2018, o ano que não era pra ter

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Opinião

2018, o ano que não era pra ter

Depois da briga na sala, é preciso colocar o Brasil em terapia familiar 


4 de dezembro de 2018 - 9h57

Créditos: dmack

Um ano daqueles que ninguém vai esquecer. Em que ao final de muita disputa eleitoral, cada lado votou no que considerava o “menos pior”; e o pior, é que ele venceu. Isto é, venceu o que a maioria julgava o menos pior. O ano da briga na sala, do mergulho pro alto e que agora precisa colocar o Brasil em terapia familiar. São quatro anos pra encarar e é melhor não torcer contra, para não afundarmos todos juntos. Nessa contenda, sigo sonhando com o PBS – Partido do Bom Senso. Onde parte dessas desavenças poderia ser retirada do imbróglio; saúde e segurança, por exemplo, onde as melhores cabeças do país poderiam se unir e montar um projeto pra dar certo em longo prazo. Ia também sugerir para a área da educação, mas deixa pra lá.

Tino das coisas – Foi o ano em que o Altino João de Barros, o mestre dos mestres, se foi. Ele era a nossa “testemunha ocular” da mídia, tanto para veículos, quanto para profissionais das agências. Veio da época de ouro do rádio, acompanhou o prestígio da imprensa, estava por trás do lançamento da Globo e de seus principais projetos comerciais. Com uma vida toda na McCann, era um dos poucos profissionais respeitados por todos os setores e que muito contribuiu na formação dos profissionais de mídia. O Grupo de Mídia “bebeu muito” dessa fonte.

Eleições, fake se “comprova” – Em junho, 26 importante veículos, lançaram o Projeto Comprova, para combater as manipulações e notícias falsas nas redes sociais durante as eleições. Como um antídoto de jornalismo sério e de qualidade, conseguiram identificar um grande número de ações incorretas, contando com apoio para tirar do ar de Facebook, Google e Twitter. Ainda assim, o volume de fake news foi superior a tudo já feito, com um agravante: a cumplicidade dos próprios eleitores. No fanatismo a que chegamos e no trauma em que cada parte se encontrava (parecia que uns lutavam contra um “torturador” e os outros, contra uma “corrupção” – e era tudo mais complexo), mensagens eram postadas continuamente de forma manipulada, assinadas por autores sem a mínima credibilidade, por meio de “bots” (aceleradores de envio) que, para tanto, com o endosso de cada usuário envolvido, voluntariamente espalharam “vírus de fatos”.

Eleições 2, novo tempo – A mídia eleitoral caiu do cavalo. Todos achavam que o Alckmin levaria vantagem pelo tempo disponível, mas não funcionou. Porque, mais uma vez, o conteúdo provou a sua força. Só propaganda nunca funciona. O “produto” tem que ser desejado e ser percebido positivamente. A campanha do Bolsonaro não tinha tempo, não tinha dinheiro, mas tinha alma (não discuto qual) e as pessoas compraram essa ideia. Provou também que com a rede social, o tempo de convencimento é mais lento, sendo fundamental sair na frente e pensar mais no longo prazo.

Game of the players – No embalo de mais uma bem sucedida Copa do Mundo, cresceu a importância dos campeonatos internacionais de futebol, nesse ambiente do “Game around the Game”, que caracteriza o antes e o depois dos jogos, quando explorados pelas redes sociais. Os principais grupos de esporte da TV Paga tiveram aumento em suas audiências e já se sente pelas ruas a presença de garotada com as camisetas dos times de fora, evitando assim o “bullying” brutal dos torcedores locais da era das cavernas.

Rede do bem – Entre tantas notícias de violência e os eternos urubus a explorar as pessoas em vergonhosos programas policiais, foi um alívio acompanhar a solidariedade mundial no episódio das crianças presas em uma caverna na Tailândia. Como seria bom se o nosso dia-a-dia fosse assim e sempre com um final feliz.

Empoderamento feminino – Num movimento de fora pra dentro, mas que tende a evoluir mais por aqui, as mulheres, agora em um papel preponderante, tomaram posse de seu direitos e começaram a reescrever a sua própria história. Foi uma ação mundial, envolveu Hollywood, ONU, FMI e uma série de instituições respeitáveis, mas que se mostraram degradadas em seu relacionamento interior – chegou até o House of Cards, da Netflix, com a demissão do Kevin Spacey! Foram discutidos direitos iguais, condições de trabalho e salariais. Até aquelas denúncias de assédio que não progrediam, passaram a gerar consequências e contar com depoimentos simultâneos, potencializados pelas redes sociais.

