bem lembrou o neurocientista Pedro Calabrez, em entrevista à repórter Bárbara Sacchitiello, que você, caro leitor, também confere nas páginas da edição 1813 de Meio & Mensagem.

“As boas campanhas são aquelas que entendem o ser humano que está do outro lado, sabem que quem está ali é alguém com anseios, angústias, hábitos, atitudes, aspirações e contradições, que faz comparações, associações, se relaciona com os outros e que é parte de um contexto social e econômico de um país que está fervendo com essas questões”, afirmou Calabrez, antes de arrematar. “Então, se você não entende de ser humano, nunca entenderá de negócios”.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quem é o anunciante e quem é o veículo?

    Os próximos anos serão críticos na consolidação do mercado de varejo tradicional e, também, dos sistemas operacionais de TVs conectadas

  • Técnica e estratégia

    Ambiente estressado pela pulverização de opções de mídia e pelas mudanças de comportamento da audiência valoriza os profissionais especialistas na atividade, mas exige desempenhos mais fundamentados