Tela Preta: os desafios e evolução da influência negra

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Opinião

Tela Preta: os desafios e evolução da influência negra

Luiza Brasil, idealizadora da Mequetrefismos, fala sobre o conteúdo de influenciadores negros em tempos de mudança nas redes


1 de setembro de 2021 - 6h05

(Crédito: Youngoldman/iStock)

O anúncio de que o Instagram não é mais uma mera ferramenta de fotos por parte de Adam Mosseri, chefe da plataforma, e algumas novidades divulgadas pela rede social como o aumento da duração do reels para 60 segundos é assunto entre creators e comunicadores que usam da plataforma como o púlpito para a suas ideias. Entre coreografias de músicas que encabeçam os top hits e dublagens de memes famosos, iniciou-se um debate, principalmente entre influenciadores racializados: como fica o espaço para a produção de conteúdo sobre questões raciais nesta rede? Como trazer a relevância do assunto adequado aos novos tempos da internet?

No Brasil, quando falamos em “redes sociais x representatividade”, esta conversa ensaia seus primeiros grandes alcances em 2014, quando começam a despontar nomes do universo digital como Nataly Nery, Gabi de Pretas, Spartakus e Magá Moura, além do uso certeiro por nomes da intelectualidade brasileira como Djamila Ribeiro, Joice Berth e Érica Malunguinho, que a partir de suas presenças no espaço digital lideram e personificam o que foi chamado de “geração tombamento”, um movimento que traz à tona o empoderamento negro e atualiza a conversa identitária no país. A pauta passa a crescer de maneira exponencial nas redes, ganhando novos protagonistas e atingindo audiências fora do nicho racial, o que atraiu os olhares de marcas e empresas sobre como atender as necessidades deste consumidor em potencial que após anos de invisibilizações passa a ganhar os holofotes da sociedade.

O ápice deste movimento foi em 2020, quando o mundo se viu sensibilizado diante do caso “George Floyd”, homem negro estadunidense morto brutalmente pela polícia. A postagem do “quadrado preto” em forma de luto e protesto ocupou o feed de famosos e personagens ilustres, negros e não-negros, como forma de se solidarizar com o #BlackLivesMatter ou #VidasNegrasImportam, movimento fundado em 2013, que se viu impulsionado pelo debate em escalas globais. No Brasil, inúmeras lives, take over de pessoas pretas em redes sociais de famosos e conteúdos sobre questões raciais pipocaram em nossa timeline para o deleite dos mais letrados até os menos iniciados em pautas como racismo estrutural, apropriação cultural e genocídio da população negra. Mas como toda onda produzida na internet, o interesse pelo tema passa a perder o frescor e vemos estes mesmos nomes que tanto deram aulas sobre uma das principais tensões socioculturais do país serem invisibilizados ao tratar de temáticas cotidianas que não sejam as raciais.

Será que todos nós não caímos na armadilha do caminho único do negro que fala apenas sobre racismo? Porque temos menos acesso e engajamento quando entramos em outras searas de segmento como moda, fitness e viagens? Qual é o nosso papel dentro das empresas para além de um escopo de entregas na rede?

A perda da relevância da conversa racial no Instagram, não reduz a importância do que ainda precisa ser dito e transformado dentro e fora do online. A finalidade das redes sociais sempre foi a de ser organismos vivos em constantes transformações que ditam o nosso comportamento. O que surge é a necessidade do flerte com novas abordagens para que tanto produtores de conteúdo quanto marcas engajadas em promover espaços mais igualitários desenvolvam trabalhos verdadeiramente comprometidos com a causa. Um reels de 60 segundos não é a forma final para resolução de todos os nossos problemas de igualdade racial. Porém, aproximar estes protagonistas para as mesas de conversa, cocriação e decisão para além de uma postagem e números estratosféricos de seguidores é o caminho legítimo de quem deseja uma comunicação consistente, certeira e que evolua com as premissas de pluralidade e pertencimento necessárias a este público.

Mais do que sermos peças facilmente descartadas do tabuleiro do marketing de influência precisamos “jogar o jogo”! Fazer do espaço nas redes sociais uma poderosa evolução do nosso empreendedorismo digital, trabalhando lado a lado com marcas e empresas na elaboração de estratégias e criação de formatos. Afinal de contas, a fórmula “um post e três stories” pode estar com os seus dias contados, mas o poder de mentes brilhantes e das ideias inovadoras e inclusivas, virou um caminho sem volta.

**Crédito da imagem no topo: Mariana Mikhailova/iStock

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