O surgimento de um novo (e desconfortável) modelo de poder

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Opinião

O surgimento de um novo (e desconfortável) modelo de poder

Na história do mundo corporativo, a narrativa sempre foi clara: uns lideram, outros seguem. Mas os líderes de ontem estão preparados para o mundo de hoje?


9 de outubro de 2018 - 10h06

Créditos: RetroRocket/iStock

O mundo das organizações tem dado os sinais de um novo modelo de poder, muito mais colaborativo. Da Wikipedia ao Uber, empresas que têm origem neste modelo começam a demonstrar cada vez mais força. Nunca estivemos tão conectados e os impactos da convivência em rede são inúmeros.

Até aí nada de muito novo. Considerando que a psicologia diz que o ser humano é um ser social, podemos concluir que é por meio do outro que a gente se desenvolve e aprende. Mas, cá entre nós, esse não é um exercício fácil. Sonhamos todos os dias em transformar o outro, na relação pessoal ou profissional, na nossa alma gêmea. Processos e decisões em conjunto costumam ser mais longos e mais complexos. No que se refere à busca por mais inovação e originalidade, parece óbvio: mais cabeças pensantes têm a chance de produzir um material mais rico criativamente. Estabelece-se aí um “inimigo comum”: a ideia de que a produção criativa precisa lutar contra o “mais do mesmo”.

A grande questão, porém, é que o trabalho colaborativo traz à tona nosso medo de rejeição e de vergonha, nos colocando o desafio de enfrentarmos nosso próprio ego e narcisismo. “Espelho, espelho meu: tem alguém no mundo mais bela do que eu?” O outro nada mais é, afinal, do que uma lente de aumento daquilo que não somos e não sabemos, mas que, no fundo, gostaríamos de ser e saber. A verdade é que tentamos fugir do desconforto que essa situação nos coloca, buscando, por exemplo, nas nossas contratações e escolhas de parceiros, miniversões de nós mesmos, pois delas virão concordâncias e temas que já nos são familiares.

Gosto muito do ponto de vista de Derek Thompson, autor do livro Hit Makers, sobre esta busca pelo familiar. Segundo ele, as pessoas evitam histórias e argumentos quando há expectativa de discordância e as mídias sociais facilitam as pessoas a evitarem ideias frustrantes. Thompson diz que “às vezes, aprender sobre o mundo deveria doer”.

E por falar em doer, não posso deixar de mencionar sobre a dor do líder na nova dinâmica colaborativa. Na história do mundo corporativo, a narrativa sempre foi clara: uns lideram, outros seguem. Mas os líderes de ontem estão preparados para o mundo de hoje?

Líderes que acreditam ser invulneráveis ou que seu poder está em demonstrar invulnerabilidade estão muito mais no exercício de controlar do que de conduzir seu time. Um líder em uma dinâmica colaborativa tem um papel muito mais complexo. O de formar e desenvolver pessoas com perfis complementares (ao seu e entre si) e criar, entre estes diferentes algo em comum. Está a serviço do time muito mais do que de si próprio, no sentido de ter habilidade emocional para desvendar motivações, conter as ansiedades do grupo, prever o que pode afetar a sua dinâmica e resolver conflitos que o grupo não consiga resolver por si próprio.

Nunca é tarde para recorremos ao que a origem etimológica das palavras nos ensina: nestes novos tempos o conceito de autoridade pouco tem a ver com a derivação autor (auctor) e muito mais com seu significado (augere), que quer dizer fazer crescer. Enfim, as cartas estão na mesa. Mas é preciso coragem para entrar neste jogo. Você tem?

 

*Crédito da imagem no topo: Rawpixel/iStock

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