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Opinião

Privacidade de dados: o Brasil no caminho certo

A Lei Geral já é um primeiro passo, mas as boas práticas virão com anunciantes mais responsáveis e usuários mais conscientes


30 de julho de 2018 - 12h36

Créditos: Matjazslanic/iStock

O mercado digital no Brasil está prestes a se transformar. Impulsionado pela União Europeia, que há cerca de um mês exigiu de todas as empresas que trabalham de alguma forma com dados pessoais de seus cidadãos se adequem à lei de proteção de dados local, conhecida como GDPR (General Data Protection Regulation), o Senado brasileiro aprovou o projeto de lei que prevê a criação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Para sua implementação, falta ainda a sanção do presidente Michel Temer, mas estamos no caminho certo para garantir um dos direitos mais legítimos e importante dos cidadãos: o direito à privacidade.

A discussão em torno do tema demorou para acontecer por aqui, mas se faz cada vez mais urgente e necessária. Algumas grandes marcas já perceberam que com esse assunto, não se brinca. Após o escândalo envolvendo Facebook e Cambridge Analytica e vários outros que aconteceram de lá para cá, o assunto dominou a agenda de
reuniões do time de marketing com seus fornecedores digitais, desde as gigantes até as startups. A pergunta recorrente é se é possível assegurar o fornecimento de serviços digitais aos consumidores, usar dados para entender seu comportamento e ao mesmo tempo respeitar sua privacidade. Sem dúvida, a resposta é: sim, é possível.

Os impactos da regulamentação já estão acontecendo na Europa e fora dela. Se adequar à GDPR e à Lei Brasileira de Proteção de Dados exigirá adaptações de todos os players do mercado. Adequações que custam, e caro. Como consequência, várias empresas deixarão de atuar nos mercados regulados (ao menos por um período), e tantas outras fecharão suas portas, pois não conseguirão reinventar seu core business ou a arquitetura de seus sistemas. Elevar a barra de privacidade, protegendo os cidadãos é caminho sem volta e mais do que necessário. Paralelamente, no entanto, é importante que o ecossistema de inovação encontre maneiras de se ajustar, tornando possíveis que startups e pequenas empresas consigam superar a barreira do custo e manter suas operações com fôlego para alimentar e se beneficiar do ciclo de inovação. Surge uma nova oportunidade para startups criarem plataformas para ajudar empresas de tecnologia a nascer “privacy-friendly”.

Mas acredito que as novas leis propostas ainda não são o suficiente. Acredito num modelo no qual dados comportamentais e dados relacionados à identidade de um usuário devem ser totalmente separados. Tenho pavor ao ver que aplicativos de redes sociais têm acesso ao meu histórico de ligações, por exemplo, o que não faz o menor sentido. É assustador saber que o maior sistema operacional mobile do mundo é capaz de capturar minha localização até quando o meu smartphone está em modo avião. Outro problema é que os termos de privacidade vão continuar sendo supercomplexos e as plataformas vão continuar deixando os processos complicados para usuários. Esses abusos ainda vão acontecer, mesmo com as novas leis.

Acredito que o primeiro passo foi dado pelo governo, o próximo será dado pelo mercado e finalmente, pelo usuário final. Primeiro, os anunciantes precisarão ser mais responsáveis, pensando duas vezes em adotar as antes sonhadas segmentações um para um e tomando muito mais cuidado ao lidar com plataformas que identificam o usuário. Segundo, acredito que os usuários vão se tornar mais conscientes e exigentes. A campanha lançada pelo cofundador do WhatsApp (adquirido pelo Facebook), Brian Acton, conhecida como #deleteFacebook foi um exemplo disso.

A ideia difundida por algumas empresas do Vale do Silício de que a “privacidade está morta” é míope e será enterrada. Agora, o desafio é encontrar maneiras de uma abordagem nova e benevolente para fornecer o benefício da relevância para consumidores procurados por grandes marcas, sem coletar, usar e compartilhar dados identificáveis pessoalmente. Os esforços para o Brasil passarem do zero para as práticas exigidas pela lei são significativos. Mas as boas práticas existem, na Europa e no Brasil, basta saber onde encontrá-las. O caminho está dado.

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