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Opinião

Diversidade e as agências de comunicação

Com o advento da sociedade em rede e a maior possibilidade de articulação coletiva, as maiorias excluídas vêm conseguindo pressionar governos, marcas e organizações


16 de agosto de 2018 - 11h46

Mulheres, pessoas LGBTs, negras e com deficiência raramente têm vez e voz nos espaços de decisão e prestígio (crédito: Sharon McCutcheon/Pexels)

Diversidade é o assunto do momento e, àqueles que não suportam mais ouvir falar sobre este assunto, trago péssimas notícias: este é um debate que deve crescer ainda mais nos próximos anos.

O meio empresarial brasileiro chegou com atraso a uma conversa que acontece nos Estados Unidos pelo menos desde os anos 1960, quando grupos minorizados reforçaram a luta por visibilidade e direitos, inclusive no mundo do trabalho.

Mulheres, pessoas LGBTs, negras e com deficiência raramente têm vez e voz nos espaços de decisão e prestígio. Porém, com o advento da sociedade em rede e a maior possibilidade de articulação coletiva, essas maiorias excluídas vêm conseguindo pressionar governos, marcas e organizações.

Para o mercado de comunicação, o desafio é duplo, mas, até agora, salvo exceções, só foi compreendido até a metade. Numa ponta, é imprescindível avançar na questão da representatividade. Noutra, falta fazer muito em termos de inclusão.

Como se sabe, o Brasil que aparece na comunicação ainda não reflete toda nossa sociedade. Para ficar num exemplo: com que frequência você vê pessoas com deficiência estrelando campanhas de comunicação? Segundo o IBGE, elas representam 23,7% dos brasileiros; ainda assim, só aparecem em filmes de entidades assistenciais ou na época das Paralimpíadas – e, não raro, em narrativas que reforçam estereótipos como o do herói ou do “exemplo de superação”.

O pessoal que não suporta mais ouvir falar sobre diversidade costuma ser o mesmo que chama esta discussão de “mimimi” ou “coisa do politicamente correto”.
Certamente não sabem o que é crescer num mundo em que não há qualquer referência positiva a pessoas como eles na TV. Mas nada que um papo com uma pessoa negra ou trans, por exemplo, não resolva.

Não tem nenhuma pessoa negra ou trans na sua agência para conversar? Pois esta é justamente a outra parte do desafio. Representatividade na propaganda é importante, mas sozinha não basta. É preciso avançar em termos de inclusão nos espaços de trabalho.

Isso envolve deixar de lado reducionismos como “mas não existem muitas mulheres para trabalhar na criação” ou “eu até tento, mas não encontro negros com a qualificação que precisamos”. Este raciocínio preguiçoso certamente não nos ajudará a avançar.

Ambientes inclusivos respondem às demandas de uma sociedade desigual e trazem retornos em termos de criatividade e inovação. Não à toa, as maiores empresas do mundo, inclusive no Brasil, olham para a diversidade como uma questão de sobrevivência dos negócios.

Iniciativas como o ONU Mulheres ou o Fórum de Empresas e Direitos LGBT reúnem os presidentes de algumas das grandes organizações do país para tratar destes temas. Muitos clientes das grandes agências estão nesses espaços e já têm estratégias para atração, desenvolvimento e retenção de talentos diversos.

Diversidade é um dos assuntos da moda, mas não é nenhum modismo. Se quiserem manter sua relevância, e aumentar a qualidade das entregas, as agências precisarão se aproximar com mais seriedade deste tema.

*Crédito da foto no topo: Tookapic/Pexels

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