A eterna urgência de quem não salva vidas

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Opinião

A eterna urgência de quem não salva vidas

Fala de Albert Bourla, CEO da Pfizer, no SXSW, instigou reflexões sobre alguns pontos em comum com a rotina dos publicitários


4 de abril de 2022 - 15h01

Crédito: Halfpoint/Shutterstock

Depois de dois anos isolada pela pandemia e do cancelamento dos principais eventos presenciais, decidi ir a Austin para o SXSW. Poucos privilegiados brasileiros estiveram lá, porém, a quantidade de posts e artigos sobre o evento foi gigante. Como líder de três empresas, me peguei pensando: o que fazer com tanta informação, tendências e aprendizados quando você está de volta de um evento como esse?

Incrível como a conclusão de cada pessoa para a mesma palestra ou conteúdo pode ser completamente diferente. E esse ponto é fascinante para mim: trocas no WhatsApp e a colaboração entre os brasileiros elevou o evento, deixando tudo ainda mais relevante.

Acredito que por mais que você já tenha lido vários artigos sobre o SXSW, ainda dá tempo de acompanhar o meu ponto de vista sobre o evento. Ou melhor: minhas impressões especificamente sobre o papo com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, que falou sobre como foi desenvolver, testar e liderar um time sob pressão para criar uma vacina contra a Covid-19.

Fiquei impressionada com os principais pontos que ele apresentou sobre como desenvolver um novo modelo mental, ter uma gestão de projeto único e montar uma infraestrutura gigante antes mesmo de ter o produto (neste caso, a vacina). Soma-se a tudo isso os prazos super reduzidos de quem criou em meses um produto que levaria de seis a sete anos.

A partir da fala de Bourla, podemos fazer um paralelo entre sua estratégia e o nosso mundo da comunicação. Durante a pandemia, ficou mais latente a necessidade de nós como indústria revermos o nosso propósito e papel na sociedade.

Somos muito relevantes, nosso trabalho posiciona marca, lança produtos, engaja consumidores, vende. Nossos clientes geram milhões de empregos. Porém, não salvamos vidas literalmente, como foi o caso da vacina. E por que estou falando disso?

Desenvolver um novo modelo mental. Gestão de projetos. Infraestrutura gigante sem visibilidade de receita. Prazos reduzidíssimos. Como Albert Bourla entrega no título do seu livro: Fazer o impossível possível. Alguma semelhança?

Fiquei refletindo sobre como a nossa indústria, que não tem a função de salvar vidas, muitas vezes se comporta dessa forma. Estamos num círculo de pressão por excelência, inovação e entregas com prazos mínimos que nos colocam no limite do balanço entre bem- estar versus entregas.

É nesse momento que vai por água abaixo toda a inovação, tendências e aprendizados que vi no SXSW. Se não revermos nossos modelos de trabalho, entrega e remuneração, estamos fadados a ser a pior indústria para nossos colaboradores.

Pare e pense: quantas ou quantos colegas de trabalho deixaram o mercado em busca de qualidade de vida?

Parece que entramos numa roda em que tudo é urgente, tudo é para ontem e não conseguimos decidir mais o que é realmente urgente, não sabemos mais diferenciar a exceção da regra. Estamos perdendo grandes talentos por excesso de horas trabalhadas, falta de propósito e prioridade.

Mais que aprendizado, fico com a convicção de que é preciso mudar. Nossa indústria não tem a função de salvar vidas e precisamos rever urgentemente nossas parcerias e modelo de trabalho, para continuarmos sendo cada vez mais relevantes e fazendo a diferença na sociedade e para nossos clientes, como sempre buscamos fazer. Todo mundo sai ganhando. Hora de repensar.

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