Meu nome é Agile, mas pode me chamar de varejo

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Opinião

Meu nome é Agile, mas pode me chamar de varejo

Talvez o melhor exemplo de metodologias ágeis aplicadas à comunicação esteja debaixo do nosso nariz


18 de novembro de 2019 - 19h14

(Crédito: Lightcome/iStock)

Coisas que você, eu e todo mundo já sabe: o marketing está de ponta-cabeça; quem trabalha com isso precisa mudar; não vai rolar para agências que continuarem do mesmo jeito. Tudo verdade.

Outra coisa que se fala muito é que esse novo jeito de trabalhar virá do universo da tecnologia. Métodos ágeis. Sprints. Squads. Olhando para a inovação e a produtividade dessas indústrias, é difícil discordar. A gente tem mais é que trazer esse jeito de trabalhar para a nossa vida.

O que a gente talvez não tenha percebido é que tem um exemplo desse jeito de trabalhar debaixo do nosso nariz: o varejo.

Quando passei a me dedicar à Magazine Luiza na Ogilvy, caiu a ficha de que as unidades de varejo são o “agile original” nas agências. É como se, intuitivamente, varejo e Agile operassem sobre os mesmos valores.

Em 2001, 17 engenheiros se juntaram para repensar o desenvolvimento de software. Eles estavam frustrados com as metodologias que usavam e achavam que elas não levariam ninguém ao futuro digital (soa familiar?). Desse papo veio o Agile Manifesto, com quatro valores que as agências fazem das tripas coração para colocar em prática — mas que já são parte da vida no varejo.

Equipe e comunicação interna acima de processos e ferramentas
O desenvolvimento de software estava estruturado em processos super-rígidos. Era o heavyweight development. Hoje, quando as agências vão atrás da gestão de projetos, sonham com controles mais rigorosos para fugir do caos. Mas a indústria de tecnologia resolveu isso com mais simplicidade: equipes inteiras dedicadas (juntas, em muitos casos) até entregar a solução. Muito parecido com o varejo, onde as pessoas não precisam orquestrar dez agendas e clientes diferentes para tentar sentar juntos e discutir soluções. Depois, todos contribuem ao mesmo tempo, não uma linha de produção. Planejamento, Atendimento, Criação, Mídia, Data: juntos, ao mesmo tempo.

Produto no ar é mais importante que documentação
Documentar meticulosamente cada melhoria consumia um tempo enorme no desenvolvimento de software. Um tempo valioso para aprimorar o produto era perdido em registros que logo ficavam obsoletos. Nas agências, a documentação atende pelo nome de “apresentação”. Fica lindo, mas gasta-se um tempo brutal para se chegar nesse resultado. Todos trabalham orientados para esses momentos. Já no varejo, é muito comum as ideias chegarem ao cliente em estado bruto, sem firulas. Mais tempo para gerar mais soluções e depois lapidar na execução.

Ouvir o cliente é mais importante que seguir o escopo
No modelo tradicional de desenvolvimento, sucesso era “cumprir o plano”. O escopo era intocável. Hoje, sucesso é “resolver a dor do cliente”. Com isso, o escopo passa a ser negociável e a participação do cliente se torna muito mais intensa. As agências, para preservar a rentabilidade, estão muito preocupadas em criar parâmetros do que deve ser entregue. Mas, no varejo, a interação intensa com o cliente em cada passo do trabalho é uma realidade. E isso torna o trabalho mais eficiente, não menos.

Mudar vale mais que seguir o plano
No mundo do heavyweight development, mudar o plano significa custo. Quer arrumar? Espere a próxima versão. Depois, perceberam que quanto mais você adapta, mais chance de dar certo. Esse é um pensamento aceito e desejado no universo da comunicação. Todos se orgulham de ajustar suas campanhas on-the-fly. E é engraçado pensar como o varejo faz isso há muito tempo, e não só no digital, mas até na TV. Não está funcionando? Muda para amanhã e vê se vende melhor. O segredo é o olho no indicador certo.

Qual é a lição que dá para tirar de tudo isso? Não, eu não quero que você ache que é tudo perfeito em varejo — não é. A questão é que pensar na transformação do nosso jeito de trabalhar é uma daquelas tarefas tão vitais e gigantescas que até assusta. Dá medo, preguiça, sensação de impotência. Mas, se a gente encontra um pedaço de nós mesmos fazendo do jeito certo, a esperança reaparece. Dá para fazer. Vai rolar. Já estamos fazendo. Só não pode ficar enrolando. Tem que ser na velocidade do varejo.

**Crédito da imagem no topo: Reklamlar/iStock

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