Não dá mais para ignorar o futebol feminino

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Opinião

Não dá mais para ignorar o futebol feminino

Você acha que as jogadoras da modalidade merecem ganhar o mesmo que os homens?


8 de julho de 2019 - 12h18

Seleção norte- americana comemora a vitória da Copa do Mundo de Futebol Feminino 2019 (Crédito: Fifa)

O debate nas últimas semanas foi tão quente quanto o excepcional calor do verão europeu. Enquanto as jogadoras de 24 países lutavam nos gramados franceses pela Copa do Mundo Feminina da Fifa, especialistas debatiam em mesas- redondas e bares ao redor do mundo.

De um lado, os que defendem a paridade entre homens e mulheres, liderados pelas atuais campeãs do mundo, as jogadoras da seleção americana de futebol. Do outro, os que argumentam já estar investindo desproporcionalmente no esporte.

A sempre criticada Fifa fez muito nos últimos anos. Na administração de Gianni Infantino, se estruturou para acelerar o crescimento do esporte por meio de contratações no seu staff e investimentos na base. Também dobrou o prêmio pago às seleções participantes desta Copa para R$ 116 milhões. A campeã ganhará R$ 15 milhões. Mas, apesar desse aparente progresso, ainda há um abismo em relação ao futebol masculino.

Na Copa do Mundo da Rússia, o prêmio total para os 32 times participantes foi de R$ 1,5 bilhão. A França, campeã mundial, levou sozinha R$ 146 milhões, 27% mais que todas as seleções que participaram da Copa Feminina. A justificativa usada para a brutal disparidade entre os dois eventos é econômica.

Segundo os que defendem essa posição, o futebol feminino é um esporte que ainda está na sua infância e por isso não dispõe dos mesmos recursos que o masculino. Apesar de serem iguais entre as quatro linhas, eles não poderiam diferir mais quando o assunto são as receitas geradas.

A indústria do futebol é alimentada — em ordem de importância — por direitos de televisão, patrocínios, venda de ingressos e de jogadores e produtos licenciados. Nenhuma dessas fontes é significativa no caso das mulheres. No geral, a televisão, quando transmite, paga pouco porque as audiências são baixas, os patrocinadores não investem porque não há interesse de seus consumidores, os estádios estão quase sempre vazios e a venda de produtos licenciados é mínima.

Gerando tão pouco dinheiro assim, como pagar o mesmo para as jogadoras? A resposta não é simples nem única.

A maioria dos países ainda está longe de ter as condições necessárias para dar o mesmo tratamento para as mulheres. O estado de desenvolvimento do futebol feminino no mundo pode ser dividido em três grupos. O primeiro, e menos desenvolvido, inclui a maioria dos países da América Latina, África e Ásia. Suas federações ainda precisam investir na base, ser flexíveis na comercialização e promover as partidas para educar e aumentar o interesse dos torcedores. Igualdade no curto prazo é utopia.

Nos países da Europa Ocidental, o segundo dos três grupos, os investimentos de base já existem há anos, campeonatos nacionais já estão estabelecidos e há um interesse razoável pelo esporte. Chegou a hora das federações e clubes serem mais agressivas na área comercial.

Isso pode ser feito por meio das vendas casadas de patrocínios com time masculino, estabelecimento de cláusulas contratuais com as redes de TV que exijam transmissão do futebol feminino e que as marcas patrocinadoras invistam em ambos os times. Com um pouco de determinação, é possível, na próxima década, nivelar homens e mulheres.

Os Estados Unidos são o único país no mais desenvolvido dos grupos. Eles têm o futebol feminino mais desenvolvido do mundo, uma seleção feminina com desempenho nos campos melhor que a masculina e capaz de atrair investimentos respeitáveis. Não há desculpas para a diferença salarial. Se houvesse, seria a favor das mulheres.

O Brasil está no caminho certo. A CBF seguiu a determinação da Conmebol que obriga todos os times masculinos que desejam participar das suas competições a criarem uma equipe feminina a partir de 2019. Isso deve movimentar o esporte feminino e atrair mais recursos de TV e patrocínios.

Apesar de pontuais, os resultados comerciais dessa Copa do Mundo animam os fãs do futebol feminino e motivam todos os envolvidos com o esporte.

A audiência do jogo do Brasil contra a França nas oitavas-de-final, mais de 35 milhões de pessoas, foi a maior da história das Copas do Mundo feminina no mundo todo. Além disso, muitas empresas investiram na promoção da seleção, nas jogadoras e na Copa.

O comportamento dos patrocinadores e da mídia no pós-Copa será chave para garantir que todo este entusiasmo não tenha sido em vão. Se todos continuarem a apoiar o esporte, será cada vez mais difícil ignorar o futebol das mulheres.

*Crédito da foto no topo: Reprodução 

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