Opinião
Clichês que funcionam
Qual é o papel do CEO nesse processo? Fundamental. É necessário ter sensibilidade para manter o equilíbrio entre shutdown e cuidar das pessoas
Qual é o papel do CEO nesse processo? Fundamental. É necessário ter sensibilidade para manter o equilíbrio entre shutdown e cuidar das pessoas
2 de junho de 2020 - 11h21
“Não há nada fixo nem nada permanente, estamos passando por experiências transformadoras.” Essa frase nunca foi um jargão tão contextualizado com o momento atual. Falar em crise com brasileiros é um clichê. É mergulhar na redundância da obviedade em mais de cinco décadas de avanços e retrocessos que todos nós, das gerações X, Y e Z, vivemos. Só que, desta vez, os clichês também foram combalidos. A crise é mundial e sem precedentes, com uma magnitude diferente de tudo o que já vivemos.
Não deu tempo para coach, mentoria, nem mesmo para ler o manual de instruções. Essa pandemia nos tem feito viver, literalmente, o presente, repensar o futuro e encarar nossa vulnerabilidade em relação a um passado no qual recorrer a velhas fórmulas talvez já não funcione. Muitas mudanças que estão acontecendo agora irão permanecer como novos hábitos e aprendizado dentro das empresas e em nossa vida. Novidades têm surgido com essa pandemia, e fazer com que as pessoas tenham perspectiva em relação à crise corrobora para que fiquem emocionalmente melhores.
E qual é o papel do CEO nesse processo? Fundamental. É necessário ter sensibilidade para manter o equilíbrio entre shutdown e cuidar das pessoas. E, para isso, conseguir comunicar de forma eficiente e transparente nunca foi tão importante e necessário. Enxergar como as coisas estão sendo feitas cria uma sensação de confiança e maior credibilidade neste momento.
Assim que a pandemia começou, lembrei-me do tempo desafiador em que, ainda no mercado financeiro, trabalhei em empresas de diversos segmentos, desde uma startup, onde vivenciei a gestão e a condução de negócios em um ambiente que nasce do zero, pautado em um crescimento exponencial, até empresas estruturadas com muitos anos de vida.
O exercício me obrigou a refletir e fazer anotações, conversar com colegas, recorrer a leituras alusivas ao tema “crise” e chegar a algumas conclusões que tenho tentado colocar em prática e divido aqui:
# 1. Não se isole. Neste momento, é preciso compartilhar até decisões duras. Mantenha feedbacks (comunicação periódica evita os ruídos do distanciamento). Engaje as pessoas da melhor maneira, no tempo certo, com a informação correta.
# 2. Fale com todo mundo. Não existe mais espaço para egos superinflados. Lembre-se de que você tem um time diverso: os excessivamente otimistas; os que simplesmente ignoram o momento; e os que sofrem calados (cada cabeça, uma sentença).
# 3. Aposte na transparência operacional.
# 4. Trabalhe com ciclos curtos de comunicação (cada semana, um plano de ação).
# 5. Forme grupos multidisciplinares de oportunidades, com diferentes perfis profissionais focados em inovação, para trazer soluções e liderar as mudanças.
# 6. Cuidado com o tom da comunicação. Quarentena não é briefing. Tenha bom senso. Sempre.
# 7. Crie o comitê “pode dar errado”. Trabalhar em uma versão beta, como a atual, exige um time de pessoas com olhar cirúrgico para cada trabalho que envolva temas sensíveis.
# 8. Aperfeiçoamento periódico. Aproveite o tempo a menos no trânsito para fazer aquele curso online sobre gestão que estava em seu radar. Liderança é uma pauta que sempre precisa ser reciclada, ainda mais em novos tempos.
# 9. Aposte em leituras que inspirem e que façam você sair um pouco da realidade. Uma dica: A Sombra do Vento (Carlos Ruiz Zafón). A obra conta a história emocionante de um rapaz que, por meio da descoberta de um livro, se aprofunda insistentemente na vida do escritor. A busca o leva ao amadurecimento por meio de revelações intrigantes que afetam de forma permanente a vida do personagem.
# 10. E, por fim, mas não menos importante, comece a reconsiderar clichês como “leque de opções”.
*Crédito da foto no topo: iStock
Compartilhe
Veja também
Técnica e estratégia
Ambiente estressado pela pulverização de opções de mídia e pelas mudanças de comportamento da audiência valoriza os profissionais especialistas na atividade, mas exige desempenhos mais fundamentados
Premiunização para avançar
Fazer leituras rasas dos cenários econômicos pode restringir oportunidades de negócios