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Opinião

O que é preciso saber

O medo de errar nos faz perder agilidade e vai na contramão do novo, do desconhecido, do inédito


12 de novembro de 2018 - 17h48

Versão criada pelo Learning Studio do desafio do marshmellow (Crédito: reprodução/Vimeo)

Vez ou outra, pelos corredores da agência, alguém me pergunta: “o que preciso saber mais sobre o negócio da propaganda para me preparar para um dia liderar uma agência? O que tecnicamente preciso conhecer?” Se escolhesse a resposta desta pergunta como tema deste texto, provavelmente ficaria procurando palavras por aí e não conseguiria escrever muito mais do que um parágrafo.

Perdoem-me se neste momento estou deixando de lado o histórico glamour associado à nossa profissão, mas de fato a tecnicidade do nosso negócio não é nem um pouco complexa. O que não significa que isso torne as coisas mais fáceis. No meu ponto de vista, bem ao contrário. Estamos no business das ideias, das surpresas e, portanto, essencialmente das pessoas, onde os tais soft skills de soft não tem nada. Em um negócio sobre criatividade, para mim a pergunta que não quer calar é: o quanto você está aberto a errar, conviver e aprender com o seu próprio erro?

Um experimento com crianças apresentado por Tom Wujec, chamado torre de marshmellow é uma boa maneira de ver na prática o que na teoria já sabemos: conforme o tempo passa, ficamos mais resistentes ao erro. O desafio foi simples. Dois grupos, um de crianças e um de executivos, ganharam alguns espaguetes crus, fitas adesivas e um rolo de barbante. Eles foram convidados a prototipar uma torre com esses elementos e a estrutura deveria ser capaz suportar um marshmellow assim que pronta. Para surpresa de todos, o doce é bem mais pesado do que se imagina, o que resulta quase sempre na destruição da torre de espaguetes. O resultado? Quase sempre, o grupo de crianças é o que consegue construir uma torre estável, deixando os executivos frustrados. As crianças criam, testam, erram e reparam continuamente, até que a torre delas esteja firme. Já os executivos gastam muito tempo no papel, planejando e tentando prever todas as possibilidades de desequilíbrio e erro.

Um experimento simples assim nos mostra o quanto o medo de errar, que tem como pano de fundo nosso desejo de aprovação, nos faz perder agilidade e nos enraíza em fórmulas de sucesso que nós mesmos criamos em algum momento de nossas vidas. Tudo isso na contramão do novo, do desconhecido, do inédito.

O fato é que existe uma diferença nada sutil entre as pessoas que estão preocupadas em não errar das que estão querendo aprender. É o tropeço que nos acorda para prestar atenção no caminho, que nos permite elaborar sobre nós mesmos.

O argumento de Carol S. Dweck, no livro Mindset, segue essa linha de pensamento em que, de um ponto de vista fixo (e não de aprendizagem), você não assume o controle da sua capacidade e suas motivações. Espera-se que o talento o leve adiante, mas quando isso não acontece, questiona-se então “o que poderia ser feito?”. Você não se sente progredindo e se vê como produto acabado. E os produtos acabados têm de se proteger, lamentar e encontrar culpados. Tudo menos assumir o controle.

Enfim, para mim, reconhecer que não somos nem pessoas nem organizações “resolvidas” é a grande técnica a ser aprendida para o negócio da propaganda e tantos outros, como este, que estão em transformação. Precisamos de agilidade e flexibilidade para tolerar que não existe uma só resposta correta para diferentes perguntas. Ter consciência de que virão as marés bravas e os revezes e que destas sairemos diferentes e, de certa forma, mais abertos e receptivos.

Na porta da escola

Na semana em que pensava no tema deste texto, minha filha de quatro anos sai da escola aos risos enquanto a esperava na porta. Não hesitei em perguntar: “Do que tanto você ri? O que teve de engraçado hoje?” Ela, toda cheia de si, comenta: “Foi muito bom hoje! Tive a minha primeira tarefa escolar. Tinha que escrever a letra A (sobre o texto pontilhado), mas o melhor de tudo foi que errei. Em vez de escrever o A, pintei ele todo colorido…” Fiquei feliz. Um dia vou explicar que o nome disso não é erro e sim capacidade de imaginar e coragem de fazer diferente. Cá entre nós, ela vai ter a vida inteira para aprender a escrever o A não é mesmo?

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