Lucro sem fins lucrativos

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Opinião

Lucro sem fins lucrativos

Sem resultado financeiro, não existe negócio, mas as crescentes discussões sobre sustentabilidade, responsabilidade social e governança mostram que o lucro é um meio e não finalidade da operação, cuja razão de existir vai além


14 de fevereiro de 2022 - 17h02

(Crédito: Rudall30/ iStock)

A empresa onde você trabalha existe para quê? Grandes corporações colocam a sua missão em uma placa bonita na recepção ou em uma aba pouco acessada no site. Longe de mim querer mudar essas frases, que provavelmente foram elaboradas por um de nós. Mas o que estou querendo saber vai além do que está escrito lá: se o seu negócio deixasse de existir, que falta ele faria?

Costumo dizer que hamburguerias não existem apenas para vender pão, carne e queijo. Realmente acho isso. Assim como acho que as farmacêuticas não são apenas fábricas de comprimidos. E nem as livrarias são apenas lojas de papel e tinta. Empresas são a forma como nos organizamos para satisfazer necessidades das pessoas. Qualquer um que se propõe a ser útil para os outros através de produtos e serviços pode começar a operar uma pessoa jurídica. Quem já abriu um CNPJ sabe que, no processo, é preciso definir claramente: qual é a atividade que você se propõe a fazer? E ainda: sua empresa vai ter fins lucrativos ou não? “Fins lucrativos” – está aí uma expressão que me intriga. É como se nesse momento você tivesse que decidir: tudo o que vai fazer tem a finalidade do lucro ou não? No mundo da contabilidade, os negócios se dividem entre esses dois grupos: os que nasceram para lucrar e os outros. Entendo a razão tributária, mas não dá para negar que isso confirma uma mentalidade de que empresas existem apenas para lucrar. E é aqui que o tema desse artigo aparece.

De certa forma, dizer que a motivo da existência de uma companhia é o lucro talvez seja equivalente a dizer que você nasceu apenas para ganhar dinheiro. Ou que um carro existe apenas para gastar combustível. Não me entenda mal: lucrar é muito bom. O superávit mostra que um negócio se sustenta e atrai interessados. O resultado financeiro positivo comprova a viabilidade do modelo, porque sem ele não existe negócio. Mas as crescentes discussões sobre sustentabilidade, responsabilidade social e governança mostram um novo olhar sobre isso tudo. E que deixa no ar uma sugestão: a inauguração da categoria das empresas que querem ter muito lucro, mas que não têm fins lucrativos. Não estou falando de uma ONG com fluxo de caixa positivo. Estou falando de empresas que entendem que o lucro, na verdade, é um meio e não a finalidade da operação. A sua razão de existir vai além. E é através dela que o real impacto vai acontecer.

Volto à pergunta inicial: se a sua marca desaparecesse do mapa, qual seria a principal saudade que ela deixaria nos clientes? E nos seus funcionários? Fornecedores? Investidores? Cada uma dessas relações é importante e mostra um papel que essa marca cumpre. Há algo que sua empresa é capaz de fazer e que as pessoas precisam que seja feito. Precisam tanto, que estão dispostas a recompensá-la comprando o que ela oferece. E a consequência disso é uma transação onde todo mundo fica satisfeito – tanto quem está envolvido na compra quanto quem está participando da venda.

Desejo que você lucre muito. E que use todo esse potencial financeiro para turbinar seu negócio fazendo a sua verdadeira missão acontecer. Aliviando dores, deixando as coisas mais práticas, dando acesso, proporcionando economia ou simplesmente colocando um sorriso no rosto dos seus clientes como ninguém mais conseguiria fazer. Se você reparar bem vai perceber que, no fundo, todos trabalhamos para, de alguma forma, melhorar a vida dos outros.

Muita gente está em busca de uma vida com significado. Trabalhar em uma empresa ou marca que tem uma missão com a que você se identifica pode ser parte dessa resposta. E não é que estamos conseguindo colocar propósito até no Marketing?

*Crédito da foto na topo: iStock

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