Quando você vira o assunto do café

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Opinião

Quando você vira o assunto do café

Além de lidar com decisões e seu impacto no time, liderar líderes é aprender a ser desafiado por quem pensa diferente de você


29 de julho de 2019 - 15h30

(Crédito: Stelianos Picture/ iStock)

Ao fazer uma retrospectiva da minha carreira, não tenho dúvida que um dos momentos mais desafiadores foi quando assumi a posição e responsabilidade de liderar outros líderes e gestores de suas equipes. Ao longo dos últimos anos, tenho vivenciado a oportunidade de observar os mais diferentes profissionais, nas mais variadas empresas, passando pela mesma situação e não me restam dúvidas de que se trata de um momento- chave nas trajetórias profissionais.

Você provavelmente chegou ou chegará nessa posição reconhecido pela excelência da sua entrega, e deverão existir poucas incertezas de que você, pela sua experiência, tem capacidade para fazer um trabalho melhor, com mais agilidade e até mesmo com menos desgaste emocional que as pessoas da sua equipe. Mas quanto antes você entender que esta não é a principal questão, melhor.

Neste momento costuma acontecer um fenômeno muito simples de entender: você deixa rapidamente de fazer parte da conversa do café e passa a ser o assunto do café. Sim, você será julgado. Pelas atitudes e decisões que você jura que foram tomadas por alguma circunstância, ou variável externa, e por aquelas escolhas conscientes e convictas.

De fato existe uma grande diferença em ser responsável pelo trabalho e ser responsável pelas pessoas que fazem o trabalho. A começar pelo fato de que normalmente somos ensinados a fazer o primeiro, já o segundo nós aprendemos com os nossos próprios erros e acertos. Além disso, pessoas são complexas e inconstantes, a começar por nós mesmos.

O que me leva a outra questão-chave, que parece vir nesta fase para medir o quanto você é capaz de ir contra o próprio instinto de sobrevivência e preservação do seu cargo, se permitindo contratar pessoas que possam desafiar e discordar de você. Se não for assim, você seguirá a natural tendência de ter por perto pessoas que não representam ameaça para nenhuma área de potencial fraqueza sua. Em geral, nesta condição, serão profissionais dependentes e líderes de um time mediano. Não se esqueça, bons líderes são aqueles que exigem espaço e liberdade para serem eles mesmos e não você.

Na verdade, não existem fórmulas prontas. Um dos segredos, na minha opinião, é buscar ser o mais coerente possível com seus valores pessoais. Ao menos assim, longe do café e de frente para o espelho, você garante sua tranquilidade.

Jogos de tabuleiro

Escrevi este artigo em julho, mês em que as férias aumentam as ocasiões em que eu tenho a Carol, minha filha de cinco anos, como adversária em vários jogos de tabuleiro. Arremesso os dados e me dou conta dos paralelos dos jogos com o tema deste artigo. Etapas das nossas trajetórias profissionais não são muito diferentes dos tabuleiros (você se lembra do Jogo da Vida?). Até onde você consegue lidar com o seu ego ao receber a repentina oportunidade de pular dez casas para frente? Ou com a sua frustração ao perder uma jogada ou ter que voltar, de repente, ao ponto de partida?

Com sua sabedoria de criança, Carol resume, não sei se para mim ou para ela mesma: o importante não é ganhar sempre, mas se divertir enquanto brinca.

*Crédito da foto no topo: Nikada-iStock

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