Milhões de uns em uma só – Em uma decisão arrojada, a Globo contratou a Accenture para desenvolver um projeto de três anos para unir, em uma só operação, a TV Globo, Globosat, Globo.com, Som Livre e a gestão corporativa. Até segunda ordem, as unidades de mídia “impressa” (Infoglobo) e rádio ficaram de fora. Essa é a mais contundente ação que a Globo faz para encarar os concorrentes mundiais (Google, Facebook, Amazon…) que hoje atuam por aqui, com muito mais desenvoltura que no passado. Estão em jogo os resultados integrados de um novo projeto de esportes, a transformação dos tais “uns” da Globo, em ativos digitais e a solução que darão para o OTT, frente a outros projetos internacionais em curso. O bom é que a Globo acordou para uma mudança bem substancial. O difícil é ter certeza se esse tempo e essa visão geral serão suficientes para brigar com os maiores players mundiais.

Tino ou destino – Para comemorar seus 50 anos em 2018, o Grupo de Mídia fez uma viagem histórica para o conhecimento das novas tendências do Japão, com uma delegação recorde de quase 100 profissionais, com boa parte pagando de seu próprio bolso ou subsidiado pelo GM. É uma categoria engajada, que reflete bem um espírito associativo. No processo geral de “disrupção”, as agências são as que mais sofrem, procurando se equilibrar entre três desafios: remunerações mais enxutas, relações mais diretas com os veículos e ainda um aumento de equipe para o digital – tudo para ser sustentável. Neste ano, mais um importante grupo de profissionais de mídia das agências, foi excluído do mercado. Não deve ser fácil para o Grupo de Mídia se manter focado em formar os profissionais, quando tanta gente qualificada vai saindo do processo.

Sempre os meios – Enfim, após uns dois anos sem os dados básicos de investimento publicitário (fim do Projeto Inter-Meios), surge uma ótima iniciativa: Cenp Meios. A fonte não são mais os veículos de comunicação, mas sim, as 75 principais agências, com o mesmo rigor e confiabilidade apresentados antes. Enquanto não tínhamos esses dados, dependíamos do Kantar Ibope Monitor que é ótimo para entender os volumes de ocupação de mídia (e como se distribuem pelas categorias de anunciantes), mas não suficiente para se chegar ao volume real de investimento, pois lida com os preços de tabela. Agora não. Com essa base representativa de agências (que ainda vai melhorar), puderam chegar a um número real de 2017 que traz uma distribuição entre os meios muito mais fidedigna. A TV aberta, é claro, mantém-se líder com 58,3%, seguida pela Internet com 14,6% (esta é primeira medição do investimento “real”, incluindo a parcela do search que não estava bem representada). Outra surpresa e, me parece que tende a crescer mais, foi a participação do OOH com 8,6%, seguido pela TV por assinatura com 7,9%. À Mídia impressa coube em torno de 5%.

Lance de dados – Este ano foi lançado o GDPR (para nós: Regulamento Geral de Proteção de Dados). É um importantíssimo passo dado pelos europeus, para a proteção dos dados individuais, que pela lei, esperamos que sejam seguidos à risca aqui no Brasil. Ainda tem dois anos para a implantação total, mas tende a ser uma barreira protetora contra a forma meio “tsunâmica” que o mundo digital nos afeta. Além da vida cotidiana que nós, como animais em extinção, esperamos ser preservados, deve afetar em muito também os retornos bombados que tem sido constatados em players importantes do setor digital. É viver, aguardar e, ufa, respirar.

GOP, 2ª temporada O esporte é muito dinâmico e com enorme competição. Se na TV aberta, praticamente, só dá a Globo, na TV por assinatura, mesmo com a hegemonia do SporTV, a briga é grande. Falo de ESPN (grupo Disney), Fox e Turner (que assumiu a “herança” do EI) e tudo vai esquentar mais se o Cade aprovar a união dos grupos ESPN e Fox, vigente no exterior. Não obstante os U$ 74 bi da Disney pelo negócio, mais recentemente o Facebook ficou com os direitos do Champions League, desbancando a própria Globo. Até agora o “live” deles não foi nada especial como audiência, mas o Facebook tem todas as chances de virar esse jogo.

Radio, sempre on Enquanto a história da mídia é reescrita todo o dia frente aos avanços digitais, o Rádio mantém o seu espaço na vida das pessoas e no mercado publicitário. Ele continua criativo, interativo, diversificado, falando com proximidade junto aos diferentes segmentos da população. Pode continuar assim indefinidamente. Mas pode também mudar de platô no share de investimento, se souber explorar o seu valor e potencial, enquanto meio de comunicação.

A conferir em 2019 – Conseguiremos manter a imagem do “soft power brasileiro” no exterior agora, com o novo jeitão Bolsonaro? Teremos uma maior liberação comercial e uma consequente chegada de marcas internacionais? Se sim, com as revistas mais baleadas, essas novas marcas tendem a ocupar mais as TVs por assinatura ou o lado digital do OOH? A ameaça à Folha e a alguns veículos era só uma tática das eleições ou vamos ter de novo Camões e receitas de culinária na primeira página? Um ótimo ano a todos – tomara! – e beijos nas crianças!

 

**Crédito da foto no topo: Vedanti/Pexels

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