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Isolamento social aquece alimentação dentro de casa, mas aumenta número de famílias dependentes de benefícios emergenciais para que os pratos não fiquem vazios


18 de maio de 2020 - 12h23

(Crédito: Namenko/ iStock)

Produtos de limpeza, higiene pessoal e alimentação adquiridos nos supermercados puxam a fila do aumento de consumo durante o isolamento social imposto pelo combate à pandemia da Covid-19 no Brasil. A constatação é do estudo “Os brasileiros e o consumo no pós-isolamento”, realizado pelo Instituto FSB Pesquisa, que entrevistou cerca de duas mil pessoas pelo telefone, em todo o País, na primeira semana deste mês. A maioria da população precisou enxugar os gastos: 74% dos respondentes disseram ter feito reduções nos orçamentos pessoais e familiares.

No sofrido cenário de aperto, há uma preservação natural dos produtos de primeira necessidade, uma volta ao básico. Daí, mesmo com menos dinheiro disponível, os brasileiros terem aumentado as compras de artigos de limpeza (68%), higiene pessoal (56%) e produtos alimentícios (49%) — comida pronta e bebidas não alcoólicas cresceram cerca de 25% nos desembolsos das famílias, segundo a pesquisa. Quando entra na parte que tenta antever comportamentos no “pós-isolamento”, o estudo também traça horizonte promissor para a indústria de alimentos, já que 20% dos entrevistados pretendem aumentar o consumo e 65% projetam manter a compra de produtos deste segmento — apenas 15% acreditam que terão de diminuir.

Nesses cerca de dois meses de reclusão de parte expressiva da população brasileira, a alimentação forçada em casa tem resgatado significados emocionais que, de certa forma, se perderam com o tempo, especialmente nos grandes centros urbanos — e ganham valor confortante no momento atual de consternação e privações. Famílias almoçando juntas, bolos feitos em casa nos fins de tarde, pessoas cultivando o hábito de preparar a própria comida. São ocasiões que estreitam o vínculo dos consumidores com as marcas do setor de alimentação, foco da reportagem que ganha o destaque de capa desta edição.

O texto da repórter Roseani Rocha, que você, caro leitor, encontra na edição semanal, disponível no Acervo Meio & Mensagem, analisa os desdobramentos do isolamento social na indústria alimentícia, faz um balanço entre as quedas no food service e o crescimento no varejo e no delivery nessas últimas semanas e aponta para características que se tornam ainda mais decisivas para o setor, como praticidade e conveniência.

No campo das oportunidades, há o impulso à venda direta, do fabricante ao consumidor, e a maior presença nos e-commerces dos varejistas. Outro ponto importante é que as marcas de alimentação estão entre as que não deixaram de se comunicar durante o período, mantendo investimentos tradicionalmente seguros, como os intervalos da TV, e aderindo à novidade das lives.

O curto prazo para a indústria de alimentos — não só para ela, mas para um grupo no qual seria um dos setores mais afetados por mudanças — depende da manutenção e extensão dos planos governamentais de benefícios emergenciais à população de baixa renda, deles dependentes para não ficar de pratos vazios, e iniciativas de socorro a pequenas e médias empresas, que garantem a capilaridade nacional na distribuição e no varejo.

Para as marcas, os próximos passos não podem deixar de levar em conta uma grande empatia com as necessidades do consumidor nesse momento difícil, o que precisa se refletir não só na comunicação, mas em ação efetiva. As análises constantes de mudanças no comportamento das pessoas e nos cenários econômicos e sociais é que ditarão o rumo num cenário em que a adaptabilidade se tornou ainda mais essencial para a sobrevivência, e o imprevisível, uma constante.

*Crédito da foto no topo: JBKdviweXI/ Unsplash 

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