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Opinião

Fura bolhas

Mesmo gerando potências criativas, periferias brasileiras ainda enfrentam preconceitos nos processos de seleção e promoção de talentos na indústria de comunicação


9 de maio de 2022 - 15h00

09 Crédito: Divulgação/Facebook Iza

Do samba ao funk. Do “Punk da Periferia”, de Gilberto Gil, do início dos anos 1980, ao recente “Gueto”, de Iza. A música é pródiga em exemplos da potência dos talentos que surgem afastados dos centros decisores da cultura midiática, mas que conseguem se impor.

No mercado de agências, as desculpas para a não inclusão da periferia, que vigoraram por muito tempo, alimentaram o círculo vicioso da responsabilização à suposta formação precária fora das faculdades de ponta e à hipótese de diminuição no padrão de qualidade das contratações, que, assim, são dificultadas, alimentando um jogo hegemônico de privilegiados que expele quem mora longe, tem um repertório cultural diferente, padrão socioeconômico inferior e, principalmente, a população negra.

Para contrapor o argumento, o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, defende que a inclusão e a diversidade elevam o nível das contratações: “Quem você prefere ter na sua empresa, uma pessoa capaz de se virar ou alguém que sempre recebeu tudo de mão beijada?”, questionou, em entrevista recente ao Meio & Mensagem.

Embora o Brasil conviva com contrastes inaceitáveis, as distâncias entre a favela e o asfalto podem estar diminuindo na indústria de comunicação, com os estímulos ao aumento na quantidade de programas de diversidade e inclusão. Entretanto, essa ainda é uma trajetória que esbarra em preconceitos que ajudam a invisibilizar a periferia, como mostra a reportagem de Giovana Oréfice, nas páginas 28 a 32. Seus entrevistados debatem os entraves desde os processos de contratação, muitas vezes viciados, até o desenvolvimento das carreiras dentro das empresas, que tem velocidades médias díspares para elites e desfavorecidos.

Esta é a segunda reportagem da versão 2022 do projeto Talento. No lançamento, em março, o especial tratou do êxodo de profissionais da indústria e da necessidade de as empresas qualificarem suas gestões, estruturas e benefícios para as equipes, diante da acirrada concorrência de startups e players de tecnologia por mentes criativas, que, muitas vezes, colocam propósito e a cultura interna como pilares tão ou mais importantes do que o salário. O conteúdo está disponível no site (talento.meioemensagem.com.br) que consolida todo o projeto multimídia, incluindo a segunda temporada da série em vídeo Mentoria Express, exibida no TikTok e nos Stories, do Instagram.

A partir de experiências vividas em suas trajetórias, os cinco protagonistas dão sugestões e apontam caminhos para quem pretende seguir carreira nas áreas de criatividade (Deh Bastos, da Publicis), mídias sociais (Marina Morena, da Map Brasil), inovação (Inaiara Florêncio, da Galena), entretenimento (Zeca Camargo, da Band) e marketing (Poliana Sousa, da Coca-Cola).

O projeto Talento tem o propósito de reconhecer e dar visibilidade a pessoas que estão impulsionando a indústria brasileira de comunicação, marketing e mídia. Neste ano, será encerrado com a publicação da inédita lista Game Changers, de transformadores que estão conseguindo ajudar a indústria a mudar o jogo, transpor obstáculos para colocá-la na vanguarda da evolução do mundo do trabalho e do empreendedorismo, elevar seus padrões éticos e tornar a inovação possível.

Abrir caminho para o crescimento transformacional, causando impacto cultural sobre os negócios e modernizando estruturas arraigadas, é penoso. Quando se consegue, influencia-se positivamente a cadeia produtiva a pensar diferente, assim como ocorre quando se instala a diversidade em um ambiente de trabalho. No caso da comunicação, soma-se possibilidade de relevância e aderência à maioria da população brasileira às mensagens das marcas. No ambiente corporativo, abre-se a mente para a cultura de inovação, que prolifera mais onde há terreno diverso e destemido na quebra de paradigmas.

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