Nem a geração Y escapa

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Opinião

Nem a geração Y escapa

Os velhos serão o futuro e não terá vista cansada que evite que as pessoas olhem para eles, tenham que falar sobre eles ou, com sorte, tornem-se eles; por Joanna Monteiro


19 de março de 2019 - 8h34

 

 

(crédito: Pixabay)

Estou naquela idade em que quem tiver sorte ainda terá seus pais vivos, mas já entrando na tal categoria dos superidosos. Os acima dos 80. Eu tenho essa sorte. E estou vendo a vida mudar como vai mudar para um país inteiro de forma drástica a partir de 2030. Segundo dados do Ipea, em 2050 seremos 68,1 milhões de idosos (três vezes o que temos hoje), contra 18,8 milhões de crianças de até 14 anos. E isso vai mudar tudo, como já mudou na casa dos meus pais.

A comida orgânica, a quantidade de remédios, o piso e os corrimões são o clássico. Mas, depois de uma cirurgia, a limitação ficou maior, e descobrimos que cadeira de rodas não cabe nos banheiros, não passa pelo box e não sobe escadas. Então, veio a reforma.

Mas, tudo bem, porque os 80 são os novos 60. Os idosos ainda dirigem, viajam, fazem pilates, caminham e fazem compras de supermercado. Até aqui já deu para ver que muito em breve alguns serviços e produtos valerão ouro. Fisioterapeutas, enfermeiros, arquitetos, marceneiros, enfermeiros, cuidadores e tantos outros que atendem ao que alguns já precisam hoje, mas muitos mais vão querer desesperadamente já, já.

O envelhecimento será democrático, as filas de prioridade para idosos não vão mais fazer sentido. Serão cada vez mais longas. As vagas de idosos também não. Seremos maioria para sentar nos ônibus, para estacionar, para entrar no avião. A prioridade vai ser das grávidas que, como em muitos países com crescimento demográfico negativo, têm todos os direitos. As mulheres serão maioria porque os homens morrem mais cedo.

Como o consumo de água cai depois dos 60 anos, cairá também o consumo do planeta. Há quem diga que a criminalidade diminuirá, já que os jovens são os que mais matam e os que mais morrem. Ou seja, nem tudo parece tão triste na velhice. Até porque a segunda opção a envelhecer é bem pior, como (dizem que) dizia Hebe, ou Elke Maravilha, ou se brincar, “Veríssimo”…

Talvez por saber um pouco de tudo isso, quando me perguntaram sobre onde investir pensando no futuro eu disse: eu investiria no passado. Os velhos serão o futuro e não vai ter vista cansada que evite que as pessoas olhem para eles, tenham de falar sobre eles ou, com sorte, tornem-se eles. E isso explica o crescimento dos investimentos da publicidade na área de health, biotecnologia, energia, assim como as inovações da indústria alimentícia buscando menos sódio, alimentos mais naturais.

Explica as sete academias que apareceram lá perto de casa em menos de 6 meses e a quantidade de novos nomes para a prática de ioga. É, tem cada vez mais gente descobrindo que aquilo que eles não pagam nas academias e na boa alimentação, pagam nos hospitais. Aí eu penso também nas oportunidades para a indústria de cosméticos, de wellness, massagistas, fisioterapeutas, cuidadores, TI, cientistas.

E quando faltar mão de obra, as startups vão resolver fazendo novos milionários. Penso na indústria do cigarro banindo o cigarro. Nos carros que não precisam de motorista. No quase civilizado trânsito de bicicletas que já existe hoje. Na quantidade de apps para você dormir melhor. É o início da mudança, em que os earlyadopters — sejam eles marcas, serviços ou consumidores — terão vida mais longa.

Crédito da foto no topo: Reprodução

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