Ideias negras importam

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Opinião

Ideias negras importam

O que você, que está lendo este texto, pode fazer hoje para começar a mudar esse cenário e fazer parte dessa transformação social agora?


29 de junho de 2020 - 16h05

(Crédito: champc/iStock)

Vamos voltar uns três meses atrás. Sente-se em sua cadeira da agência. Tome seu café, ligue seu computador. Pronto? Agora olhe para o lado direito. Para o lado esquerdo, para frente e para trás. Conte: quantos negros você viu? 56%? Acredito que não.

Agora, entre no metrô. Quantos negros? 56%? Acredito que sim. Essa é a porcentagem de pessoas declaradas negras no Brasil. No entanto, isso está longe de ser o número de pessoas negras em agências de propaganda.

E não só nas agências. Quer ver só? Quantos briefings você já pegou com um cliente negrx? Quantas vezes você apresentou sua ideia para um cliente negrx? Quantas vezes você filmou com um diretor negrx?

Não vou me estender aqui nos relatos preconceituosos que já sofri e nas dificuldades que tive por ser negro em minha carreira de publicitário. Posso deixá-los para um livro ou uma série de 30 temporadas.

Vejo esse espaço de fala como uma grande oportunidade de abrir portas para quem está chegando. E nós, pretos, não podemos perder nenhuma oportunidade, porque depois, para aparecer outra, é melhor esperar sentado. E no ponto de ônibus. Quem chegou um pouco mais alto tem que jogar a corda pro outro subir.

Portanto, meu papo é sobre a mudança do mercado na prática. O que você, que está lendo este texto, pode fazer hoje para começar a mudar esse cenário e fazer parte dessa transformação social agora?

Aos diretores de criação: em sua próxima seleção, comprometa-se a ver pastas de negrxs. Se não tiver pasta, bata um papo. Ouça sua história. Se a pasta não estiver no padrão que você espera, insista, afinal boas ideias podem vir de onde se menos espera. Dê atenção. Um pouco do seu tempo pode acelerar os passos de uma pessoa que está começando e que já está passos atrás dos concorrentes.

Mas não fale sem olhar nos olhos, como fizeram diversas vezes comigo. Sério, é constrangedor e para muitos pode significar o fim de um sonho e de uma promissora carreira.

Angela Davis enxergava as diferenças como fagulhas criativas que podem auxiliar a criar pontes de comunicação com pessoas de outros campos, outras realidades.

Também acho que Cannes e SXSW são cheios de referências e gente criativa. Mas já ouviu falar em Capão Redondo, Itaquera, Grajaú? É bem mais perto, muito mais barato e tem ideia boa rolando o ano inteiro.

E aí, vamos ir além de colocar um quadrado preto no Instagram e bora colocar mais pretos nos quadrados da sua agência?

Aqui estão alguns trabalhos para você conhecer e abrir as portas ou o Zoom da agência para conversar com alguns talentos negrxs:

www.behance.net/nazura

https://niltoliver.myportfolio.com

www.pcsantos.work

https://cargocollective.com/vitord

https://www.fabiomota.work/

https://iamvictor.cargo.site/

eduaraujo.com

be.net/zecadames

https://www.wellwaps.com/

https://readymag.com/u87871276/henriquecesar/

Quem sabe, quando tudo isso acabar, você vai voltar pra agência, tomar seu café e ver pelo menos 5% de negros a mais trabalhando e tendo ideias ao seu lado.

**Crédito da imagem no topo: Reprodução

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