Competir para conquistar felicidade

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Opinião

Competir para conquistar felicidade

Competitividade não é um fim, mas é uma ferramenta efetiva para alcançar a prosperidade de uma nação


25 de outubro de 2018 - 9h06

“Querido colega, nações não competem entre si, apenas companhias o fazem: esqueça sua ideia de competitividade entre nações!”. Esse conselho de um renomado professor de cerca de 30 anos atrás foi inquietante. À época, Paul Krugman, o futuro Nobel de economia, se expressou de forma similar em um artigo para a publicação Foreign Affairs: “Isso é apenas outro nome para produtividade”. Inquestionavelmente, meu trabalho sobre a competitividade entre as nações estava começando mal.

 

Crédito: mayichao/iStock

Hoje, uma pesquisa no Google sobre “Competitividade Mundial” ou “Competitividade entre Nações” produz mais de 35 milhões de resultados. Recentemente, o IMD publicou seu 30º relatório sobre competitividade, assim como o segundo sobre competitividade digital. Cada país louva a si mesmo por ter uma estratégia competitiva, um conselho competitivo e até mesmo um ministro de competitividade. Poucos conceitos foram tão bem sucedidos nos últimos anos. Por que?

Em um mundo global, ficou óbvio que países competem sim, e não apenas com suas empresas, mas, também, com sua infraestrutura e com suas administrações. No tocante à produtividade, é um termo relativamente impreciso que combina estatísticas que são às vezes duvidosas: PIB e o número de horas trabalhadas por funcionário. Além disso, pode a produtividade sozinha explicar como um país administra seu crescimento sustentável ou sua estabilidade social?

A economia não pode ser reduzida a apenas algumas decisões sobre taxa de juros, impostos, orçamentos ou dívidas. Atualmente, ninguém questiona o fato de que a prosperidade a longo prazo de uma nação e de sua população depende de economia, mas também de políticas sociais como o gerenciamento da educação ou de pontos comuns aos cidadãos. As análises competitivas, especificamente, integram e avaliam a totalidade da performance de uma nação em um ambiente global.

Como resultado, um ou dois critérios não são suficientes para explicar o sucesso de um país. Abaixar impostos é infrutífero se a infraestrutura colapsar ou se as pessoas entrarem em greve. Assim com muitos pixels aumentam a qualidade de uma foto, muitos critérios proveem um entendimento melhor do sucesso de uma nação. Consequentemente, rankings de competitividade são normalmente percebidos como um balizador da efetividade de um governo.

Não há formula mágica para competitividade. É verdade, cada país compete com sua economia e infraestrutura, ou com suas políticas. Entretanto, a competitividade se mantém única quando tratamos de administrar a interação de seus recursos e habilidades em conexão com sua história, cultura e sistema de valor. Portanto, não há uma “receita de bolo” universal para competitividade, e, sim, várias realizações que países podem ver como um benchmark para adaptá-las à sua realidade.

A força da competitividade também é a força com que as nações podem pensar no longo prazo, por meio de variações trimestrais do PIB ou suas próximas eleições. A competitividade suíça, por exemplo, é baseada na diversidade de sua economia, educação, qualidade de suas pequenas e médias empresas, tecnologia e estabilidade social. Isso são fatores de competitividade de longo prazo que não podem ser mudados rapidamente. Tanta sustentabilidade explica, em parte, a força da economia suíça quando confrontada com uma crise monetária ou econômica.

Competitividade não é um fim. É uma ferramenta extremamente efetiva para alcançar a prosperidade de uma nação. Entretanto, esse conceito – que caracteriza o sucesso coletivo de um país – deveria levar a um objetivo maior, algo que seja mais relevante para o dia a dia das pessoas: um senso de economia e bem-estar social, e até de felicidade.

Essa abordagem foi resumida muito bem por Wen Jiabao, ex-primeiro ministro chinês: “O objetivo é possibilitar que todos tenham uma vida feliz e digna, que todos se sintam seguros e que tenham confiança em uma sociedade de igualdade e justiça”.

 

*Traduzido por Salvador Strano

*Crédito da imagem no topo: Fotolia

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