A experiência Gannett – Coragem e riscos

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Opinião

A experiência Gannett – Coragem e riscos

O grupo decidiu que os jornais não esperariam os resultados das urnas para o fechamento de papel. O custo da espera não justificaria o esforço


9 de novembro de 2018 - 16h54

Leitores reclamam de escolha do grupo de não adiar o fechamento dos jornais para depois do resultado das eleições (Crédito: reprodução)

A Gannett é a maior rede de jornais dos Estados Unidos. Além do conhecido USA Today, que circula em todo o território, a empresa tem mais de 100 títulos regionais em 35 estados americanos – e até uma operação no Reino Unido. Ou seja, uma potência.

Na eleição de terça-feira, que renovou a Câmara de Deputados, um terço do Senado e ainda 3 de cada 4 governadores, a Gannett ousou: decidiu que os jornais não esperariam os resultados das urnas para o fechamento de papel. O custo da espera – horas a mais para o fechamento, rotativa, distribuição – não justificaria o esforço. Um ato necessário, de coragem. Orientou leitores de impresso a buscar os resultados online, nos sites das suas diversas marcas. Parecia tudo certo.

O plano da empresa tem fundamento e será tendência a partir de agora, mas houve dois erros básicos no fechamento de terça (edição de quarta, dia 07):

1 – Não houve pesquisa, conversa com os leitores do impresso antes da decisão. Houve feeling, claro. E entendimento do mercado, controle de custos. Mas se a Gannett tivesse entendido a audiência que ainda compra seus jornais saberia que a maior parte tem mais de 50 anos e ainda depende do papel para se informar. São jornais pequenos, de comunidades muito pequenas. É o que se chama geração 1.5 (e não 2.0) pós invenção da Internet. Usa o Digital, mas confia mais em fontes analógicas. O impresso ainda é a primeira leitura do dia – e nem sabem o que é newsletter, por exemplo.

2 – Não houve um acordo negociado com os líderes das redações, Diretores e Editores. Foi uma ordem, que deixou alguns chefes revoltados. E não houve uma orientação sobre o que publicar, então. Os jornais precisavam falar das eleições, mesmo sem o resultado final. E agregar valor onde fosse possível. E aí a maioria se deu mal.

Crédito: reprodução

O projeto da Gannett é lógico, correto e a empresa apenas seguiu a tendência do momento. Afinal, a lógica diz que quem deseja saber o resultado das urnas, hoje em dia, tem um leque de meios mais ágeis que um impresso. Mas um pequeno detalhe não foi levado em conta: o comportamento dos leitores de impresso. São pessoas que pagam para receber o produto em casa, pela manhã, e querem seu jornal o mais completo possível. Aliás, ninguém é mais conservador que um americano do interior.

A repercussão do day after, como previsto, foi ruim. Muito ruim. Mas a experiência era necessária. É o primeiro passo para que mesmo nos Estados Unidos o impresso a cada dia se torne mais uma revista, analítica, de interpretação e opinião – e para isso os fechamentos podem ser antecipados, simplificando todo o sistema de produção e distribuição.

E que a notícia breaking news fique restrita aos meios digitais e eletrônicos.

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