Home-office: a empresa tem obrigação ou não de pagar?

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Opinião

Home-office: a empresa tem obrigação ou não de pagar?

DR de boteco une seguidores de ativistas e ouvintes de debates alheios na certeza de que concordar com o ponto de vista do outro não nos torna errados nem mais corretos: Isso se chama empatia


22 de julho de 2020 - 8h00

(Crédito: Undrey/ iStock)

A Petrobras foi obrigada a pagar pelo mobiliário, computador, luz e internet de 16 mil funcionários. No dia seguinte a decisão foi suspensa. E bastou um dia apenas entre a decisão e a suspensão para nascer um debate.

Confesso que prefiro participar das discussões quando acontecem em local mais apropriado. E muitos vão concordar: não há local mais indicado que uma mesa de bar para falar de religião, futebol, política e CLT. Porém, por uma causa justa e que apoio, a pandemia nos forçou a abrir mão desse privilégio.

Se para cada mesa de boteco fechado existem 1.327 posts sendo feitos sobre o futuro da humanidade ou sobre mamilos polêmicos, as redes sociais se assemelham a um grande bar virtual, onde pessoas embriagadas pela simples necessidade de ter razão batem boca com desconhecidos. E com a essa questão da Petrobras ser ou não obrigada a pagar pelos custos do home-office não foi diferente.

Estava eu em um desses bares virtuais da internet quando ouvi a conversa da mesa ao lado. Era um bar mais indicado para happy hours comportados, onde muitos fregueses são coachs e poucos entregam substância.

Zezinho, ativista de sofá sobre a vida dura dos empresários nas redes sociais e que já não sabia se tinha duas ou vinte cervejas na cabeça, precisava de um assunto polêmico para pedir a vigésima primeira saideira. Sem titubear arriscou lançar um dado criado pelo seu próprio departamento de Business Intelligence and Data Science Avançado para Redes Sociais e Botequins.

— Vergonha de ser brasileiro! A Petrobras vai ter que tirar do bolso uns 100 milhões por ano só para pagar a despesas “aaaa maaaaais” do pessoal que está em home-office. — Falou com cara de deboche e aspas no ar…como odeio aspas no ar!

Luís, bom parceiro de copo que é, estava a um chopp a frente de Zezinho. O pensamento, já lento para os outros, para ele parecia afiado. Suas ideias, consideradas pelos amigos mais humanas que as do Zezinho, estavam mais claras do que nunca.

– -Cacete, Zezinho! A Petrobras teve o maior lucro da história. Foram 40 BILHÕES em 2019! Além de não fazer diferença para eles, é obrigação, sim! Ou você acha que a gente tem que trabalhar para uma empresa e ainda pagar para isto?

— Ah, Luís! Lá vem você e seu pensamento comunista. Já pensou que o aumento do lucro da empresa talvez esteja garantido seu salário em dia? Ou que está evitando a demissão de algum coleguinha seu? E digo mais. Governo não deve se meter no mercado!

— Vai estudar, Zezinho! A decisão foi da justiça do trabalho e o processo foi iniciado por um sindicato. Não é Governo. Não sabe a diferença entre os três poderes? A empresa tem que pagar e pronto. Além de tudo é direito do funcionário!

— Caramba! Você só pensa a favor do funcionário. Já parou para pensar que ele não precisa mais gastar com roupas porque não precisa mais impressionar os colegas? Olha essa economia! Fora que tem pelo menos umas 3 horas a mais com a família e agora pode almoçar em casa. Comida caseira, Luís. Comida caseira todos os dias.

Um terceiro sujeito, sentado à mesa ao lado e entediado com seu amigo que não saia do WhatsApp, ouviu toda DR, fez umas contas de cabeça e se meteu na conversa.

— Olha só! A gente, empregado, está gastando menos com um monte de coisas. Meu ticket está sobrando, não gasto com o carro e estou conseguindo mais tempo em casa. Eu já tinha internet e a empresa me emprestou o computador que usava no escritório. Pagar tudo não é justo, mas fiz umas contas e acho que R$ 50,00 por mês seria um valor correto.

E aquele amigo entediante que ele julgou estar no WhatsApp, fechou o LinkedIn, onde procurava uma vaga de emprego, e, inconformado com tanto absurdo, também entrou na DR.

— Vocês são uns ingratos! Eu só queria ter um emprego. Com meu salário pagaria internet, parcelaria um notebook em 48x, trabalharia na mesa de plástico que tenho na cozinha e ainda teria dinheiro para ajudar nas contas da casa e a pagar a escola dos meus filhos.

Os embriagados se olharam, gargalharam e abraçaram o desempregado. E, depois de mais uma saideira, concordaram que seria “cool” – com aspas no ar – pagar sua conta. Afinal, acabaram de se tornar melhores amigos de infância.

Zezinho, Luís e o desconhecido colocaram o telefone na mesa de cabeceira e saíram do bar sabendo que o salário chegaria em breve. Já o amigo sem emprego, não. Continuou acordado em sua busca sem sucesso ainda.

Entre nós, seguidores dos ativistas e ouvintes dos debates alheios, surgiu uma nova certeza: Concordar com o ponto de vista do outro não nos torna errados. Nos faz mais corretos. Isso se chama empatia. Disciplina em falta hoje em dia. Saúde!

**Crédito da imagem no topo: Pexels

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